Desnacionalização e privilégios às múltis levam PIB à bancarrota
Produção industrial brasileira cai -4,3% em maio
Esta página tem o aspecto de uma fileira de desastres – mas, há semanas, as novas econômicas são um desastre atrás do outro. Não é surpreendente, no entanto, que uma política econômica desastrosa leve ao desastre – ou a mais de um desastre.
Na manhã da última terça-feira, o IBGE revelou que, em maio, a produção (física) industrial caiu pelo nono mês consecutivo em relação ao mesmo mês do ano passado: -4,3%. Em relação a abril, a produção caiu -0,9%. Em 2012, a produção da indústria já caiu -3,4%. Todos os departamentos da produção caíram: bens de capital (-12,2%); bens de consumo (-4,3%); e bens intermediários (-2,7%).
Quanto aos setores, de janeiro a maio, há resultados como: vestuário (-11,2%), produtos farmacêuticos (-11,6%), equipamentos de transporte (-17,9%), calçados (-8,5%) - e caiu a produção de bens intermediários para as indústrias: automotiva (-14%), metalurgia básica (-14%), têxtil (-7,8%) e até a produção de bens intermediários para a indústria de alimentos (-9,2%).
Esses números são, rigorosamente, uma decorrência da política, não somente desastrosa, mas incompetente, estúpida e servil a monopólios financeiros externos (não há vocábulos mais leves), conduzida pelo atual ministro da Fazenda, uma política que se manifesta pela ausência – nenhuma política industrial, nenhuma defesa da economia, nenhuma prioridade para a produção nacional.
Assim, à solta e turbinada por dinheiro público (sejam desonerações ou financiamentos do BNDES), a desnacionalização, ou seja, o império sem limites das filiais de multinacionais sobre a economia, a liquidação em massa de empresas nacionais, levou a esse plano inclinado para o abismo sem fim – mais ainda quando as matrizes dessas multinacionais estão atoladas no pântano da crise.
Sobre isso, é inútil dizer que o problema do Brasil é a crise “internacional”, porque não é – e ninguém acredita nisso, nem o BC consegue sustentá-lo (ver a pág. 74 do seu último Relatório de Inflação). Há poucos dias, o economista Carlos Aguiar de Medeiros, professor da UFRJ, disse algumas coisas interessantes: “O governo é o maior responsável pela desaceleração. Houve uma atrofia nos investimentos públicos e uma política macroeconômica que levou a baixas taxas de crescimento. O país não é puxado pelas exportações. Não vejo o mecanismo de transmissão da crise geral para reduzir drasticamente as perspectivas de crescimento. Vejo com preocupação uma desaceleração no crescimento que está sendo induzida por uma contração dos gastos de governo”.
Sobre a questão do consumo, diz o economista:
“Nos últimos seis anos, houve redução da concentração de renda e da pobreza. Ao mesmo tempo, há regressão dos setores mais avançados da indústria. Esse desencontro precisa ser rearticulado, com um padrão de desenvolvimento que possa dar conta das duas coisas. Há gargalo na qualidade do serviço público e da infraestrutura de apoio, educação, saúde, transporte etc. Temos o SUS na saúde, mas houve grande privatização, que pesa no orçamento familiar. Se a cada melhora na distribuição de renda a família tiver de pagar por coisas que não pagava, não haverá aumento mais geral da capacidade de consumo”.
Não é possível – acrescentamos – “dar conta das duas coisas”, se a economia é manietada por monopólios externos. No entanto, essa foi a política de Mantega, desde a época em que incensava o “investment grade” (isto é, o aval das “agências de risco” para que o dinheiro estrangeiro comprasse nossas empresas por atacado) e a esdrúxula – para não dizer, perfeitamente imbecil – ideia de que não tem importância a nacionalidade das empresas que há dentro do país.
Mas, não somente importa - é decisivo. Como escreveu Carlos Feu Alvim, autor de alguns trabalhos econômicos importantes – embora formado em física – e diretor da revista “Economia & Energia”, na época contemporânea país algum pode se desenvolver sem dois requisitos: 1) “educação básica universal, pública e gratuita”; 2) “predominante presença na economia do capital nacional”. Como ele diz, “o capital nacional é indispensável ao desenvolvimento”.
A razão é que as multinacionais instalam filiais exatamente ao modo de uma invasão: para saquear o país invadido. É possível, sem dúvida, limitar esse saque e até fazer algum uso delas para o desenvolvimento, se o capital nacional for “predominante” - para usar a palavra do autor. O que impede o desenvolvimento é quando se permite que elas façam uso do país. Os resultados divulgados nos últimos dias são uma demonstração dessa verdade. Antes, por cautela, uma advertência.
A maioria dos que nos leem, certamente, não gosta de matérias com muitos números, e têm uma certa razão: há poucas coisas mais repugnantes que textos cheios de números para esconder o seu real significado – pais e mães de família, quando não filhos, sem emprego; máquinas paradas; gente sem dinheiro para suas necessidades mais básicas; empresários falindo; e o mais anárquico reinado do darwinismo econômico, com monopólios e cartéis externos, à solta no país por leniência, cumplicidade e servilismo, devorando empresas e setores produtivos, jogando trabalhadores na rua.
Agora, leitores, permitam a breve retrospectiva dos últimos dias. Os números negativos são sofrimento de pessoas, quando não agora, em forma de tempestuosa e sinistra ameaça.
Na quinta-feira da semana passada, o Banco Central, ao publicar o seu relatório de inflação, reduziu a previsão de crescimento para este ano de 3,5% para 2,5% - menos, portanto, que os pífios, medíocres 2,7% de 2011, depois dos alvissareiros +7,5% de 2010.
O pior é que essa revisão pareceu otimista, com a agropecuária caindo apenas -1,5% (caiu -8,5% no primeiro trimestre deste ano), com a indústria de transformação crescendo apenas 0,5% (no primeiro trimestre, caiu -2,6%) e com o investimento (“formação bruta de capital fixo”) aumentando apenas 1% (no primeiro trimestre, caiu -2,1%; em 2011, o aumento de 4,7% já foi uma redução estrondosa dos +21,3% de 2010).
Na mesma quinta-feira, a Fiesp revelou que a atividade da indústria paulista caíra -0,6% em maio (comparado a abril), o que significa que, de janeiro a maio, a atividade do maior parque industrial do país caiu -6,3% em relação ao mesmo período de 2011. A Fiesp, também, reduziu sua estimativa para o crescimento do país este ano - de 2,6% para 1,8%, o que, em termos sensíveis, é o mesmo que zero.
Na segunda-feira, foi o famigerado Boletim Focus, do BC, uma enquete entre economistas de grandes bancos, que podem ser várias coisas desagradáveis, ou até odiosas, mas não são tolos – pelo menos, não completamente. A mediana das previsões de crescimento para este ano caiu, pela oitava semana seguida, desta vez, de 2,18% para 2,05%. A mediana das previsões para a produção industrial, que já era mísera há quatro semanas, caiu pela quinta vez consecutiva: foi de 0,5% para 0,39%.
O que está provocando isso, se, como mostramos, não é a crise dos EUA, Europa e Japão? Basicamente, a opção preferencial da política econômica pelas multinacionais. No momento, sustentamos as suas filiais (e talvez algumas matrizes) com nosso dinheiro, vale dizer, com nossa poupança: desonerações, financiamentos do BNDES e, agora, prioridade nas compras do Estado para elas (pois não é outra coisa, apesar do marketing, o chamado “PAC Equipamentos”) são expropriações de poupança, transferências de recursos do país e do povo para as filiais de multinacionais.
E somente para que elas remetam os nossos recursos para as matrizes, arrasem a indústria de componentes (justamente onde estão os avanços tecnológicos) com importações, tomem mais empresas que eram nossas, desequilibrem as contas externas e desempreguem, apesar de terem ganho R$ 1 milhão por emprego que mantivessem (ver matéria nesta página) – resumidamente, elas levam a economia para a estagnação, o retrocesso e o atraso.
Assim, não há pacote do governo que estimule a economia, que faça o país crescer, pois eles são dirigidos para sustentar a causa que mantém baixo o crescimento – na melhor das hipóteses: a de que haja algum crescimento.
CARLOS LOPES
Fonte: Jornal Hora do Povo
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