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O conteúdo antiimperialista da reeleição no Irã

12 DE JUNHO DE 2009



O Holocausto perpetrado pelo nazismo assassinou milhões de judeus e é um fato histórico incontestável. E os gays têm o mesmo direito de todos os seres humanos de fazerem amor como melhor entenderem. Dito isto, a acorrência maciça dos 46 milhões de eleitores iranianos às urnas nesta sexta-feira (12), e a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad com dois terços dos votos, a julgar pelas parciais, é uma vitória não do conservadorismo, mas de um profundo, entranhado e justo sentimento antiimperialista do povo trabalhador do Irã.

Por Bernardo Joffily


Ahmadinejad ao sair da cabine eleitoral
A oposição descrita pela mídia ocidental, entre ''conservadores'' e ''reformistas'' existe no Irã. Assim como existem os contrastes entre a fé islâmica mantida intacta no vasto interior do país e as tendências seculares da metrópole que é Teerã (14 milhões de habitantes em um total de 70 milhões). Estas variáveis levaram o grosso da esquerda iraniana a apoiar ''qualquer um menos Ahmadinejad''. O ''qualquer um'', no caso, resultou ser Mir Hussein Moussavi.

Porém o Irã profundo compareceu em massa às urnas nesta sexta-feira. O comparecimento foi sem precedentes, perto de 80%. E isto ao fim de uma campanha também inédita por sua animação, com os candidatos debatendo ao vivo na TV e as campanhas saindo às ruas com energia antes desconhecida.

Deu uma conservadora reeleição a Ahmadinejad: 66,0% dos votos, a julgar pela última parcial, com 68% das urnas apuradas (Bem distinta do resultado de quatro anos atrás, em que o atual presidente chegou em segundo lugar nas urnas, com apenas 19% dos votos, e só venceu no segundo turno). É curioso que o resultado desminta tudo que nos escreveram e nos disseram todos aqueles corresponentes e enviados especiais da mídia ocidental.

Menos adjetivos, mais substantivos

É preciso debruçar-se sobre esse resultado, em busca do seu sentido. Quem é Mahmoud Ahmadinejad?

Quando não o descreve como ''ultraconservador'', a mídia apresenta-o como ''linha-dura'', ou ainda ''populista'': o que para nós latino-americanos já parece mais esclarecedor, pois é assim que se descreve também a nova safra de líderes da nossa parte do mundo. Porém antes de buscar um adjetivo, examinemos sua biografia substantiva.

Filho de um ferreiro com sete filhos, nasceu no norte do país mas criou-se em Teerã. Estudante de engenharia, a duras penas, entrou para a Guarda Revolucionária e participou das jornadas de massas de milhões de pessoas, metralhadas pela guarda do xá autocrata Reza Pahlevi, mas que tornavam sempre às ruas, até derrubar o xá em janeiro de 1979. Ahmadinejad tinha então 22 anos. Participou também, em seguida, do cerco à Embaixada dos Estados Unidos em Teerã.

Foi militar durante a guerra que opôs seu país ao Iraque de Saddam Hussein – na época calorosamente apoiado por Washington. Integrado à corrente dominante na Revolução Islâmica e na República Islâmica, governou duas cidades médias, Makd e Khoy, e a seguir Teerã. Elegeu-se presidente com o voto do povo trabalhador que identificou-se com sua biografia.

Governou beneficiado pelo boom dos preços do petróleo. Usou o dinheiro do óleo para subsidiar alimentos e programas de construção de moradias. Num país desértico e semiárido, pobre em rios, fomentou um programa energético nuclear, o que levou-o à colisão com os Estados Unidos e Aiea (Agência Internacional de Energia Atômica) sob pressão destes. É um crítico implacável de Israel, a quem acusou de racista, com abundância de argumentos, numa recente conferência da ONU que Washington boicotou.

Greve história das sujeiras dos EUA no Irã

É nessa trajetória que se deve buscar os votos de Ahmadinejad. É a trajetória de um lutador antiimperialista, em uma nação ciosa de sua civilização multimilenar e ardentemente patriótica. Patriotismo que foi posto à prova mais de uma vez em sua história recente.

Em 1953 o primeiro ministro Mohammed Mossadegh, que nacionalizara o petróleo iraniano, foi derrubado em um golpe onde todos viram a mão do imperialismo americano. Na semana passada, em seu discurso no Cairo, o presidente Barack Obama admitiu a intervenção, em um mea culpa inédito.

Seguiu-se a fase mais abertamente tirânica da dinastia Pahlevi, sempre com apoio de Washington. Em 1979 triunfou a revolução, explicitamente antiimperialista e contra a vontade da Casa Branca. Seguiu-se a crise do cerco à embaixada, em 1980-81, que os EUA tentaram tratar por meio de uma incursão militar, desbaratada por uma providencial tempestade de areia. A essa altura, o Iraque já iniciara a guerra em busca de territórios do Irã, com armas fornecidas pelos EUA.

O teste do discurso de Obama

Foi este o país que votou na sexta-feira. Preferiu reeleger seu presidente, e não seu desafiante, Moussavi, que acusava a política externa em vigor de excessivamente antiamericana. Preferiu-o porque não aceita voltar aos tempos dos Pahlevi. Preferiu-o por antiimperialismo.

Pode-se acusar o antiimperialismo de Ahmadinejad de tosco. Sempre que a religião se intromete na política, a política se abastarda. Mas como qualificar o imperialismo do fundamentalista religioso George W. Bush, que dizia ''conversar com Deus'' e, por ordem deste, inscreveu o Irã no ''Eixo do Mal'' e cercou-o com guerras de agressão, a leste, no Afeganistão, e a oeste, no Iraque?

Obama deu a entender no Cairo que esse tempo passou. Diz que não ficará ''preso ao passado'' e quer ''seguir em frente'' e ''construir o futuro'' nas relações com o Irã, ''sem condições prévias e com base no respeito mútuo''.

Pois bem, o futuro, até 2013, é com o presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad. É o primeiro teste do discurso do Cairo. Os próximos passos dirão até que ponto o que foi dito no Cairo é para valer e até que ponto são apenas palavras. Conceda-se às palavras de Obama o benefício da dúvida. Mas, diante do histórico sintetizado acima, é compreensível que o Irã não comece por baixar a guarda. Manter a guarda erguida foi o que ele fez nas urnas desta sexta-feira.

Fonte: Vermelho

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