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terça-feira

A rede destrutiva dos laços sociais e o vazio político






Amigo Vidigostki


Nesses últimos dias experimento nos olhos, ouvidos e emoções o peso do bombardeio do ódio. 


Li há pouco com interesse a pesquisa que Fábio Malini fez no Facebook. Seu levantamento foi em torno dos links entre policiais que se aferram à violência como mediação social para “resolver” problemas entre bandidos, negros, pobres, manifestantes, homossexuais e outros seguimentos, todos classificados superficial e rancorosamente como marginais. 


Malini descobriu naquela rede social cliques entre páginas de policiais que se rebelam com o movimento pela desmilitarização da polícia e pessoas ou grupos neonazistas que sinalizam muito ódio e sede de sangue nas palavras e nas promessas de crimes contra cidadãos carentes de justiça social. 


Experimento isso a partir de certos artigos e de temas que abordo aqui. O que escrevi descascando o desastre que é Joaquim Barbosa, que repercutiu nacionalmente rendendo-me entrevistas de jornais, de rádio e de TV, recebeu de muitos que não gostaram reações extremamente violentas e até ameaças graves. Os detratores encheram muitas páginas nos sites Brasil 247, o Cafezinho, Palavras Livres e tantos outros desferindo ofensas e até inverdades grosseiras contra mim. Impressionante e estonteante.


Assim muitos internautas procedem com relação a todos de quem não gostam. Seus escritos demonstram pobreza intelectual e baixíssimo nível racional, tal é a precariedade linguística do que escrevem. Não respeitam lideranças queridas do povo, autoridades públicas nem a verdade. Dizem quaisquer coisas que lhes vêm à  mente indigente.


Vejo no Facebook campanha cerrada de direita. Há inclusive sacerdotes fazendo campanha do ódio e mentindo com irresponsabilidade clamorosa. Uma das maneiras que usam é de tocar adiante banneres prontos e desconexos, sem criticidade e respeito pela veracidade com que os tais afirmam.


Porém, esse fenômeno que se projeta no Facebook, cada vez mais uma ferramenta cansativa de se lidar, é o que acontece nas relações cotidianas, sob os porões do poder econômico. 


Refiro-me à violência de que professores são alvos em salas de aulas, com alunos transgressores das boas relações. A coisa é tão violenta que quando muitos desses professores buscam cursos de especialização e de extensão levam para as salas de aulas trabalhadas por outros de seus colegas e, agora na condição de alunos, agridem e desrespeitam tanto quanto o são quando exercem suas atividades docentes. Incoerência e indigência ética. 


Os pais dos alunos quando se dirigem às escolas também são muito violentos e desrespeitosos com os professores, coordenações e direções escolares. 


Parece que o ódio funciona não somente nas redes sociais, mas em forma de redes reais onde as pessoas deveriam ser gentis, generosas e respeitosas. No espaço escolar esvazia-se o dom educativo da cooperação para dar lugar ao ringue de brigas e desavenças.


Outro lugar revelador da dor psicológica do ódio é o trânsito, verdadeiro inferno por onde desfilam pessoas maltratadas às multidões. Aí, então, não há necessidade de muita faísca para se levantar incêndios de brigas e de mortes. 


Fábio Malini, na mencionada pesquisa, identifica como uma das causas a despolitização. Concordo.


Nesse campo até mesmo pessoas ditas cultas se emaranham em confusões. Com raiva e de dedos em riste chegam até a apontar em direção aos endereços institucionais onde atuam os tais “políticos”. Rasas na formação não sabem ou esqueceram de que todos os cidadãos somos políticos. Todos participamos da cidadania. Todos somos envolvidos socialmente com os problemas e pressões por soluções. Os mal formados acusam como “políticos” as pessoas que exercem cargos eletivos nos legislativos e nos executivos,  onde desempenham  os papeis para os quais se elegeram. Isso é parte da ação política de todos e não o esgotamento do sentido político. 


A despolitização, a meu ver, é tão assustadora ao ponto de os cidadãos abusarem da noção da representatividade política por parte de parlamentares e executivos. Esse abuso esvazia os cidadãos de sua responsabilidade como militantes.


Uma das causas dessa desfiguração política, que mutila a alma dos cidadãos, provem do abandono a que os partidos relegaram seus filiados e militantes. Caciques (no mau sentido do termo) de todos os partidos prostituíram os estatutos partidários e passaram a ocupar todos os poderes que deveriam caber aos associados. Dois ou três tomam conta do partido, seja de direita ou de esquerda, e largam pelo caminho os filiados. Estes não encontram espaços nem audiências por parte dos donos partidários para agir. 


Do ponto de vista da esquerda isso é grave. Os partidos eximem-se da missão da formação de sua militância e de buscar o povo nas ruas para ocupar os quadros partidários e construir a consciência cidadã e política. Não há mais uma cultura política. Resultado: em momentos de embates e de crises as pessoas não dispõem de ferramentas de análise para enfrentar quaisquer discussões de ideias e da realidade, caindo na violência verbal e até física.


Outra causa mais remota é a falta de formação humanística por parte das instituições de ensino médio e superior, acentuadamente a da rede privada. Essa virou um mercado de negócios educacionais cujos interesses gravitam centralmente em torno de resultados que se reflitam nas tesourarias, de onde os proprietários retiram dinheiro para comprar propriedades como fazendas, chácaras e luxo para seus familiares. O tecnicismo cinicamente revestido de formação profissional faz com que das salas de aulas saiam “profissionais” que nada sabem de gente, de relações sociais e de compromissos políticos em face das pressões por mudanças. 



Vejo no Facebook, como vejo em toda a parte, gritantes analfabetismos. Nossa língua é esbanjadamente desrespeitada porque escrita por analfabetos funcionais arrogantes que nada sabem a não ser ofender e a considerar o que não entendem. Impressionante: há pessoas que escrevem tanta coisa errada como se fossem as maiores e intocáveis verdades. Os erros de pontuação, de vocabulário mínimos como maiúsculas para nomes próprios, para início de frases etc, como erros conceituais gritantes por parte de pessoas autoritárias são abundantes, sem a autocrítica de quem escreve. 


Contudo, sem esquecer, uma das fortes causas da violência nos tratos sociais e no empobrecimento afetivo parte da direita incrustada nas instituições policiais, judiciais – veja-se como Joaquim Barbosa trata seus pares – e, principalmente na mídia com seu complexo de filmes, novelas e noticiário, notadamente os programas policiais, onde jorra violência e maus tratos das pessoas. Daí para destruir as mulheres, os negros, os homossexuais, indígenas etc é consequência. 


Soluções para isso é enfrentar um processo de educação como nós da Ibrapaz faremos logo a seguir. Lançarmos-nos-emos numa caminhada em busca das multidões. Formaremos grupos a partir de Goiânia, de Goiás e nos estenderemos pelo País na cultivação dos direitos à justiça e à paz em nosso povo. Formação prática e teórica se fazem necessárias para libertar o povo do ranger de dentes para atitudes consequentes e respeitosas com os que se encontram na mesma situação.


É preciso continuar nesse debate.


Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.

Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, em todas as situações.

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