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terça-feira

UM OLHAR SOBRE O NATAL (II)


Ao olhar o natal a partir de uma leitura dos evangelhos, por mais simples que seja essa leitura, percebe-se a força de certos valores. Alinho apenas alguns exemplos: amor, justiça, paz, alegria – celebração.
Daí, nesse natal, meu pensamento se debruça sobre as experiências familiares. Os membros dessa comunidade são concretos e íntimos. Suas máscaras são mais leves e seus seres mais desnudos. Portanto, salvam-se apenas os valores realmente construídos e os que realmente resistem. Para os membros da família os papeis sociais não são tão relevantes como o são para a sociedade externa, principalmente considerando o nível de poder onde atuam socialmente seus integrantes. São fundamentais apenas os papeis consagrados culturalmente: de pai, de mãe, de filhos, de avós etc.
Nas famílias, onde os valores acontecem por formação e construção conscientes, o amor, como conceito representativo de entrega, de solidariedade, de respeito e tal, sempre de modo “mutualizante”, o natal é constante. Mas é constante como modelo médio ou acima das comparações na prática da justiça e da conseqüente paz. Por exemplo: os serviços domésticos são exercidos por todos e não apenas pela mulher, da mesma maneira que a luta pela sobrevivência é vivenciada pelo homem e pela mulher. O natal, como realização cotidiana do amor, passa pelo diálogo. Este é o caminho mais eficiente da realização do amor: casais e filhos que se amam dialogam. Muitas vezes o diálogo expõe dores, mal-estar, limitações, contradições etc, mas também é o único caminho que sobra entre o autoritarismo, o machismo, as imposições e juízos aniquiladores. Amar dialogicamente dispõe as pessoas a ser verdadeiras e honestas. Assim se tornam mais genuínas nos seus sentimentos e formação ética. Dialogando, as pessoas constroem campo comum nas relações. Desde este campo mediador de conflitos e de possibilidades, criado pelo diálogo, os membros familiares encontram abertura suficiente para debater dificuldades, angústias e propor soluções apoiadas e suportadas por todos. Nesse contexto, os conflitos vêem a tona e mostram impasses entre o que os membros da família pensam uns dos outros e como podem dispor de recursos humanos em cada um e em todos para superar obstáculos e construir saídas. Ousaria afirmar que sobram muito mais potenciais de bom relacionamento na família do que menos, quando o amor se traduz pelo diálogo. A diálogo é altamente educativo e corretivo. Mas em se tratando de diálogo mesmo e não confusão com bate boca e xingamentos desrespeitosos, marcados por gritos, ofensas, no dizer o que bem se entende, sem a capacidade de escutar os outros e suas verdades.
Perdoem-me pela nostalgia e pelas experiências pessoais, mas em todos os natais com minha família amava o processo todo de preparação da ceia, que começava dias antes, com a participação de todos. Na organização da mesa cada um fazia sua parte, vivenciando a emoção da partilha. Ao sentarmos refletíamos em torno de um texto bíblico, contando com o debate de todos e depois orávamos. Cada parte dos corpos de meus filhos me encantava, mas o que mais me entusiasmava eram as mãos deles. A cada celebração anual familiar natalina eu percebia que as mãos dos meus filhos se mostravam crescidas e transformadas, reflexos de suas próprias vidas em processo de transformação. Porém, sempre tive consciência de que a celebração natalina era seqüência de um ano e de anos anteriores de trabalho e cooperação e não um evento isolado.
Sei que meus filhos se reunirão na noite de 24 de dezembro. Sei que eles dialogarão em torno da mesa e sei que orarão por mim. Sei que eles dialogam sempre e organizam suas vidas em torno desse processo. É nesse natal que eu creio. Creio no natal do amor verdadeiro, da construção de relações de justiça e na construção da paz. Esse natal transcende os vulgares e pobres “feliz natal” e “feliz ano novo”, que não dizem nada e revelam falta de qualidade profunda nas relações na família e na sociedade. No natal dialógico eu vejo Jesus, não o menino infantil das falas despreparadas e superficiais de muitos padres carentes, mas o Jesus adulto e construtor do Reino de Deus, aqui e agora. Creio no Jesus adulto que me projeta na construção de uma família, passando por toda uma gama de crises, ataques, telefonemas anônimos, julgamentos diabólicos e tentativas de fragilização de minha pessoa e de minha família, mas vencedor através do diálogo com quem realmente sabe dialogar, ensinando e aprendendo. Creio no Jesus que vem a esse mundo para nos ensinar a amar e a servir, mesmo que tenha que se investir muitas horas de diálogo e de lutas para reverter situações adversas e reforçar laços de amor. Creio nesse natal...

Dom Orvandil: Bispo Cabano, Farrapo, Quilombola e Republicano.

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