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quinta-feira

III. Gestos e linguagem toscas da direita: a religiosidade pau de arrasto





Querido Pai de Santo Lucas Junot Dutra Morisson

A matéria feita contigo no jornal online Campo Grande News (aqui) causou-me profunda impressão e admiração. Comentei-a com meu amigo Pai Kênio daqui de Goiânia, presidente da Federação Umbandista e Babarolixás de Goiás.

Tua juventude e cultura mostram o entusiasmo de alguém com enorme disposição para vencer o caminhão de preconceitos que sofres. 

Mas o que mais me emocionou no teu comportamento é a disponibilidade que imprimes ao escutares pacientemente as pessoas em teu terreiro. Sublinho como nobilíssima tua disposição de morar no terreiro para viver mais tempo junto às pessoas e escutá-las na sua necessidade de conversar com quem as “escute bonito mais do que quem fale bonito”, como diz Rubem Alves eu seu poema. Escutar as pessoas é humanizador, meu querido amigo. 

Chamou-me a atenção tua declaração de que não retiras nenhum centavo das economias das pessoas, pois vives de tua própria profissão. És jornalista. Elas não pagam nada para frequentar teu espaço de culto e de ensino religioso. Sem dúvidas, num contexto em que as denominações religiosas são grandes balcões de negócios e de golpes à economia popular, dás enorme testemunho de respeito ao povo e seus sofridos salários. Parabéns, meu irmão. Certamente os pastores e padres da afamada igreja mediática deveriam aprender muito contigo. Eles arrancam pesados “dízimos” do povo e com isso compram luxo, aviões, hospedagem nos mais caros hotéis e passeiam por todo o mundo. Tanto que aqui no Brasil vivem, graças à inocência de milhares de crentes, os 5 mais ricos pastores do mundo. Aliás, eles são muito ricos e capachos da classe dominante, como informou a Revista Forbes.

Pois bem, meu amigo, se já leste matérias que produzo aqui neste blog percebeste que sou profundamente respeitador dos religiosos e de suas denominações. Não discrimino ninguém, embora não precise concordar com todos. Sou professor de alunos de vários seguimentos religiosos e nunca me atritei com nenhum. Há pouco participei de um evento aqui em Goiânia chamado “Craques da Paz”. No Centro Cultural Oscar Niemayer integrei uma mesa redonda com pastores evangélicos, com judeus, budistas, espíritas, umbandistas, católicos romanos e outros para falar sobre a paz. Integro um grupo denominado “Vivência Ecumênica”, com participação de inúmeras denominações como luteranos, batistas, presbiterianos, episcopais, católicos romanos, espíritas etc. Presido uma instituição que objetiva trabalhar a consciência de cidadania, nacionalidade, direitos humanos, direitos sociais e milhares de projetos, cujo nome é “Irmandade Brasileira Justiça e Paz” – IBRAPAZ – integrada por variadas denominações religiosas entre cristãs e não cristãs. Seguidamente faço palestras e visito vários cultos de igrejas diferentes. Sinto enorme alegria em conhecer a diversidade religiosa de nosso País.

Neste artigo, contudo, pretendo enfrentar um mal que infesta perigosamente as relações sociais brasileiras. Titulo o comportamento de correntes ditas cristãs, principalmente em setores evangélicos e católicos romanos, de “religiosidade pau de arrasto da direita”. 

Pastores e padres marionetes da direita nacional e internacional não são novidades no Brasil. No caldo que se criou em torno de 1964, para favorecer o golpe de Estado contra a democracia, gerando o sufocamento das liberdades com perseguições, prisões, torturas e mortes de estudantes, mulheres, trabalhadores, intelectuais, religiosos e até de empresários nacionalistas, que acabou por render a soberania do Brasil ao imperialismo, contou com a participação de evangélicos e de católicos romanos. Igrejas presbiterianas, batistas e outras reuniram seus crentes para orar contra a invasão do comunismo e a dominação do Brasil pela União Soviética e por Cuba, segundo a paranoia que inventaram. Alguns padres, bispos e madames católicos romanos faziam novenas com o mesmo objetivo e promoveram a famosa “marcha da família com Deus pela liberdade” sob o princípio de que “a família que reza unida permanece unida”. 

Vale divagar um pouquinho para entender o que é liberdade para esses seguimentos de direita do cristianismo. Trata-se de fantasia de que o comunismo tira todos os bens das pessoas, manda matar quem tem fé e impõe a ditadura proibindo a liberdade de culto. Liberdade para esse tipo de pensamento medíocre é submeter-se ao imperialismo americano e às botas dos terroristas de direita, como aconteceu no Brasil de 1964-1985. 

Agora se impõe à luz do sol o fundamentalismo evangélico unido ao fundamentalismo de seguimentos do católico romano, estes bastante sustentados pela Opus Dei, pela TFP, pelo carismatismo e outros grupos altamente conservadores, mas apaixonados por dízimos e pelo poder político. 

Os fundamentalismos ditos cristãos são, reafirmo, essencialmente de direita e marcantemente de comportamento fascista e nazista. Eles não gostam que os analisemos. Logo nos acusam de julgá-los e de sermos intolerantes, fazendo o jogo do mecanismo de defesa definido por S. Freud, de projetar nos outros o que eles pensam e fazem. 

Aqui é bom que se ressalte que enquanto o pentecostalismo em outros países latinos americanos, como na Nicarágua, por exemplo, os crentes são revolucionários e politicamente progressistas, interessados na Pátria e no povo, aqui no Brasil seguimentos carismáticos, tradicionais e pentecostais são apêndices da direita capitalista e neoliberal, fundamentalistas fanáticos. 

Os fundamentalistas são extremamente “políticos” no sentido de que atuam em favor do mercado. O que obedece a uma lógica por parte deles. Temem o fortalecimento do Estado, principalmente de um modelo que invista nos direitos sociais e na elevação da consciência cidadã e de direitos do povo. Tremem em face da laicidade do Estado porque sabem que um povo consciente e culto não será massa fácil de manobrar nem de explorar. Avaliam que a qualidade de vida elevará a percepção de que fé e chantagem emocional na ênfase de curas e milagres não se coadunam, que conhecimento, ciência e educação popularizadas tirarão muitos “clientes” que sustentam o luxo e chantagem que os faz ricos e “influentes”. Por isso temem o Estado e sua alma laica.

Por serem de direita os fundamentalistas visam o poder, contraditoriamente, na tentativa de privatizá-lo nas mãos de uma confederação de igrejas. Querem o Estado, seja nos níveis municipais, estaduais e até federal. Ao eleger vereadores e deputados incham seus gabinetes de pastores e empregados das igrejas recebendo altos salários. Por isso também fogem da laicidade do Estado como o diabo da cruz. Via de regra, os “funcionários” crentes não aparecem aos postos de “trabalho” porque se dedicam à “evangelização”, afinal eles visam dominar o Brasil e fazê-lo o maior País “evangélico” do mundo, ainda mais com pré-sal, com petróleo etc. Já pensaste? Seria o paraíso para a direita angelical.

Caso tenhas dúvidas de que os fundamentalistas busquem o poder basta que recordes das eleições de 2010. O mais hostil de seus chefes, o terceiro pastor mais rico do Brasil e do mundo, Silas Malafaia, fez campanha eleitoral para José Serra. Em 2012 a mesma coisa. Ora, até mesmo as árvores aqui de minha rua conhecem a ideologia desse pregador gritão e do privatista neoliberal de direita, José Serra. E seus compromissos com os que já foram governo federal e do Estado de São Paulo. Malafaia e outros mobilizados por ele não esconderam e não escondem suas preferências ideológicas da direita fundamentalista. O teólogo Carlos Eduardo Calvani, ao reagir em face da composição e objetivos da “marcha com Jesus” acontecida em Campo Grande – MS em agosto de 2013, acertadamente escreveu (aqui): “Não nos iludamos. Os evangélicos têm um projeto de tomada de poder na sociedade brasileira. Os evangélicos têm um projeto político muito perigoso para o Brasil. Utilizam as Escrituras Sagradas do modo como lhes convém, para interferir na Comissão de Direitos Humanos, para propor ou alterar leis e infringir descaradamente as cláusulas pétreas da Constituição Federal. Eles se infiltram nos partidos e conseguem ser eleitos para cargos no executivo e no legislativo.” Adiante Calvai alerta para o risco que são certos evangélicos de direita: “São mesquinhos e egoístas. Seus princípios são os da promiscuidade “igreja-estado”. A bancada evangélica é, comprovadamente, a mais inútil do Congresso Nacional.

No fundo, seu projeto é acabar com as manifestações religiosas com as quais não compartilham, sejam elas católico-romanas, espíritas, do candomblé, umbanda ou de qualquer outra religião que não a deles; desejam interferir na orientação sexual privada das pessoas “em nome de Deus”; fazem acusações levianas de que o movimento LGBT deseja acabar com as famílias; querem dominar o Ensino Religioso nas Escolas Públicas e, se conseguirem tomar o poder, não hesitarão em se infiltrar nas forças armadas utilizando o potencial bélico brasileiro para seus objetivos.”

E mais, escreve Calvani: “Sim, matarão se for preciso, invocando textos bíblicos, o “Deus guerreiro” do Antigo Testamento e seus exércitos sanguinários; sim, destruirão o “Cristo Redentor” e qualquer outro monumento de outra religião; sim, se tiverem pleno poder proibirão o carnaval, festas juninas, romarias marianas, terreiros de candomblé e exigirão conversão forçada a seu modelo de vida e à sua religião; o fundamentalismo que os inflama não terá qualquer restrição em proibir shows populares, biquínis nas praias e utilizarão armas químicas para fazer valer seus ideais. Viveremos um “talibã evangélico”, com homens com o mesmo olhar raivoso de Malafaia, e gays internados em campos de concentração para que sejam “curados”.

Calvani tem razão quanto aos instintos de fome de poder e de terror desse setor distorcido da fé cristã. Tanto que a seguir os vereadores evangélicos fundamentalistas atuantes em Campo Grande desfilaram se revezando na tribuna em ataque ao seu artigo, sem nenhuma análise profunda nem aceitando a crítica. O risco à democracia e ao respeito é tão grande que Calvani recebeu ameaças, como ele mesmo relata: “Ele contou, por e-mail, que recebeu duas ligações anônimas de pessoas ofegantes na manhã de hoje. Como não dispõe de binas no aparelho telefônico, o reverendo, que está há três anos em Campo Grande, ficou assustado com a repercussão. Ele contou que sua esposa está preocupada com os filhos do casal, que são pequenos.”

Nota bem Lucas, eu não estava aí em Campo Grande quando aconteceu essa “marcha para Jesus”, na verdade marcha dos preconceituosos e dos fundamentalistas de direita. Por isso me socorro novamente do teólogo e professor de teologia em faculdades evangélicas, dr. Carlos Eduardo Calvani, que cita o triunfalista  Silas Malafaia, quando este se pronunciou aos esguichos e arroubos de estupidez no microfone luxuoso dos “santos” de direita. “Alguns dirão que estou exagerando. Porém, Malafaia disse ao microfone: “Nós declaramos que vamos tomar posse dos meios de comunicação, das redes de internet, do processo político, nós vamos fazer a diferença, vamos influenciar o Brasil com o evangelho de Jesus”. [Sabemos o  que ele chama de evangelho de Jesus].

Para definir sua marca os fundamentalistas se caracterizam por ser contra a esquerda e, como os fariseus do tempo de Jesus, pegam qualquer coisa que julguem errada para tumultuar o projeto nacional de desenvolvimento e a paz social. Nota bem Lucas, para os fundamentalistas não importa a verdade, mas o que eles denominam de verdade. 

Exemplifico com alguns pontos bastante evidentes. Seus defensores andam por aí em sites, jornais, redes sociais, TVs – eles são apaixonados por televisão – a pregar que o Ministério de Educação é contra a família. Dizem que agora importa uma família onde não haja pai e mãe, mas pai-pai e mãe-mãe. Disseminam o ódio aos homossexuais à exaustão, aferrados ao preconceito homofóbico, sempre de Bíblia em punho, torcendo-a a granel em atendimento ao comportamento discriminatório que os marca. 

Com relação aos que militam no campo democrático, socialista, marxista e progressista eles não poupam energia em acusá-los de ateus, de tentar transformar o Brasil numa Cuba, numa China, numa Venezuela e outros modelos determinantes de suas mentes delirantes. 

Para reforçar ainda mais a tese de que se robustece no Brasil o fundamentalismo com nuances moralmente conservadoras, com característas fascistas, é possível ainda arrolar intermináveis exemplos de como agem em busca do poder na sociedade. Darei mais dois, para não alongar mais esse texto.

No dia 25 deste mês o site Pragmatismo político noticiou o caso de uma patroa evangélica que perseguiu e constrangeu uma trabalhadora de sua empresa porque ela é católica. O preconceito é tão grande que a pregação era em torno da ideia de que se a trabalhadora se convertesse "se livraria do mal e se tornaria uma boa funcionária". Felizmente, denunciada à justiça a empresa indenizará a mulher por preconceito e discriminação.

Outra discussão que gira pela internet e demais mídias, principalmente em São Paulo, mostra a guinada lastimosa que a Igreja Metodista deu à direita, graças ao movimento carismático que começou em suas entranhas na década de 70. Com fortes conotações fundamentalistas cresce a influência dessa corrente conservadora dentro daquela igreja, retirando-a das relações ecumênicas e dos movimentos sociais. Culmina agora, de modo autoritário, em busca de poder, a caça às bruxas na UMESP – Universidade Metodista de São Paulo - uma das melhores instituições superiores privadas  do País.  O curso de teologia, nota A pelo MEC, onde Carlos Eduardo Calvani doutorou-se em Ciências da Religião, por pressão do outrora progressista Colégio Episcopal da Igreja Metodista, por chantagem dos carismáticos conservadores, como nos tempos da ditadura militar, faz varredura para expurgar os melhores e mais sérios professores com mestrado e doutorado, muitos deles reconhecidos e respeitados internacionalmente. 

Portanto, não há dúvidas de que os fundamentalistas não querem somente ir para um céu opaco e chato, mas buscam vantagens do poder onde quer que elas estejam aqui mesmo nesta terra, principalmente onde haja dinheiro, muito dinheiro. 

Em conclusão te diria que os setores “cristãos”, os de “religiosidade pau de arrasto da direita”, caracterizam-se por serem moralistas. Como nos tempos de Jesus apegam-se a aspectos morais para apedrejar e destruir quem não se comporta e pensa como eles. Transbordam aeticamente de seus arraiais para interferir odiosamente na sociedade. Portanto, temos tudo para denunciá-los e criticá-los. 

São divisionistas. Seus discursos raivosos e atitudes arrogantes são no sentido de se afirmar superiores aos demais e de dividir a sociedade entre os santos - eles - e os endemoniados, principalmente os de esquerda. Somente eles se têm como certos. Eles se pensam justos e  detentores de Deus, do céu e da prosperidade, acima e melhores do que todos.

São idólatras. Acusam católicos de serem idólatras, como o macaco falando mal do rabo dos outros. Eles idolatram a sua experiência de fé, que estigmatizam com certas manifestações corporais, vocábulos e frases rotineiras. Para eles somente quem aceita Jesus do jeito deles é cristão. Daí carimbam a aceitação de Jesus como uma experiência única e emotiva. Esta experiência vira idolatria: só quem a tem aceitou Jesus. Os outros, não. Nesse sentido seus discursos são sempre os mesmos. Mudam os textos bíblicos, mas a falação idolátrica é a mesma. 

Idolatram a leitura pessoal, individualista e não estudada da Bíblia. Leem-na literal e verbalisticamente. Ligam versículos com outros apenas pela semelhança de vocábulos, numa verborragia fanática sem sistematicidade. Não percebem linha teológica séria em nada. Sua leitura acaba não sendo da Bíblia. Por ser amarrada no experencismo idolatrado a Bíblia passa a ser leitura confirmatória do que eles pensam. A Bíblia é uma "santa" perfeita que eles "pedestalizam". Deus fala direta e individualmente com eles, sem os dados da revelação e da comunidade. Chegam a dizer: "Deus me falou..." Destroçam a história e a realidade. Tiram Jesus da história e o fazem personagem celestial, abstrato e poderoso, como um rei da antiguidade e da Idade Média. Assim atendem melhor a ideologia da direita, que não se apega a verdade alguma, mas tão somente a seus próprios discursos e definições.

Alegam que quando participam de seus cultos Deus se revela. Saem de lá felizes, aliviados e prontos para as batalhas contra o inimigo. Nunca vêm Deus na luta para transformar a sociedade injusta e massacrada pelo neoliberalismo, pois seus líderes os desviam de tais preocupações. Seus pastores são verdadeiros eleitos e ditadores de dogmas. Os pastores falaram Deus falou por eles. Ponto final.

Para os fundamentalistas o Brasil tem que ser alcançado por "Cristo", isto é, por eles, sem declarar publicamente seus objetivos debatidos em reuniões de obreiros e nas articulações com a direita pesada neste País e no exterior.  O povo, para eles, é pura massa usável e de manobra ou um detalhe para seus propósitos. 

Então Pai Lucas, o objetivo aqui não é falar do que não existe nem sermos preconceituosos com nossos irmãos brasileiros desencaminhados pelo fundamentalismo. O importante é denunciar a direita e suas artimanhas num dos campos mais sensíveis, que é o religioso, rico em mitos, fantasias e delírios. 

O grande desafio é a unidade em torno do Brasil, da justiça e da paz, que só acontecem com desenvolvimento soberano do Brasil e com a participação democrática e responsável de todos nós, sem espaço para a alienação e a manipulação.

Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.


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