Amigo Felipe Almeida
Certamente participaste ontem da liturgia que lembrou a
entrada de Jesus em Jerusalém no início de nossa era, conforme contam os
evangelhos sinóticos.
Sinceramente acho linda toda a arte literária que descreve a
entrada de Jesus na capital religiosa judaica no primeiro século de nossa era.
O burro adotado como animal de cavalgadura, usado por Jesus, se assemelhava
muito a um protesto às guerras promovidas quando os generais do poderoso
império romano adentravam às cidades sobre cavalos fortes e treinados para
batalhas de arrasadoras.
Jesus entrou sobre um animal de trabalho, humilde, mas
intenso na ironia aos poderosos que entram para derramar o sangue dos dominados
e roubar-lhes os bens.
Jesus é logo cercado pelo povo curioso que se aproxima para
tocá-lo em contradição aos cavaleiros da morte, que entram na cidade para
esparramar o terror e amedrontar o povo, que se afasta em fuga com medo.
Jesus ouve o clamor do povo que dele se aproxima, ao
contrário dos combatentes do ódio que espancam e expulsam as pessoas,
pisando-as sob as patas dos potros de guerra.
Firme o Jesus acolhido pelo povo se dirige ao centro da
cidade onde os poderosos o aguardam para traí-lo, julgá-lo na calada da noite e
para matá-lo sob falsos testemunhos.
Ao olharmos para o Jesus assim montado num jumento, cercado
pelo povo que grita por paz, que canta com esperança na caminhada pelas ruas,
conforme o relato simples dos evangelhos, e o compararmos com o Jesus poderoso
e majestoso das igrejas percebe-se um divórcio gritante entre os dois.
O Jesus seguido pelo povo em Jerusalém e esperado pelos
poderosos, que o jogariam no cadafalso da morte, não tem nenhuma relação com o
Jesus fabricado pelas igrejas ricas, pelas igrejas dos templos luxuosos, com
lugares reservados para os poderosos, amante dos prazeres burgueses de seu
clero, completamente alheio ao povo e às suas dores.
Enquanto o Jesus que entrou em Jerusalém era cercado pela
realidade de seu povo, pobre como ele, cavalgando um burro como ele, o Jesus
das igrejas dos dízimos, cujos líderes amam aparecer através de canais de TV,
concessões públicas, que deveriam servir aos interesses do povo que Jesus ama,
é um fantasma desvinculado dos dramas humanos.
Enquanto o Jesus de Jerusalém entrou na cidade entre os
gritos do povo, abraçado por ele, o Jesus das igrejas dos dízimos, acolitada pelos
poderosos, é utilizado como marketing e como negócio para seus sucessos
pessoais.
Enquanto o Jesus que entrou em Jerusalém inteiramente
participante da história de seu povo, ele mesmo procedendo das raízes profundamente
populares e palestinas, o Jesus das igrejas dos dízimos, dos pastores
enforcados em gravatas caras e enfiados em ternos comprados nos Estados Unidos,
e dos padres e bispos ricos de costas para o povo, o fazem um boneco sentado num
trono onde anjos sem história e sem corpo cantam louvores que, na verdade, são
pura chatice rotineira de um céu que não tem nada a ver com o reino de justiça
que o Jesus verdadeiro veio ensinar a construir.
Enfim, Felipe, o Jesus retratado pelos evangelhos, que entra
em Jerusalém, não tem nada a ver com o que fizeram dele. Este que é usado como
produto de igreja está mais para os fariseus, o Herodes e o Pilatos do que o Jesus
de Nazaré de verdade.
O Jesus dos corações confortados de hoje não tem nada a ver
com o Jesus que veio dar a vida pela humanidade e servi-la mesmo sob ricos de
morte, morte que lhe foi dada como prêmio pelo amor que tinha pela justiça
libertadora.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, em todas
as situações.
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Pesquisei no Youtub e encontrei, na grande maioria, vídeos que romantizam a vida de Jesus e o entendem como um fantasma glorificado e omisso aos dramas humanos. O mais próximo do Jesus retratado pelos evangelhos dos cristãos primitivos é esse do vídeo abaixo. Sugiro que assistas.
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Pesquisei no Youtub e encontrei, na grande maioria, vídeos que romantizam a vida de Jesus e o entendem como um fantasma glorificado e omisso aos dramas humanos. O mais próximo do Jesus retratado pelos evangelhos dos cristãos primitivos é esse do vídeo abaixo. Sugiro que assistas.
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