Querido Prof. Márcio
Neste sábado, dia 13 de abril de 2013, preparei meu chimarrão
e coloquei na garrafa térmica galinhos de erva cidreira, muito boa para
acalmar, enchi-me de paciência e fui à frente do televisor para assistir o “pregador”
Silas Malafaia. Ao assisti-lo senti um misto de náuseas com acessos de risos
quase descontrolados. O pastor ricaço - conforme a Revista Forbes Malafaia é o terceiro
pastor mais rico do mundo, com trezentos milhões de dólares - não me convence
em nada. Não entendo como ele consegue levar gente para ouvi-lo em auditórios
luxuosos. Não consigo, por mais boa vontade e esforço que eu faça encontrar
nada de bíblico e de sério nas pregações de Malafaia. Além de cuspição de
textos bíblicos aleatórios, sem nenhuma vinculação teológica entre si e o tema
que ele propõe, não vejo nada bíblico nem profundo nas orações do endinheirado
pastor. Neste sábado seu programa apresentou o final do sermão sobre vitórias,
na verdade uma contação empírica de experiências de alguém que foi da pobreza à
riqueza movimentando dinheiro de contribuições de telespectadores, de shows que
dá pelo Brasil e no exterior e da venda de livros, na maioria importados e
traduzidos dos Estados Unidos. Além disso, com uma cara agressiva e assustada,
o pregador em pauta seguidamente olhava para as câmeras para amaldiçoar e
ameaçar-nos a nós blogueiros que o criticamos. Ele se sente ameaçado por nossas
críticas, bem no estilo dos vaidosos narcisistas que não toleram e temem o
diálogo. Eles se pensam donos da verdade e até de Jesus.
Eu aqui, na minha humildade e simplicidade de quem nunca aceitou
explorar as pessoas para arrancar dízimos e viver a custa de chantagens “espirituais”,
por isso não disponho de dinheiro para comprar espaços caríssimos de TV, de
jornais, de rádios e de revistas conservadoras, discuto aqui por este blog
inverdades ditas por ele nesse sábado, mentiras essas já divulgadas por outros.
Não querem um
pastor evangélico na Presidência da CDHM
Silas Malafaia disse, desde o luxuoso estúdio das gravações
de seus programas de TV, que “esse pessoal de esquerda e ateu” não aceita Marco Feliciano na presidência da
Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados por que ele é pastor
evangélico. Silas Malafaia mente descaradamente quando afirma essa bobagem. Realmente,
milhares de passeatas, de abaixo assinados e de notas pediram ao Presidente da
Câmara de Deputados para que trocasse a presidência da comissão. Inclusive, grupos
enormes de evangélicos e entidades cristãs se manifestaram contra a permanência
de Feliciano à frente de uma comissão que trata de questões que nada dizem a
alguém tão preconceituoso e obtuso quanto ele. Eu mesmo assinei uma petição
pública que chegou a meu e-mail da qual constava o nome de Anivaldo Padilha,
que é evangélico e membro da Comissão da Verdade e de centenas de outros
pastores evangélicos. O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC – enviou ofício
pedindo ao Presidente da Câmara que demita Marco Feliciano. Não consta que o
Conic e os pastores que assinaram os documentos mencionados sejam ateus nem
filiados em partidos de esquerda. E se são filiados não há problema, penso.
Silas Malafaia mente desconcertantemente ao afirmar que Marco
Feliciano é perseguido por ser pastor evangélico. Outros pastores e membros de
igrejas evangélicas fazem a mesma afirmação. Ora, isso não representa a
verdade. A CDHM conta com a participação de pastores e membros evangélicos que
não aceitam o discurso e a presidência de Marco Feliciano. Estes, no entanto,
não são divulgados. A verdade é que Marco Feliciano é abominado pelas pessoas mais
conscientes e esclarecidas por ser preconceituoso e por, nessa condição, confundir
o poder público legislativo com sua igreja. Questões morais como homossexualismo,
casamento homoafetivo e outros são de abordagens internas das confissões
religiosas, onde devem exercer plenamente seu direito de orientação, desde que
não violem os direitos humanos. Querer
impedir que o legislativo federal debata e ordene principalmente os instintos
bandidos representados pela homofobia. Preferem apelar para o ódio, à
intolerância sob uma ditadura teocrática. Malafaia mente quando não coloca em
seus superficiais discursos essa demanda contraditória. Afirmar um lado só,
principalmente o que representa o ódio, é tentar firmar-se num lado só do
debate, portando, o da meia verdade, o que equivale dizer mentiras.
Marco Feliciano, então, é discutível como pessoa que assume
postulados de direita bem ao estilo nazista, ao combater os direitos humanos de
quem é mais aviltado e humilhado, que são os negros (que Feliciano diz que são
amaldiçoados e do diabo por serem negros), dos homossexuais, vítimas de tanta
barbárie e de crimes hediondos, de mulheres que abortam, tão massacradas pelo
machismo e pela opressão capitalista. O principismo de Malafaia, de Feliciano e
de outros evangélicos superficiais ao afirmar que amam o pecador mas odeiam o pecado não
convence. Eles agem com ódio e com intenções descontrutivas das pessoas quando
falam e agem.
Ateus e
marxistas
Silas Malafaia mostrou publicamente suas garras e dentes ferozes
ao afirmar que Marco Feliciano e os evangélicos são perseguidos por ateus e
marxistas. Agora a coisa é clara: ele é que persegue e o faz com motivações
ideológicas. Ele afirmou que não querem Marco Feliciano como presidente da CDHM
por motivação ideológica. Essa afirmação não é de todo inverídica, o mal que nela está é o
rancor preconceituoso de direita. É claro que muita gente boa não quer
Feliciano na Presidência da CHDM por inspiração ideológica. E está certo.
Muitos se mobilizam contra o pastor que celebra o assassinato de John Lenon
porque suas atitudes são de direita e incentivam o fanatismo intolerante que
ameaça a democracia. Marco Feliciano
conta com pelotão de proteção que é comandado pelo deputado nazista Jair
Bolsonaro, que também orienta Silas Malafia. Basta que seu acesse o Twitter
para se saiba dessa vinculação direitista.
Afirmar que a não
aceitação de Marco Feliciano à frente da CDHM porque as pessoas são ateias e
marxistas é desonestidade. Essa acusação é perigosa e muito ruim. Esse discurso
já foi usado por evangélicos e católicos de direita para justiçar o golpe
militar e ditatorial em 1964. Graças a esse colaboracionismo milhares de jovens
e combatentes, entre eles muitos cristãos, foram torturados e mortos. Esse
discurso ajudou a que se instalasse no Brasil o terror causado pelos anos de
chumbo da ditadura militar. Portanto, não é novo. Além disso, esse discurso é
profundamente mentiroso porque esconde o objetivo de enganar o senso comum.
Talvez Malafaia e Feliciano nem saibam que muitos “cristãos” foram presos em
Cuba e na União Soviética, por exemplo, não era porque aqueles Estados sejam
laicos e ateus, mas porque muitos ditos “cristãos” serviam à CIA e à direita,
que visavam impedir que a justiça social se aprofundasse através do socialismo.
As Bíblias passadas para o interior dos países de regime socialista carregavam
em suas páginas folhetos e até armamentos para uso nos boicotes à revolução
socialista. Quando ditos cristãos eram e são presos não o são por serem teistas,
mas por serem sabotadores financiados pelo imperialismo. Esses cristãos eram
falsos e serviçais da ideologia capitalista e do golpe pró yank. Isso Malafaia não
fala.
Pessoalmente não acredito nesse trololó de que socialistas e
marxistas sejam contra os cristãos. Mas já vi alguns que se dizem cristãos se arrepiarem
de ódio aos marxistas. Por outro lado, todos os PCs (Partidos Comunistas)
contam com militantes cristãos ativos, envolvidos em igrejas. Nunca ninguém
lhes pediu carteirinha de ateísmo. Cuba socialista tem muitas igrejas
evangélicas e católicas funcionando com toda a liberdade sob o governo do
Presidente Raul Castro como atuavam sob o governo do Comandante Fidel Castro. A
partir da visita do Papa Bento XVI a Cuba, e a pedido deste, aquele País passou
a fazer feriado na sexta-feira santa e no natal. Onde está a perseguição contra
as igrejas e religiosos? O que o socialismo não tolera é a sabotagem, seja de
religiosos ou de ateus. O que Malafaia e sua turma desejam é impor sua forma de
pensar os problemas e de prejudicar os projetos que eliminem a pobreza a e
ignorância. Silas é reconhecido por suas posturas de direita e de apoio ao
neoliberalimo. Tanto é assim que ele apoia candidatos de direita com o objetivo
de obstaculizar que os governos de esquerda amadureçam e ajudem o Brasil a se
afirmar na senda da justiça social. Pastores e padres conservadores não dizem
nunca que neste Continente Americano muitos cristãos lutaram e lutam até ao
derramamento de seu próprio sangue para salvar seus povos do massacre
imperialista. Padre Camilo de Oliveira Torres é o mais conhecido. Dom Romero
foi tanto quanto Camilo Torres eliminado a tiros por governo que não se dizia
ateu, mas era terrorista e defensor dos privilégios da classe dominante. Muitos
perderam suas vidas em defesa da liberdade pisoteada nessa América Latina. Esses e tantos outros são respeitadíssimos por
comunistas e ateus. Não é por ser pastor, então, que se pressiona que Feliciano
seja varrido da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, mas por ser traidor
do povo e por ser reforço para a direita. Tenho excelentes amigos comunistas e
ateus e não os troco por certos santinhos do pau oco. Conheço e tenho muitos
amigos que são cristãos que são verdadeiros santos, dedicados ao próximo,
longânimos em seu amor e compaixão pelo outro. Todavia, há alguns cristãos dos
quais quero distância: são intolerantes, inflexíveis, donos da verdade e traiçoeiros.
Não basta decorar Bíblia nem papar hóstia nem dar pulos em cultos de louvor
para afirmar que se é cristão. Tenho boas experiências de fraternidade e de
ternura poética com ateus e marxistas, que são pessoas doces e inclusivas. Já
entrei em auditórios de estudantes e professores universitários trajando batina
e nunca fui desrespeitado por ninguém. Pelo contrário, fui abraçado por comunistas,
por revolucionários de todas as correntes, que me cumprimentaram pela luta coerente com o
bom combate pela justiça social. Certa vez ingressei num auditório enorme para
participar de um debate entre várias tendências de esquerda. Quando entrei de
batina preta um rapaz se levantou para me dizer com o dedo em riste que eu
deveria conhecer a velha frase da Revolução Francesa “de que a revolução somente
seria vitoriosa quando os padres fossem enforcados em suas próprias tripas”. Imediatamente
uma multidão de estudantes levantou-se e se interpôs no espaço entre mim e o
fanático rapaz para dizer: com o padre Orvandil não é assim. Ele é um
revolucionário como nós. Nunca, portanto, fui perseguido por ninguém por ser
sacerdote. Mas pela direita já fui perseguido, humildado, preso e até sofri
atentados de morte.
Abraços fraternos e solidários na luta pela justiça e pela
paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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