Querido Alexandre
Saudade de ti, meu amigo. Há tempo não nos falamos. Respeito
tua maneira introspectiva de ser. Mas não paro de imaginar tua vida em meio a
tantos saltos e vibrações de nossa conjuntura. Certamente tua sensibilidade
intelectual e de cientista crítico, iluminado por uma ideologia que te aproxima
da realidade dos conflitos de classes, tremula como uma bandeira ao vento nessa
hora de tantos embates.
Pois é, amigo, entendo que essas eleições municipais aqui no
Brasil, tanto no primeiro quanto no segundo turnos, principalmente nesse, a
luta política demonstrou uma batalha de conteúdo nacional. Dois projetos
enfrentaram-se nas campanhas e nas urnas. Um é o arduamente construído desde a
queda de João Goulart, emergindo das sangrentas lutas dos camponeses,
ferroviários, metalúrgicos, estudantes, mulheres, negros, indígenas, teólogos e
militantes da teologia da libertação etc, em busca da independência nacional e
da redenção do povo, ardorosamente trabalhador, que aspira desenvolvimento com justiça
social expressa na distribuição de renda e de riquezas, de modo objetivo e
concreto. O outro projeto é o
representado pelo ódio aos trabalhadores, ao povo, aos pobres e aos movimentos
sociais. Esse, felizmente, recebeu cinzas nas veias nesse segundo turno com a
derrota de José Serra em São Paulo. A propaganda de Serra externou muito bem a
densidade do ódio e dos preconceitos, que o povo de São Paulo compreendeu e
derrotou.
O que Serra fez em 2010 e em 2012 ao envenenar a luta
política com mensagens, imagens e acirramento moralista, trazendo para o
interior do debate político aspectos morais irrelevantes, mas de forte teor
conservador e rancoroso, não é novidade. Quando uma minoria irresponsável e
incendiária tentou derrubar Getúlio Vargas usou Carlos Lacerda, um verdadeiro
ator na arte da oratória, para mentir e espremer o Presidente até levá-lo ao
suicídio. Para pavimentar o golpe de 1º de abril de 1964, usaram os mesmos
métodos sujos contra João Goulart. Contaram com a ajudinha de setores da Igreja
Católica Romana que comandaram a famosa “Marcha da Família com Deus pela
liberdade”, quando cunharam a frase “a família que reza unida permanece unida”.
Algumas igrejas evangélicas fizeram vigílias de oração para pedir contra a
invasão comunista. Por todos os recantos do País rolaram fofocas e mentiras
contra Jango e outros líderes nacionais e populares. Hoje Fernando Henrique
Cardoso e José Serra, juntamente com a mídia mentirosa, sem o talento do
convencimento lacerdista, tentam reeditar a mesma tática da calúnia, da difamação,
da injúria, contando com o STF na condenação sem provas, com religiosos inconsequentes
como Silas Malafaia e outras ferramentas do submundo moral e político.
Mas o povo, principalmente de São Paulo, deu mostras de
consciência em elevação e derrotou o atraso e a divisão social. Ao eleger
Fernando Haddad o povo dá mostras de que entende por onde o Brasil deve seguir
ao perseguir a trilha da unidade nacional em torno da independência nacional e
do desenvolvimento com justiça social.
O discurso de Fernando Haddad ontem após conhecido o
resultado das urnas foi emblemático. Prometeu “derrubar o muro da vergonha” que
separa ricos e pobres em São Paulo. Para tanto, apelou que todos se unam para
tal conquista.
É exatamente isso, Alexandre. A separação entre ricos e
pobres é inaceitável. Onde e quando houver esse muro que esconde concentração
de riquezas e de renda é porque há enorme e gritante injustiça, separando as
riquezas fruto do roubo concentrador de privilégios, produto dos que trabalham,
mas cujas riquezas produzidas sangram para a luxúria dos que nada fazem. Essa
sangria alimenta o parasitismo, o conservadorismo e as resistências às mudanças
sociais e políticas. Faz bem Hadadd ao perceber que essa muralha é vergonhosa e
que deve ser derrubada. A posição mais justa para os que trabalham é a de
desfrutar dos bens que produzem. O povo de São Paulo fez soar as trombetas que
derrubam os muros de Jericó. Que Haddad saiba interpretar corretamente os
zunidos das trombetas e nunca se deixe envaidecer e insensibilizar, como
acontece seguidamente com líderes eleitos para servir, que acabam se servindo
do povo
.
.
Unir todas as forças para derrubar a muralha da vergonha em
São Paulo e em todo o Brasil é o que importa.
Abraços críticos e fraternos.
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