Menning e Snowden
Querida
amiga Professora Yolanda Soares Azambuja
Sinto emoção indescritível em te reencontrar, minha grande
amiga. Ontem te disse o quanto te admiro por tua grandeza em enfrentar todas as
adversidades e injustiças inimagináveis que uma mulher pode suportar para criar
seus filhos. Saíste do abandono após terminar teu curso de Belas Artes pela
Universidade de Passo Fundo e te dirigiste à Uruguaiana com todos os filhos
pelas mãos, sem descuidares de nenhum detalhe no cuidado deles. Lá enfrentaste
obstáculos sem fim para ergueres tua escola de educação artística, apesar de um
tempo e num contexto capitalista que mata almas e artes. Lá tentaram te
desanimar e triturar tua alma poética de criadora do mundo, de um mundo humano e
feminino, marcado pela audácia de uma mulher morena e heroína. Lá perdeste dois
grandes amores tragados pela morte. Talvez a maior de todas as dores, a de
perder tua amada filha Rosana. Meu coração dói desde essa madrugada quando me
contaste sobre a perda daquela que conheci criança, plenamente amada por essa
mãe guerreira.
Pois é, continuaremos nossas infindáveis conversas. Hoje e
aqui, pensando em muita gente que lê este artigo, tomo como ponto de partida
outra grande mulher, sobre quem também já escrevi aqui. Um brilho de ser
humano, de mãe, de profissional, de cidadã, de filha e de tudo que se possa
imaginar. Pensa numa pessoa rodeada de admiração e prestígio: é ela. Ela é
muito importante para mim, também uma heroína e exemplo, como despretensiosamente
são os heróis. Estes não buscam lauréis quando amam a vida e ao próximo, apenas
são amados como heróis.
Essa grande mulher me enviou um e-mail precioso e nele descreve
sua impressão e até sobressalto com o alto nível ético de fidelidade e
dedicação de seu filho ao amor de sua vida, uma universitária como ele. Como os
heróis, a mulher que admiro é humilde ao pensar que ele vai muito além do que
ela lhe ensinou, ao ponto de despertar nela saudável inveja.
Vivemos e lutamos em um mundo social cercado de canalhas e
traidores. A situação é tão grave que se tem a impressão de que ninguém presta.
Policiais que deveriam nos proteger nos traem, nos agridem, nos corrompem e nos
matam como o fizeram com Amarildo, um trabalhador do Rio de Janeiro. Certos
parlamentares se rebaixam a pressões e cedem aos vendilhões de votos e de
projetos, traindo-nos nas instituições destinadas a servir ao povo.
Governadores, como os de Goiás, São Paulo, Minas, Paraná, Rio de Janeiro e
outros amigos da Globo e seus protegidos, manipulam dados e roubam enchendo seus
cofres no estrangeiro com o dinheiro público, traindo-nos quando deveriam
servir ao povo em seus cargos eletivos. Alguns bispos, padres, pastores,
cardeais e missionários usam o “sagrado” para iludir, mentir e sacanear a boa
fé popular também arrancando-lhe indulgências para comprar aviões, carros
luxuosos, mansões, TV e rádios, traindo o projeto libertador de Jesus. Por
isso, fui perseguido por dois bispos que me odiavam e alegavam que eu queria
aparecer porque lutava com o povo. Um filhote de catedral e de madame armou
contra mim, jogando a mensagem evangélica lá para os quintos. O imperialismo
americano usa sua influência poderosa no mundo para destruir cidades, povos e
nações, por pura ganância por acumular os bens da terra que deveriam ser para
todos e de todos, mesmo que, em consequência, produzam as guerras, a fome e a
morte de populações inteiras. Donos de escolas usam a ensino para se locupletar
com os lucros na compra de fazendas e de luxo para seus familiares, mentindo que
amam a educação, portanto, traindo crianças e jovens. Médicos fazem juramentos
de proteger e defender a saúde do povo e depois viram playboys no uso da saúde
como fonte de enriquecimento a custa das doenças e mortes do próximo.
Portanto, a mulher heroína que me escreveu, como também o és,
tem toda a razão em inebriar-se com seu filho. A beleza moral dele e da
juventude é sinal de esperança. O novo que tanto buscam corre pelos leitos
históricos do que a humanidade busca: a justiça e a verdade transparente. Sua
busca é como o gesto de enfiar as mãos por debaixo da borrasca para encontrar lá no fundo o impulso
puro de dignidade.
É nesse sentido que é encantador olharmos várias vezes e incansavelmente
para três jovens que dominam a atenção internacional, hoje. Certamente três
rapazes que enchem de orgulho aos seus pais, mães e aos seus compatriotas de boa vontade, enquanto sofrem com a
perseguição que os poderosos jogam sobre eles, distorcendo suas imagens com
mentiras e tribunais espúrios. Refiro-me a Julian Assange, preso numa embaixada
do Equador em Londres. Esse moço merece respeito por denunciar continuamente
com provas as atrocidades dos poderosos, principalmente dos Estados Unidos
contra os povos, a democracia e os direitos humanos. Tão jovem, mas tão
aferrado à justiça e à corajosa denúncia contra os inimigos. O segundo é Bradley
Menning. É um jovem militar americano que “serviu” (foi usado) ao Exército dos
Estados Unidos na opressão e matança de civis desarmados e inocentes do Iraque e
do Afeganistão em 12 de julho de 2007. Conta que os crimes foram cometidos com
prazer por parte de militares americanos da força aérea, que gritavam palavrões
contra o que chamavam de mortos malditos, sem o menor respeito à vida humana. E,
finalmente, é exemplo outro jovem americano, Eduard Snowden. Este jovem denunciou
crimes insanos e insuportáveis a alguém sensível, respeitoso e inteligente como
ele, praticados pelo governo estadunidense. Mentirosamente, em nome de supostas
agressões contra o poderoso império, o governo americano espionava a
privacidade dos cidadãos estadunidenses e de todo o mundo. Isto é, Yolanda, os
e-mails que enviaste, os bate papos pelo Facebook e as ligações telefônicas caíram
na escuta e no desrespeito à privacidade de Obama, da CIA, do FBI e do Pentágono.
Nosso governo brasileiro e inúmeras personalidades brasileiras foram grampeados,
tudo com interesse na nossa Amazônia, nos nossos alimentos, nas nossas terras,
no nosso petróleo, especialmente no nosso pré sal. Felizmente, lá estava no seu
posto o gênio mental e ético, o jovem, com cara de rapazinho, Eduard Snowden,
que percebeu a falta de respeito à liberdade e privacidade dos cidadãos e
denunciou tudo, colocando os Estados Unidos e sua arrogância em seríssimo
constrangimento.
Como pergunta sempre o meu amigo Dom Jorge: “entendeu?” Esses
três jovens, filhos maravilhosos de pais e mães a quem ultrapassaram, até por
atuarem em cargos elevados, na verdade lutaram contra o atraso das guerras, das
disputas e concorrências que destroem, e do desrespeito desumano e
desumanizador, produtos do capitalismo e do neoliberalismo absolutamente
podres.
Concordo com a mulher heroína, a juventude é maravilhosa e
inspira esperança, apesar da podridão desse sistema velho e carcomido. Os
jovens que não se deixam destruir pelas máfias dominantes desse mundo
capitalista são enormemente belos e ricos de coragem para denunciar e mudar o
mundo. Aleluia!
Abraços críticos e fraternos em homenagem a essa juventude
linda.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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