Querida aluna Lohayne
Escrevo-te pela segunda vez porque refletirei contigo a
partir e em torno da mesma lamentável personagem sobre a qual te escrevi na
primeira, Joaquim Barbosa.
Ontem o Brasil conheceu a feliz decisão deste senhor, a de
deixar a Presidência e o Supremo Tribunal Federal, lugares que ocupou por
engano e falta de competência da assessoria do ex Presidente Lula, induzindo-o
ao erro ao nomeá-lo para ser sabatinado pelo Senado Federal.
Não é fácil, mas também não é impossível remover um tirano
que se ocupa de um poder legítimo para exercer o autoritarismo truculento.
Desde as primeiras manifestações JB demonstrou má e
equivocada formação humanística para exercer a justiça. Portou-se como o
autêntico “profissional”, que age cega e irracionalmente no cumprimento de
regras e de imposições de quem nele manda, como verdadeiro joguete de forças
fora do Supremo Tribunal Federal.
Joaquim Barbosa agiu com frieza e inapropriadamente na lida
com a justiça. Sem suficiente formação jurídica, como criticam os que entendem
de direito, débil de conhecimento social e político, seus atos foram frutos de
um coração amargo, carregado de ódio e de vingança, de uma razão
superficialmente alimentada, de um rosto amarrado e de gestos duros, demonstrou
não compreender que antes de julgar deveria amar as pessoas e a justiça, já que
esta nasce do amor ao próximo e à verdade.
Joaquim Barbosa - ferindo fundamente as bases da justiça -
usou o posto de ministro – do grego diácono, aquele que serve as mesas dos
necessitados e injustiçados – e de presidente (neste caso com “p” minúsculo”) para
julgar sem provas e até para escondê-las, com o objetivo de negar direitos
básicos a quem contemplou com seu ódio e com o cumprimento das ordens de quem
nele mandou, fora do tribunal, como se denunciou amplamente, sem necessidade
agora de escrever sobre isso.
O ainda indevidamente presidente do STF, no desempenho
desbragado do autoritarismo, fez espetáculo de seu cargo, agindo como ator
desqualificado e incompetente. O canal de TV da Justiça, um órgão estatal,
portanto, do povo brasileiro, foi usado por aquele algoz como meio para
aparecer e projetar-se destilando o ódio que caiu em rede nacional e mundial,
dando material para os jornalões, para as revistas conservadoras e das páginas
e telas sangrentas alimentar atitudes, discursos e desrespeito promovidos por setores
absolutamente atrasados e perversos, ainda influentes na sociedade brasileira.
Porém, aqui na minha insignificância de lutador de planície,
querida Lohayne, eu sentia e pensava que nada é eterno, até mesmo a destruição
do ódio gerado por uma pessoa que errou o caminho e tomou o bonde do diabo.
Esse equívoco traiçoeiro de sua história deixei claro na minha carta e reflexões, que explodiu
nacional e internacionalmente, repercutida por grandes blogs e sites, juntando-me a tantos que denunciavam pela internet a barbárie no STF, alimentado fartamente pelos holofotes da mídia dos poderosos, os mesmos que faturam milhões de reais do poder público, malversando o dinheiro do povo.
O ódio nunca aparece numa pessoa num repente quando ocupa um
cargo de expressão. O ódio aparece mais quando a pessoa que odeia se expõe
mais, porém deixa rastros nos passos rancorosos dados anteriormente. Em todos
os atos provocados pelo ódio há uma linha invisível que os liga e os acumula, formando
um padrão de leitura e de percepção, rico para a análise psicanalítica e
psiquiátrica.
Joaquim Barbosa sempre agiu com ódio. Não foi rancoroso e
vingativo somente quando escondeu provas que lançariam luzes sobre o alarmado e
propagandeado “mensalão do PT”. Não foi somente rancoroso quando negou o
direito consagrado de réus a quem odeia de ser julgados em instâncias anteriores
ao STF, como possibilidade de revisão de penas e do debate democrático sobre
pessoas tão importantes e históricas no Brasil. Foi odioso ao desrespeitar e
afrontar colegas seus no tribunal somente porque “ousaram” discordar dele, como
aconteceu com o Ministro Luis Roberto Barroso. Como um déspota confundiu a
emanação da justiça, que só se aproxima da verdade quando construída
coletivamente, substituindo a democracia pensando-se como único capaz de julgar absoluto acima de seus
pares, principalmente dos que se orientam por inspirações diferentes das suas.
Na senda do ódio Joaquim Barbosa perdeu a sensibilidade sobre
o lastro social de suas próprias raízes, esquecendo-se da história de
preconceitos de seus irmãos negros, tão barbaramente massacrados pelos
preconceitos em nosso País, que eles constroem a duras penas desde a primeira
hora do Brasil. Paulo Moreira Leite conta em sua coluna uma coisa estarrecedora
sobre esse descompromisso de Joaquim. Pessoas a quem odeia e persegue
lutaram por sua indicação ao STF movidas pela grandiosa razão que ele se esquece,
a negritude. Esquece-se da barbárie que nega a grandiosa humanidade dos negros
ao ponto de mantê-los amordaçados e marginalizados em relação ao poder. Conta Paulo Moreira Leite: “O diretor do Banco do
Brasil Henrique Pizzolato (condenado a 12 anos na AP 470) foi procurado para
dar apoio, pedindo a Gilberto Carvalho que falasse de seu nome junto a Lula.
José Dirceu (condenado a 10 anos e dez meses, reduzidos para sete contra a
vontade de Joaquim), também recebeu pedido de apoio. Dezenas – um deputado
petista diz que eram centenas – de cartas de movimentos contra o racismo foram
enviadas ao gabinete de Lula, em defesa de Joaquim. Assim seu nome
atropelou outro juristas negros – inclusive um membro do Tribunal
Superior do Trabalho, Carlos Alberto Reis de Paula – que tinha apoio de Nelson
Jobim para ficar com a vaga.” As pessoas a quem Barbosa odeia enxergaram a alma
do nosso povo, por isso apostaram que o juiz negro ocuparia de maneira digna o
cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal.
No plenário do Senado Federal duas mulheres se rebelaram
contra os maus tratos impetrados por Joaquim Barbosa contra uma mulher, sua ex-esposa.
Se duas ex-militantes do PT cumprissem a ameaça de subir às tribunas, Heloísa
Helena na do Senado e Luciana Genro na da Câmara Federal para denunciá-lo de
violência contra a mulher, a aspiração de Joaquim se sepultaria para sempre. Porém,
um dos homens atingidos por seu ódio socorreu o futuro ministro do STF sob a
argumentação de que o que estava em jogo eram as injustiças dos preconceitos
contra os negros. Continua no mesmo artigo nosso grande jornalista PML, que me emociona
ao referir-se ao trabalho visionário em favor da justiça social do impoluto então
Deputado José Genuíno: “Argumentou que a indicação representava um avanço
importante na vitória contra o preconceito racial e convenceu as duas
parlamentares. (Dez anos depois desse gesto, favorável a um cidadão que sequer
conhecia, Joaquim formou sucessivas juntas médicas para examinar o cardiopata
Genoíno. Uma delas autorizou a suspensão da prisão domiciliar obtida na
Justiça).”
Por todas as razões que o levaram aos umbrais da suprema
justiça Joaquim Barbosa também caiu: por ser injusto com a verdade, com a
justiça e ingrato com quem acreditou e investiu nele; com quem apostou na luta
contra as injustiças aos negros, às mulheres e aos pobres.
Joaquim Barbosa começou a resvalar para a vala lamacenta dos
traidores desde que pisou nos caminhos da justiça até chegar à Presidência da
Suprema Corte. Mas caiu definitivamente quando este insignificante lutador o
enfrentou daqui da trincheira deste blog. Quando te escrevi pela primeira vez o
post intitulado “JoaquimBarbosa é uma chaga social violenta e malcheirosa “, e que ficou neste blog
por dias sem a menor repercussão, a minha amiga Lili Abreu o postou no seu blog
“A Justiceira de Esquerda”, para depois
repercutir nos grandes sites, os mais sérios e competentes, o chão de Joaquim
Barbosa rachou definitivamente. Logo a seguir alguns de seus amigos da Veja e
da Folha de São Paulo me responderam e, sem querer, ajudaram a incendiar sua floresta
infestada de injustiças. O próprio Joaquim Barbosa acessou este blog por várias
vezes, como percebi no verso onde se situa a estatística.
Depois Miruna protestou contra as arbitrariedades de Joaquim
Barbosa ao desrespeitar os direitos de seu pai Genoíno à prisão domiciliar por
causa de sua grave cardiopatia. Sua voz feminina ecoou de certa forma a
violência sofrida pela ex-esposa de Barbosa. As mulheres ajudaram a afastar do
campo da justiça quem pratica a injustiça.
Por fim, somente agora, a CNBB – Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil – através de nota
denunciou o espírito vingativo de Joaquim Barbosa alegando que isso gera vinganças e violências na sociedade.
Os bispos levantamos a voz profética que denuncia a injustiça e propõe justiça
social, a legítima vertente de todos os atos justos. Enfim, são reforços para a marcha promovida pelo MST e pelos movimentos sociais, neste dia 29 de maio, à frente da STF para exigir de Joaquim Barbosa o cumprimento da lei e o respeito aos direitos humanos.
Felizmente, Lohayne, os injustos não são eternos e suas
injustiças não perduram. No que fazia,
Joaquim Barbosa ameaçava a democracia e excitava o fascismo golpista. Que bom
para o Brasil e para o povo que se vá!
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, também
nessa situação.
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