Comissão
da Verdade investiga conexão entre as mortes de João Goulart e JK
Suspeita é que ex-governantes
foram assassinados pela ditadura militar para eliminar oponentes que pudessem
receber apoio de Jimmy Carter, eleito presidente dos EUA pelo partido Democrata
em 1976.
Publicado
em 23/10/2012
São Paulo – A Comissão Nacional da Verdade (CNV)
vai investigar uma possível conexão entre as mortes dos presidentes Juscelino
Kubitschek e João Goulart, ocorridas entre 22 de agosto de 1976 (JK) e 6
de dezembro do mesmo ano (Jango), durante a atuação formal da Operação Condor,
quando as ditaduras do Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia se
uniram para prender e combater quem se opunha a seus regimes. Oficialmente, JK
morreu em um acidente de carro no km 165 da Rodovia Presidente Dutra (São
Paulo-Rio de Janeiro) e Jango, de ataque cardíaco em Corrientes, na Argentina,
mas a suspeita de que eles tenham sido assassinados por agentes da Operação Condor
tem motivado a abertura de investigações por parte da Justiça em países como o
Chile e de comissões como no Brasil.
Para o advogado Márcio Santiago, membro da Comissão
da Verdade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Minas Gerais, além de
conexão entre as mortes de JK e de Jango, a OAB mineira também aponta suspeitas
sobre a morte do jornalista Carlos Lacerda, opositor do regime militar
brasileiro após o golpe de 1964 e membro, com JK e Jango, da Frente Ampla,
formada em 1966 e que reivindicava o restabelecimento da democracia no Brasil.
Lacerda morreu em 21 de maio de 1977. “Nesta época,
a Operação Condor estava em plena atuação por conta da eleição de Jimmy Carter
pelo partido Democrata nos Estados Unidos (1976) e porque as ditaduras
militares da América do Sul temiam que Carter pudesse se opor a seus regimes e
apoiar a redemocratização no continente, o que poderia ter motivado os
militares a eliminar líderes da oposição”, afirma Santiago.
“Dada a sua relevância e importância, e o caso
Jango também, estamos investigando a situação da morte de ambos. Dois membros
da comissão e um assessor já analisaram os documentos enviados pela OAB Minas
Gerais, e continuam analisando. Após a análise de todos os membros da CNV, pois
o caso merece atenção, a comissão vai chamar a OAB Minas Gerias para discutir o
caso”, declarou hoje (23) Rosa Maria Cardoso da Cunha, membro da
comissão.
A documentação sobre a morte de JK em poder da CNV
foi levantada pela OAB de Minas Gerais e entregue aos membros da comissão. De acordo
com Santiago, além das circunstâncias suspeitas nas mortes dos dois presidentes
e dúvidas nos laudos sobre o acidente de JK, documentos secretos da CIA, como
uma carta do chefe da Dina (Diretoria de Inteligência Nacional), a polícia
política durante a ditadura no Chile, enviada em 1975 ao então chefe do Serviço
Nacional de Informação (SNI), João Baptista Figueiredo, relatam que líderes de
oposição como o presidente JK e Orlando Letelier, ex-chanceler do governo de
Salvador Allende, deposto pelos militares no Chile em1972, poderiam receber
apoio de Jimmy Carter. Letelier foi morto em 1976 em um atentado cometido pela
Dina em Washington no dia 21 de setembro de 1976.
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