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quarta-feira

Um grito profético contra a falta de solidariedade





Minha História - Jardel Alves do Nascimento 

Ninguém me ajudou

Jardel Alves do Nascimento, 24, tentou parar carros para socorrer a namorada baleada; ela morreu domingo em Higienópolis 

Eduardo Knapp/Folhapress
O servente de obras Jardel Alves do Nascimento, 24
O servente de obras Jardel Alves do Nascimento, 24 

(...) Depoimento a

RESUMO O servente de obras Jardel Alves do Nascimento, 24, presenciou a morte da namorada Caroline Silva Lee, 15, em um assalto no domingo em Higienópolis, região central de São Paulo. Jardel afirma que faltou ajuda quando tentava evitar a morte da garota. No HC (Hospital das Clínicas), diz ele, ela teve de esperar por socorro. O hospital afirma que o atendimento à jovem foi imediato. 



Foi tudo muito rápido. Vínhamos conversando sobre minha tatuagem, que ela queria retocar pela manhã, e de sua primeira aula de acupuntura marcada para as 9h. 

Eles chegaram dizendo "passa a bolsa, passa a bolsa." Foi um susto. Eram dois. Um deles estava armado.
Não reagimos. Apenas tentei puxar Caroline para atrás de mim, escondê-la, mas não deu tempo. Um veio por trás e puxou minha mochila. 

O outro ficou agarrado na mochila dela. Ela não queria entregar. "Eu vou atirar, eu vou atirar", dizia ele.
O mais valoroso na mochila, para ela, não eram os celulares. Eram seus desenhos que adorava fazer e seus materiais de escola. Ela adorava estudar. Tinha uma bolsa de estudo do colégio São Luís. 

O rapaz encostou a arma e puxou o gatilho. Não tive como reagir. Ele atirou com a arma próxima ao corpo dele. Não esticou o braço. Com certeza ele é um ladrão experiente. 

Fugiram sem demonstrar nenhum arrependimento. 

Caroline caiu. Só tinha um pouco de sangue na boca e um raspão no olho. Nem percebi onde os tiros pegaram. Só fiquei sabendo depois. 

Corri para o meio da rua para pedir ajuda. Ninguém parava. Ninguém me ajudava. 

Tive de sair da frente dos carros para não ser atropelado. Uma mulher da janela de um prédio gritou que estava chamando socorro. 

Tentei fazer respiração boca boca, fazer massagem cardíaca. Ela tinha asma. Tentava não deixá-la apagar de vez. 

Passaram-se mais de dez minutos até as pessoas descerem dos prédios. Caroline já estava sem pulsação.
Não adiantava mais. 

No hospital, ainda ficou numa maca esperando para ser atendida. A médica disse que não poderia atender naquela hora porque a sala estava lotada. Mesmo se tivesse alguma chance, Caroline não teria sido salva no Hospital das Clínicas. 

Deveria ser obrigatório os políticos utilizarem o mesmo sistema de saúde que oferecem às pessoas. Eles estão de boa porque não precisam. 

'QUE SOFRAM'
 
Para muitas pessoas que estão no poder, eu sou um lixo. Mais meu propósito sempre foi ajudar as pessoas. Ter uma sociedade melhor. 

Caroline pensava da mesma forma. Até por isso a gente se amava. Eu sou muito difícil de me apegar às pessoas. Com ela foi diferente.

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