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terça-feira

Apoiemos essa greve e denunciemos o lixo linguístico



Prezada colega Professora Karina

Tenho imensa satisfação  em ser teu colega e amigo na Faculdade Delta. Admiro-te por tua capacidade de ser colega, demonstrando alegria e sorriso permanentes na convivência com teus colegas. Além disso,  imagino a tua luta imensa contra essa maré gigantesca de maus tratos com língua portuguesa, marcada por gerundismos baratos, por vícios e incorreções redacionais e orais. O pior de tudo é quando ouvimos, vemos e lemos boa parte de nossos colegas em toda a parte em níveis escrever e falar muito mal. Alguns até por ocupar cargos de chefia não admitem correções nem os “subalternos”, principalmente os puxa sacos e subservientes, ousam corrigir.    Há professores/as que trabalham disciplinas outras, que não a língua portuguesa,  que não se dão ao trabalho de aprender um bocadinho de gramática, tanto na fala cotidiana como na comunicação formal. Conheço um que fala muito em mercado, em defesa do neoliberalismo,  mas que comete erros de arrepiar e de doer os ouvidos, quando sou obrigado a ouvi-lo ou a ler o lixo lingüístico nos e-mails que nos envia. Cada vez que o ouço sofro de dores intestinais, além de marcar subrepiticiamente sua fala pelo ódio e pelo assédio moral. Ele e outros são péssimos exemplos para a formação lingüística dos/as alunos/as.     

Parece marca registrada que administradores/as de empresas, contabilistas, engenheiros, médicos/as, emferemeiros/as, psicólogos/as, jornalistas (esses são lamentáveis) e outros profissionais desobriguem-se ao respeito à nossa língua, puxando-a para o ralo da vulgaridade e da miséria cultural. Há pessoas dotadas de cursos superiores que se sentem mal em falar e escrever corretamente por temerem a pecha de pedantismo. No entanto, não se furtam à falta de ética de ser fofoqueiras, dedos duros, divisionistas, arrogantes, subservientes, puxa sacos, puxa tapetes, “nariz empinado” etc. Raciocinam que escrever e falar corretamente as tornaria formais e distantes do meio em que vivem. Confundem alhos com bugalhos.   Equivocam-se. Na verdade, o que torna as pessoas distantes das outras é a visão de mundo. As omissas, as alienadas, as subservientes à ideologia dominante é que se colocam fora do convívio dos iguais, num clima de enganosa superioridade. As pessoas que pensam, que refletem,  que falam e escrevem corretamente, mas que se inserem na luta por transformações e  que se articulam com o povo e com as pessoas com quem trabalham, num permanente espírito de serviço,  não são arrogantes nem contadas como tal. 

Há coisas ditas, principalmente ditas, que fazem doer os ouvidos, repito querida colega Karina.  Os tais de “a nível de”, “com certeza”, isso principalmente por parte de quem lida com a educação e com a ciência, cujos territórios são marcados privilegiadamente pelas incertezas, é inaceitável; o excesso de  verbos, chega a causar desarranjo intestinal, como por exemplo, “vou estar viajando amanhã”; erros como "a unha", "o dente", "o pulmão", "o quadril", "o rim",  "lavar a mão",  "mais" em vez de mas etc utrapassam a normalidade de nossa língua. Isso tudo torna o pensamento contraditório, confuso e estúpido. Afinal, vou, viajo ou estou? Tenho uma só unha etc? E o tal de gerúndio, então? Sofro quando tenho que ligar para a operadora de meu celular e ouvir aquele pessoal iniciar a conversa com a droga da pergunta: “em que posso estar te ajudando?”. Bah, tenho vontade, bueno, nem é bom dizer.   

Então, querida colega, parabéns por tua missão como professora de língua portuguesa na Faculdade Delta. Há momentos que tua tarefa parece inglória, imagino. Mas há que insistir, sem desânimo.

Na verdade,  queria te falar sobre a greve nacional dos/as professores/as. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) articula greve geral exigindo dos governos municipais,  estaduais e federal o cumprimento da Lei do Piso Salarial que determina que os/as professores/as de formação de nível médio, que cumprem carga horária de 40 horas semanais, não ganhem menos do que do que R$950,00. Viste o valor? É exatamente isso. Os/as colegas têm que fazer greve, piquetes, pressões e mobilizações para exigir ganhar não menos do que esse valor aí. Atualmente, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a grande maioria das prefeituras paga aos/às seus/suas professores/as entre R$587,00 e 1.011,39. 

A forma como os poderes públicos e privados lida com os/as professores/as é dos mais espetaculares maus exemplos de anti-educação. Nenhum/a professor/a trabalha somente as alegadas horas de regência de classe em sala de aula. A carga de trabalho que cada professor/a leva para casa em correção de trabalhos, provas e os malditos diários de classe é descomunal e atentatória aos direitos humanos, que causa doença, estresse e problemas familiares. Além disso, não há como os/as professores/as estudarem e fazer cursos sob esse regime de exploração e cansaço. Nessa perspectiva da safadeza do sistema de ódio à educação, que se implantou no Brasil desde o golpe que instaurou a ditadura em 1964, corroborado pelo neoliberalismo de Fernando Collor e de Fernando Henrique Cardoso, e ainda defendido por falsos educadores,  transformando o ensino em privilégio restrito à classe dominante e em produto comercial caro e de má qualidade para os/as trabalhadores/as, tem que sofrer mudanças. Efetivamente, essa luta se encontra na pauta das pressões dos/as professores/as em nível nacional agora, que devemos apoiar. Devemos reforçar em todas as frentes a luta para que 50% do Fundo Social do Pré-sal destine-se à educação. Os governos devem comprar vagas nas instituições particulares, onde não houver prédios públicos, para que nossa juventude estude gratuitamente e aumentar as capacitações salarial, teórica e prática de nossos/as professores/as.  É evidente que a educação não faz transformações econômicas, sociais e políticas, mas, como dizia Paulo Freire, não há como construir desenvolvimento sem ela. Esta é questão de direitos humanos. Esta é processo permanente. Como dizia Marx: os educadores devem ser educados, também. A educação justa em todos os sentidos é direito de todos nós. As lutas por mais justas condições para a educação são altamente educativas. Nessa luta até nossa fala e linguagem melhoram. Os/as professores/as que se omitem a elas incorrem em falta de ética e em falta de respeito à educação.

Por isso temos que  alegrarmo-nos com a vitória da democracia. Nos governos de Lula e de Dilma as lutas dos/as trabalhadores/as não são tratadas como caso de polícia, como fez José Serra e Geraldo Alkmim em São Paulo, jogando a polícia sobre professores/as, alunos/as, outros/as trabalhadores/as e a própria polícia quando entrou em greve. As lutas sociais nunca foram e nunca serão objeto de polícia, mas de políticas públicas justas. Só não percebem isso Nelson Jobim e Silas Malafaia, que votaram em José Serra por mesquinhos e medíocres interesses pessoais.

Abraços, amiga e Colega Karina. Votos de bom e vencedor trabalho na tua árdua missão de libertar o pensamento da mediocridade circunstante. 

Viva a greve dos/as professores/as. Viva a educação de qualidade, com professores/as bem pagos/as e politicamente comprometidos/as .

1 comentários:

  1. Prof. Orvandil,

    Interessantes suas colocações sobre o uso da Língua Portuguesa por nossos alunos e, principalmente, pelos profissionais já em exercício (inclusive professores). Realmente, há um caos linguístico circundando os meios acadêmicos e profissionais nos dias de hoje. Mas isso tem solução. As pessoas precisam de saber que há como solucionar esse problema. Hoje, temos vários cursos de aperfeiçoamento em língua portuguesa.
    Quanto à situação dos professores, também sou professora da Rede Estadual de Ensino. Sei muito bem como é a vida de um professor da Rede Pública hoje. Além da desvalorização salarial, há uma falta de respeito com o trabalho dos profissionais da Educação, em que sai um governante e entra outro, e tudo muda, como se o anterior nada valesse. Há um trabalho em determinada linha, de repente, aquilo tem que ser substituído por outra. O aluno é quem sofre as consequências. E o professor fica onipotente diante dessas situações. Há que valorizar o professor da Rede Pública, não só em questões salariais, mas também quanto ao respeito por sua formação. Não é necessário que os programas e diretrizes venham de CIMA para baixo, os professores estudaram, estudam e estudarão sempre. Eles são capazes de propor técnicas, diretrizes e projetos que podem ter muito mais sucesso do que pessoas que nunca entraram em uma sala de aula e desconhecem a realidade de uma escola pública.

    Para finalizar, como você me disse que poderia fazer críticas, não critico seu texto, que está muito bem redigido e disse o que muitos de nós, professores, gostaríamos de dizer. Critico o nome pelo qual me chamou. Houve uma pequena confusão.

    Um abraço,

    Karina.

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