Amiga Emanuella
Por ocasião de campanhas eleitorais de vulto, como a que vivemos
em 2014 - que iniciou em junho de 2013 com as manifestações de junho comandadas
pela elite dominante e pelo imperialismo terrorista - propostas de enfrentamento
são confusas e encobertas por ervas daninhas rasteiras.
Nesse final de semana estiveram aqui em Goiânia Eduardo
Campos e Marina Silva. Fui ao encontro deles, convidado que fui por amig@s que
o apoiam, certos de que o governo Dilma naufragou em dilemas neoliberais, que
travaram o desenvolvimento no Brasil.
Confesso-te que gostei de ouvir a missionária pentecostal Marina
Silva, coisa que me aconteceu pela primeira vez, que, como se estivesse num
culto de sua igreja, disse que iniciava agradecendo a Deus pela oportunidade
que Ele lhe dava de participar daquele evento. Ela fala muito bem. Usa com
sabedoria a poesia amazonense e do cerrado. Melhor, usa corretamente a nossa
maltratada língua portuguesa, sem as adulterações costumeiras desse mundo
empobrecido culturalmente no qual gravitam os chamados “políticos”.
Antes de Marina ouvi vários oradores, pelo que senti, raposas
velhas bem falantes, todas de pelos embranquecidos pelo embate das invernadas
eleitorais, inclua-se entre elas o direitista e pentecostal Vanderlan Cardoso, amigo
de Ronaldo Caiado, proprietário rural famoso pelo ódio que dedica aos
trabalhadores rurais e aos indígenas. Participou da fila o ex-comunista que
traiu o “cavaleiro de esperança” Luiz Carlos Prestes, Roberto Freire. Esperava
dele certa autocrítica por “perostroikar”, aquele movimento que levou o mundo à
bancarrota sob o imperialismo americano, à destruição da URSS. Aguardei algum
sinal de arrependimento pela molecagem de aliar-se a Fernando Henrique Cardoso,
a José Serra, a Grelado Alckmin e ao governador acusado de envolvimento com o
bicheiro Carlinhos Cachoeira, Marconi Perillo, na desmoralazição do Estado e
sua governança democrática em interesse do povo e não do estúpido mercado. Que
nada, sua cara continua de pau quanto antes, embora na linha da missionária
Marina, falasse muito bem. Esperei a fala de Eduardo Campos, até com certa
curiosidade, porque eu gostava de seu avô Miguel Arraes, que tive o privilégio
de conhecer pessoalmente e com ele conversar. Aquele sim, um homem sério e
comprometido com o Brasil. Nada, Eduardo não falou nada, além de algumas
críticas à Dilma, talvez até válidas, mas sem apontar caminho seguro a seguir.
Enfim, ao olharmos para todos os lados não se vê análises que
indiquem avaliações corretas para se entender a realidade, que não resvalem
para o “denuncismo” fácil, favorecedor da direita neoliberal. Contudo, temos
que fazer essa análise. Temos que espremer os neurônios para entendermos o que
se passa no Brasil e no mundo.
Não posso avaliar que Eduardo Campos seja um fanfarrão nem o atacarei
pelos porões. Ele merece respeito pessoal e político. O que pensei é que a análise
que faz não convence, até por certas pessoas que o acompanham e que têm peso na
elaboração de sua política de governo, como o citado Roberto Freire. Pode
confiar-se num candidato que conta com traidores na elaboração de seu programa
de governo? Amigos meus que estão lá dirão que o que importa é a formação de
uma coalizão para a construção de um projeto de nação, que, segundo eles, Dilma
jogou fora em suas alianças de caráter neoliberal privatizante, de investimentos
pífios, de empaledecimento do desenvolvimento. Roberto Freire, em seu discurso,
insinuou essa perspectiva. Disse que muitos naquela fileira pensam diferentes,
mas que é preciso encontrar o campo comum. Todavia, me pergunto, quem traiu o
socialismo e Luiz Carlos Prestes tem autoridade para afirmar e esperar dele isso?
De certa forma Campos reiterou a mesma coisa quando disse que corremos o risco
de perder o que já conquistamos, sem mencionar Lula, mas, certamente, se referenciado
ao que se iniciou com ele em termos da configuração de um desenvolvimento implantado
com seu governo. Mas por que Eduardo não lutou para que Dilma reforçasse o
projeto original ao invés de correr por forma na formação de uma quinta coluna?
Sou sincero na pergunta, porque nunca vi nada antes em termos de críticas
feitas por ele.
Hoje abri o site Viomundo e
nele encontrei um artigo de Emílio Carlos Rodriguez Lopez que chama a atenção para a crise no mundo e o lugar do Brasil
nesse contexto conturbado. Emílio demonstra que o Brasil cresce mais do que os
Estados Unidos desde 2008, cujo crescimento em forma de empregos e de
industrialização é intencional e mascaradamente escondido pela mídia, que gosta
de coisas do tipo Joaquim Barbosa, Faustão, Luciano Hulk, de humores baratos e
racistas, do que do Brasil e do povo. Eduardo Campos também não mostra claramente
que ama o Brasil, defendendo, inclusive, a pornografia de independizar o Banco
Central para entregá-lo definitivamente à voracidade impatriótica do sistema
financeiro.
A próxima afirmação de Emílio Carlos Rodriguez Lopez merece reflexão: “Em meados de abril, na apresentação da Lei
de Diretrizes Orçamentárias - LDO - de 2015, do governo federal, a ministra do
planejamento, Miriam Belchior, apontou que o Brasil teve boa recuperação
econômica comparada a outros países. Ficamos mais de 10% à frente dos Estados
Unidos e a Europa ainda não se recuperou da crise de 2008.”
Olhando para o espectro político da direita neoliberal e
narcotizada brasileira, Emílio ainda observa
e pergunta: “Nesse sentido, o debate político começa com as declarações do
presidencial Aécio Neves (PSDB), que deseja implantar “medidas impopulares” em
seu hipotético governo.
Desse modo, o que estará em jogo nas eleições de 2014 é quem
deve pagar as contas da crise mundial.
Faremos como dirigentes europeus, que preferiram a recessão e
o alto desemprego e agora colhem o crescimento da extrema direita, do
racismo e da xenofobia?”
O fato, Emanuella, que não adianta recusarmos o debate e
análise do impasse que vivemos no Brasil, desafiados pelo povo diante das
urnas. Não critico Eduardo Campos por entrar no debate, apenas pergunto por que
não o fez antes e por que pensa que empolgará acompanhado por traidores, além
de vê-lo periclitante, sem rumo e sem projeto de nação. Onde estão os que ao
seu lado, antes, gritavam por independência nacional, por desenvolvimento
democrático e por aliança ampla com a nação? Vi-os lá entre as raposas, mas
calados...
Emílio Rodrigues sugere que a retomada do crescimento do
mundo ajudará o Brasil, ainda dependente das relações comerciais internacionais.
A genialidade política exige sabedoria de negociar sem se render aos que se
pensam donos do mundo, embora decadentes e tradicionalmente inimigos dos povos
e do planeta.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, preocupado
com o Brasil.
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