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Descobertas novas ligações entre Marconi e Cachoeira


Dados da CPI mostram que número registrado em nome da Delta fez chamadas para telefone atribuído a Marconi Perillo

MURILO RAMOS E MARCELO ROCHA  Revista Época
Carlinhos Cachoeira e Marconi Perillo (Foto: Lia de Paula/Agência Senado / André Coelho/Ag. O Globo)

A CPI do Cachoeira, ofuscada pelo julgamento do mensalão, está quase encerrada. Em seus últimos esforços, porém, identificou chamadas telefônicas de envolvidos com a organização criminosa do bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, para o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Desde o início do caso, em fevereiro, Perillo afirma ter tido apenas três encontros “casuais” com Cachoeira. A CPI identificou outros indícios. Na noite de 15 de fevereiro, uma quarta-feira, o número (61) XXXX-8020, registrado em nome da construtora Delta, ligou duas vezes para (62) XXX-0545, que aparece na agenda telefônica de Cachoeira como sendo de Marconi Perillo. Pouco antes das ligações, Cachoeira estava em companhia de dois dos principais assessores de Perillo na ocasião: Eliane Pinheiro, sua então chefe de gabinete, e Edivaldo Cardoso, diretor do Detran. Nos dias anteriores a essas ligações, Cachoeira, que despachava no escritório da Delta, mantinha contato com o então senador Demóstenes Torres para tentar marcar audiência com uma "figura importante". Até agora Perillo negou os indícios de contatos seus com Cachoeira ou pessoas ligadas a ele.

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As investigações reforçam ainda mais a tese de que Carlinhos Cachoeira se aproximava de políticos para proteger seus ativos no ramo de jogos ilegais e ampliar negócios com a administração pública por meio da Delta. A Polícia Federal descobriu que Perillo vendeu ao bicheiro uma casa em um condomínio de luxo, em Goiânia. O dinheiro veio da Delta e passou por empresas de fachada. Segundo a PF, Perillo exigiu R$ 500 mil a mais na venda da casa para facilitar a liberação de recursos para a empreiteira. O dinheiro, de acordo com a PF, foi entregue a Lúcio Fiúza, ex-assessor especial do governador. No ano passado, Fiúza emprestou R$ 150 mil a Perillo, segundo a declaração de bens do governador encaminhada pela Receita Federal à CPI. Ainda segundo a polícia, Antônio Perillo, irmão do governador, falava com Cachoeira e orientava integrantes da organização sobre licitações públicas. Ao menos sete assessores de Perillo falavam frequentemente com Cachoeira, entre eles a então chefe de gabinete Eliane Pinheiro. A CPI encontrou ainda indícios antigos de ligações de Cachoeira com Perillo. Em 21 de setembro de 2007, Geovani Pereira da Silva, tesoureiro de Cachoeira desaparecido desde o dia 29 de fevereiro, ligou do número (62) XXXX-7602 para o (62) XXXX-4747. Esse número consta na lista de contatos telefônicos de Cachoeira (leia quadro abaixo) como sendo do governador Perillo. Os dados mostram que Perillo e integrantes de seu governo tiveram contatos frequentes com Cachoeira. Eles podem ter sido o canal mais usado por Cachoeira para fazer negócios com o Estado e drenar dinheiro público.

Apesar de tanta fumaça, a CPI não deverá descobrir se há, ou não, fogo. As novas ligações telefônicas de Cachoeira para um número de telefone identificado como de Perillo estão entre as informações que deveriam ser investigadas. A comissão poderia avançar em relação aos negócios de Cachoeira patrocinados por Perillo – e sobre o nível de influência do bicheiro no governo do tucano. Há perguntas sobre o relacionamento de Perillo e Cachoeira que não foram respondidas (leia quadro abaixo). Mas, por um acordo firmado nesta semana, nada disso deve acontecer. A CPI do Cachoeira deve encerrar seus trabalhos no dia 4 de novembro. Partidos da base de apoio do governo, com apoio discreto da oposição, preferem o fim da CPI. O governo e o PT temem novas denúncias sobre negócios da Delta com a União. O PMDB não está interessado em ver reveladas possíveis novas ligações da intimidade entre o dono da Delta, Fernando Cavendish, e o governador do Rio, Sérgio Cabral. O PSDB defende a CPI em público, mas gostaria que o bombardeio sobre Perillo acabasse. O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), ainda não defendeu a prorrogação dos trabalhos da CPI, mas disse estar preparado para entregar o relatório final até mesmo antes da data de conclusão. Sinal claro de vontade de encerrar o assunto. Se a CPI for mesmo encerrada, as investigações ficarão restritas ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde há um inquérito para investigar o caso. O relator do inquérito, ministro Humberto Martins, diz ser necessário investigar se Perillo avalizou interesses de Cachoeira, a venda da casa para o bicheiro e operações financeiras de Perillo no exterior.

Por intermédio de sua assessoria de imprensa, o governador Marconi Perillo afirmou nunca ter recebido ligações de diretores da Delta ou de Geovani Pereira da Silva. Diz nem conhecer Geovani. Sobre os números que aparecem na agenda de Carlinhos Cachoeira, Perillo afirma que as explicações devem ser dadas por Cachoeira e que não utiliza os números que constam da agenda do bicheiro. “Ao final, a CPMI não encontrará nenhuma ligação do governador Marconi com o senhor Cachoeira, e a central de vazamentos direcionados de documentos e gravações, comandada pelo PT, terá conseguido transformar a CPMI do Cachoeira em uma CPMI do governador Marconi”, diz o texto da nota enviada pela assessoria de Perillo. Com o fim da CPI, é possível que nada disso seja desmentido ou comprovado. Ficará o dito pelo não dito.

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