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terça-feira

A esquerda brasileira abandona o povo em troca de Papai Noel




Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano

Amigo  Leôncio

Agradeço-te, meu amigo Leôncio, a atenção que me deste no nosso encontro de ontem. Apesar de discordarmos em alguns pontos relativos a questões políticas e estratégicas adotadas pelo Governo Dilma, da conjuntara nacional e mundial, nossa conversa, como sempre, desenvolveu-se respeitosa e rica para mim. Aprendo muito contigo e com teu vasto conhecimento de ciências políticas, incluindo nesse cabedal a percepção ideológica abalizada que tens da realidade brasileira e latino americana. 



Um dos pontos da nossa agenda conjuntural gira em torno da postura das lideranças de esquerda em face das frustradas, fracassadas e safadas investidas da direita, a mais abjeta e imunda de nossa história, parece-me. 

Respeito muito tua militância histórica no PT. Da mesma forma teu preparo e prática consequente. Mas, meu amigo, o maior partido de sustentação do governo federal parece um bichinho assustado, enfurnado num buraco, sem ação e sem compromisso com o povo brasileiro.  Claro, não é somente o PT que se encolhe em face da direita mentirosa e odiosa. Os partidos de esquerda da base do Governo Dilma demonstram desistir do povo, do compromisso com a democracia e com a Nação Brasileira. Ontem o Deputado Marcos Maia disse que em obediência à Constituição Federal poderá não obedecer o truculento, autoritário e de intenções duvidosas, Joaquim Barbosa, acompanhado de alguns pusilânimes ministros do STF,  na tentativa alucinada de atropelar a Câmara Federal na cassação de alguns de seus deputados, condenados ditatorial, arbitraria e descaradamente sem provas e com erros graves. 

Outras organizações como a CNBB, tão combativa durante a ditadura, esconde-se e não cumpre o papel profético que a circunstância de ameaças exige. A OAB também virou trincheira confusa que favorece a direita e não assume o importante papel na defesa dos pressupostos da justiça e da verdade, que lhe competiria. Outras igrejas antes sérias e de líderes preparados não ousam porque desistiram alienadas do ecumenismo social. As centrais sindicais que livraram Lula do golpe da direita histérica, que quase o levaram às cordas do impeachment, agora dormem preguiçosas como se nada acontecesse. A UNE, a UBS, a UJS, a JPL e outras organizações jovens-estudantis, nos tempos da luta contra a ditadura, das "diretas já", do impeachment de Collor, dos embates contra FHC, da solidariedade a Lula em seu primeiro governo, tão combativas e exemplares, onde se escondem, onde estão com Papai Noel?

Numa situação como essa me lembro do grande patriota Leonel Brizola que, ao referir-se ao golpe militar, disse que os milicos gorilas golspitas chegaram a Brasília na madrugada de 1º de abril de 1964 e tentaram abrir uma porta. Não encontraram ninguém. Entraram, não encontraram ninguém e ficaram. Não esperavam derrubar o governo tão facilmente como o fizeram, porque não encontraram resistência. Pois é, o mau cheiro de agora é o mesmo. Ninguém se mobiliza, ninguém sai às ruas, ninguém reúne o povo, que poderá cair numa escuridão imensa, sem consciência, presa fácil do fascismo. 

A impressão que sentimos é de que nossos combativos partidos de esquerda viraram meros corredores de candidatos e gabinetes eleitorais. Só pensam e agem em torno de eleições. Pensam as eleições como fim político e não como uma de suas pequenas ferramentas de lutas. Acham que os parlamentos e executivos burgueses são as únicas maneiras de lutar. Nem falam mais em povo, em classe trabalhadora, em desenvolvimento, em revolução muito menos. Termina uma campanha eleitoral e iniciam as articulações para as próximas. Voltam ao povo somente durante campanhas eleitorais. Esquecem que o poder é muito mais do que gabinetes de vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidência da República. Esquecem de que o poder ainda está longe do povo, infelizmente com muitos da esquerda dependurados mamando confortavelmente em suas tetas. 

Aqui em Goiás temos um flagrante exemplo do fracasso da esquerda no Brasil. Durante o “Movimento Fora Marconi”, que visava limpar o governo do Estado, retirando de lá o governador mais corrupto e elitista da história política brasileira, a esquerda não apareceu, não apoiou, não trabalhou e não explicou. O resultado é a sangria deste Estado entregue aos malfeitores, que desviam as riquezas da habitação, da saúde, da segurança, da educação, dos investimentos agrícolas etc, deixando o governo entregue nas mãos do crime e da alienação política. A esquerda, que conta com muitos empregos em setores públicos, não está nem aí para o povo. 

Na Argentina o povo nesse momento se mobiliza e vai para cima do judiciário de lá, igualmente golpista como o daqui e o do Paraguai, e luta contra a mídia ditatorial e mal feitora. A matéria abaixo desta mensagem, aqui mo blog, testemunha a mobilização do povo argentino, para nosso exemplo. No Brasil nossos lideres nacionalistas e populares encantam-se com Papai Noel e vão às compras, acompanhados de seus filhinhos e netinhos. A democracia tão suadamente em reconstrução que se lasque. 

A viagem do ex-Presidente Lula pela África, Índia e Europa é muito valiosa, porque sua voz experiente de um governo que livrou o Brasil das “guelas” neoliberais é ouvida pelo mundo todo. Mas logo que retornar deve retomar o seu lugar privilegiado, que o povo brasileiro lhe deu com honras, que são as ruas. Escutei de Lula uma vez em Campo Grande – MS, que ninguém conhece mais as forças das ruas do que ele. Realmente, quando fez campanha para eleger Dilma provou esse princípio. Da mesma maneira quando foi cabo eleitoral de Fernando Haddad em São Paulo. Quando Lula vai às ruas o povo o cerca, o povo o escuta. Como disse Delfim Neto, Lula é o único sujeito que quando fala em pobre sabe o que diz.

Lula procede do PT, mas o transcende. Lula é Brasil e é terceiro mundo. Não é possível que se cale quando Gurgel, Joaquim Barbosa, Roberto Jefferson, Marcos Valério, Gilmar Dantas, o implante, ridículo e medíocre Álvaro Dias, a mídia mais do que safada nas suas intenções e práticas golpistas e outros da mesma laia falem mais do que nossos líderes e tenham mais força do que nosso povo, do nosso desenvolvimento nacional, do que os avanços políticos que temos que fazer. Foi importante o que conquistamos, mas é insuficiente. É apenas inicial.

Calarmo-nos em face do noticiário de jornalecos como o Estado de São Paulo, de revistas bandidas como a Veja, diante de grosseiros como Joaquim Barbosa e indignos do cargo como Roberto Gurgel, Upus Dei, TFP e outros agourentos na linha de Aécio Neves, de FHC etc, é concordarmos que o povo deve mesmo é viver no desemprego, que a educação é apenas para os ricos, que a habitação deve ser coisa de mansão de elites nababescas, que o Brasil deve ser quintal do imperialismo americano e motel de suas prostituições. 

Calarmo-nos surdos à acusações dessa burguesia vagabunda e entreguista, que não tarda em difamar nossos líderes, de atingir sua honra em sua mais profunda intimidade, de ofender nossos heróis como o fez a rola bosta  Veja com Oscar Niemeyer, de desprestigiar nossa blogosfera e tal é sermos omissos e covardes.

Não meus irmãos e companheiros, a covardia e a omissão destroem as conquistas arduamente construídas. Não basta escrevermos e esbravejarmos pela internet. Temos que ir às ruas. Temos que ocupar o STF, a Globo, o Jornal Estado de São Paulo, o prédio da Veja e impedirmos o golpe. Joaquim Barbosa, Roberto Jefferson, Marcos Valério, Gilmar Martins, Roberto Gurgel e outros do mesmo buraco não chegam aos pés dos líderes que nosso povo construiu. Como lucro da mobilização educar-nos-emos como povo e como  sociedade brasileira sobre a luta e seus frutos, que são de toda a nação. Na verdade, essa direita rola bosta está acuada e temerosa de perder o pouco que ainda tem.  Mesmo assim não devemos, sob pena de traição nacional e social, lhe dar trégua.

Lutar contra a reconsolidação da direita como governo, como política, como justiça, como arte, como economia, como religião, como ideias, como valores éticos e morais não é nos debatermos contra pessoas, mas contra o sistema perverso concentrador de riqueza, de renda e de privilégios, como classe domiante e escravocrata, impedindo a distribuição de bens entre todos, principalmente entre os trabalhadores. É impedir que os promotores do mal, que os injustos e mentirosos, de longa história de traição e banditismo, ocupem o poder que deve servir a Nação e seu povo. Não nos iludamos Leôncio, os direitistas são iguais em todo o mundo. Aqui eles têm a mesma índole assassina dos que na Síria matam e derrubam o coverno legítimo e constitucional, em plena conivência com a OTAN e os Estados Unidos, como na Líbia que golpeiam e matam seu líder Kadaffi para entregar as riquezas ao imperialismo. Como na Venezuela onde golpearam Hugo Chaves e agora torcem por sua morte para ocupar golpisticamente o poder, já que são incompetentes nas urnas. Na nossa história brasileira recente temos testemunhos gritantes do alto nível de traição da direita brasileira. Mataram Getúlio Vargas com mentiras moralistas e, na triste era FHC, entregaram nosso patrimônio aos interesses imperialistas. Não temos que dar espaço a esses bandidos e criminosos. Numa linguagem religiosa os chamaria de pecadores, ímpios e diabólicos.

Nosso lugar não é o lado de Papai Noel, mas do povo, mobilizando-o e educando-o. 

Abraços críticos e fraternos.

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