Querido companheiro Max Altman
Li teu artigo sobre a confusão propositada que a direita
israelita faz entre sionismo e semitismo. Sua intenção é a de fundamentar o
racismo ideológico contra da luta pela instituição do Estado Palestino.
Creio, Max, que teu artigo é extremamente esclarecedor para
nosso público brasileiro. Aqui há amplos setores dos seguimentos cristãos que confundem o atual Estado nazi-fascita de Isarael com os semitas, o povo que se
tornou núcleo de um projeto profético de contestação à opressão originada dos
regimes escravocratas do Oriente Médio, África e Índia. Esse povo semita é
ancestralmente parente e familiar dos atuais palestinos, com quem há muito mais
comunhão do que com o rabinismo nascido do sionismo apoiado pelo nazismo e pelo
imperialismo bélico, com fortes raízes nos fariseus dos tempos de Jesus, sempre
aliados do império romano.
Sugiro a tod@s que leiam a competente análise de Max Altman
que posto abaixo.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela
paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, apoiando
os palestinos.
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MAX
ALTMAN 6 de Agosto de 2014 às 10:17 no site Brasil 247
Qualquer crítica a esses
governos, a sua política belicista e expansionista ou aos objetivos históricos
do sionismo leva os críticos a receber a pecha de antissemitas, e se forem
judeus, ainda a de traidores e de vergonha de serem judeus.
Faz tempo
que as forças da direita e extrema-direita em Israel, hoje amplamente majoritárias,
e as entidades do 'establishment' judaicos em todo o mundo, tentam criar a
matriz de opinião de que o antissionismo é a outra ou a nova face do
antissemitismo. Este argumento, produzido com o objetivo de criar a ilusão da
verdade, é inconsistente, incorreto e deliberadamente enganoso. A estratégia é
clara e serve aos interesses ideológicos dos sucessivos governos de direita de
Israel: qualquer crítica a esses governos, a sua política belicista e
expansionista ou aos objetivos históricos do sionismo leva os críticos a
receber a pecha de antissemitas, e se forem judeus, ainda a de traidores e de
vergonha de serem judeus.
A
identificação de antissionismo com antissemitismo é levantada como escudo
moral, esperto e cínico. É que antissemitismo carrega uma conotação milenar de
discriminação, perseguição, humilhação, condenação, extermínio de um povo pelos
detentores de poder nos vários momentos da História: Inquisição,
"pogroms", Holocausto ... Vasta parcela da humanidade defensora das
liberdades, dos direitos humanos, da justiça social, da convivência e
fraternidade entre os povos, da paz, em especial a partir do fim da Segunda
Guerra Mundial, e diante dos horrores do nazi-fascismo, passaram a ver a
discriminação contra os judeus como a mais abjeta das discriminações raciais.
Qualquer manifestação antissemita é imediatamente condenada e seus responsáveis
execrados.
Foi no
cenário de pós-Segunda Guerra Mundial que as Nações Unidas aprovaram a Partilha
da Palestina. Judeus progressistas não sionistas e de esquerda em todo mundo -
e pode-se afirmar que na altura tinham importante peso numérico - saudaram o
novo Estado. Afinal, a União Soviética saia da hecatombe mundial com enorme
prestígio. O Exército Vermelho, principal responsável pela derrota de Hitler,
salvara a humanidade da sanha do nazi-fascismo. E na sua ofensiva ao coração da
Alemanha nazista abriu as portas do sinistro campo de extermínio de Auschwitz.
Isto calou fundo na alma de grande parte do povo judeu. O episódio da
libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas marca nos dias de hoje a
lembrança anual do Holocausto.
Na
decisão da Partilha da Palestina a URSS logo se mostrou favorável ao anseio dos
judeus sionistas de se estabelecer nas terras ancestrais. A ideia de uma região
autônoma judaica já tinha se tornado realidade na criação – algo esdrúxula -
pelo governo soviético em 1934 de Birobidjan na longínqua fronteira com a
China, mas o projeto não foi adiante. Os Estados Unidos a princípio se
mostraram reticentes e a Grã Bretanha, por seus interesses na região, resistiu
o quanto pode.
Os judeus
progressistas não sionistas saudaram a proclamação da independência de Israel.
No conflito bélico que se seguiu, armas provenientes da Tchecoslováquia,
país-membro do bloco socialista, serviram para consolidar o Estado. Mas
criticaram duramente a expulsão e a pilhagem dos habitantes que há séculos
viviam naquelas terras, bem como os massacres praticados por organizações
terroristas judaicas como o Irgun e o Stern contra a população palestina.
Centenas
de milhares de judeus de todo o mundo emigraram para Israel. Muitos dos
sobreviventes da "solução final" simplesmente queriam iniciar uma
nova vida no país que se formava. A maioria acreditou na consigna de Theodor
Herzl "dar a um povo sem terra a uma terra sem povo", essência do
sionismo. Historicamente falso, porque aqueles territórios eram ocupados por
uma população autóctone palestina que convivia com uma população judaica, então
minoritária.
Os
fundadores da nação israelense eram militantes sionistas na Europa nas
primeiras décadas do século 20, bastante influenciados pelos ideais do
socialismo e da social-democracia. E isto se refletiu no modelo de país que
acabaram formando. Os dois pilares desta construção – e a marca daqueles
primeiros tempos – foram, na cidade, o Histadruth, a poderosa federação de
trabalhadores, no campo, os 'kibutzim', fazendas coletivas de forte inspiração
socialista (hoje reduzidos a uma expressão desprezível). Constituiu-se como um
Estado laico, embora com pesadas concessões ao segmento religioso conservador
especialmente no que dizia respeito aos direitos civis. Um expressivo
contingente populacional árabe permaneceu no território no novo Estado.
Partidos trabalhistas de centro-esquerda e esquerda sionista dominavam o
Knesset (parlamento) e o partido da esquerda não sionista que reunia judeus e
árabes tinha importante presença na cena política. A convivência com os
palestinos e os países árabes vizinhos era tolerável.
As coisas
começaram a mudar quando Israel resolveu estabelecer no começo dos anos 1950
com os Estados Unidos uma íntima relação geoestratégica. A situação foi se
tornando complexa e se sucedem guerras – nacionalização do Canal de Suez,
Guerra dos Seis Dias, Guerra do Yom Kipur, ocupação, atentados terroristas com
homens bombas, massacres – Munique, Sabra e Chatila, Intifadas, retaliações
sangrentas de lado a lado, o ódio se alastrando e o fosso da discórdia se
abrindo.
Houve
momentos em que as negociações de paz poderiam chegar a bom termo – Acordo de
Camp David, Acordos de Oslo. O assassinato de Yitzhak Rabin por um
fundamentalista de extrema-direita pôs tudo a perder.
Outro fenômeno foi uma radical mudança na composição demográfica. O denso fluxo imigratório dos judeus da ex-União Soviética e dos países árabes, além do crescimento da população religiosa judaica ultraconservadora nos anos 1980 fez com que a base eleitoral se inclinasse hegemonicamente para a direita elegendo, daí por diante e por grande maioria, partidos de direita e extrema-direita que hoje governam Israel.
Outro fenômeno foi uma radical mudança na composição demográfica. O denso fluxo imigratório dos judeus da ex-União Soviética e dos países árabes, além do crescimento da população religiosa judaica ultraconservadora nos anos 1980 fez com que a base eleitoral se inclinasse hegemonicamente para a direita elegendo, daí por diante e por grande maioria, partidos de direita e extrema-direita que hoje governam Israel.
O
sionismo dessa gente comandada por Netanyahu e Lieberman, pelas mãos de seus
cães de guerra, está cometendo crimes de guerra, ultrajando moralmente os
valores seculares do judaísmo. O repetido massacre de crianças, recolhidas em
abrigos das Nações Unidas, constitui uma grave e imperdoável violação das leis
humanitárias universais. Seria capaz algum ser humano sensível e justo defender
essa selvageria, a punição coletiva de um povo? O ser humano, seja ele judeu ou
não, que abomina o horror dos bombardeios a que se assiste em Gaza pode ser
acoimado de antissemita? Podem ser chamadas de antissemitas as pessoas que se
opõem à política sionista de extensão dos assentamentos na Cisjordania,
anexando aos poucos o que chamam de Judeia e Samária, ou seja, o "Grande Israel",
expulsando os palestinos para fora dessas fronteiras?
Circula
nas redes sociais manifesto de entidades progressistas judaicas de longa
tradição da Argentina, do Brasil e do Uruguai. Condenam a direita israelense e
o Hamas como cúmplices da destruição de qualquer avanço nas negociações em
direção a uma paz justa e duradoura. E propõe:
1. Um
imediato, incondicional e permanente cessar-fogo entre Israel e a Faixa de
Gaza, com a retirada das tropas israelenses. Que o cessar-fogo seja
supervisionado pelos capacetes azuis da ONU;
2.
Desocupação dos territórios palestinos, estabelecendo-se novas fronteiras com
base nas linhas existentes antes da guerra de junho de 1967 e respeitando-se a
resolução número 242, da ONU, aprovada em 22 de novembro de 1967;
3. A
implementação da fórmula dois povos para dois estados, com reconhecimento mútuo
e garantias para a segurança de ambos. Que o estado palestino tenha direito a
manter todas as instituições definidoras de um estado moderno;
4. O
combate a todas as manifestações de antissemitismo originadas no conflito entre
os dois povos. Repudiamos energicamente as tentativas de criminalizar todo o
povo judeu por conta de atitudes dos governos israelenses. Podem essas
entidades que tradicionalmente se opuseram e se opõem ao sionismo também ser
tachadas de antissemitas?
Israel
não é - e não pode ser o 'Estado Judeu'. Nele habitam atualmente cerca de 21
por cento de cidadãos árabes-israelenses. Um 'Estado Judeu' os excluiria e se
transformaria numa nação racista. Amplos setores políticos já vem propondo essa
limpeza étnica. O chanceler Avigdor Lieberman, por exemplo, líder do partido
Beiteinu (Nosso Lar) com forte bancada no parlamento, defende que os
árabes-palestinos sejam deslocados para algum território fora das fronteiras atuais
de Israel. Isto se chama limpeza étnica.
Há um
clima atual em Israel de patriotismo fanático, cego e opressivo. Já não é raro
se ouvir nas ruas de Tel Aviv e Jerusalém gritos de "Morte aos
árabes" e "Morte aos esquerdistas". É assustador. A História já
nos mostrou.
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