Querida
Professora Geovana
Conviver contigo e com tua turma maravilhosa nesses dias
durante os quais pensamos, refletimos e nos esperançamos com a educação na
História Brasileira foi fator de crescimento e de alegria.
Durante nossas aulas dissemos que pensar a história da
educação no Brasil é refletirmos sobre a própria história do Brasil, sobretudo
é colocarmos nossa consciência sobre o Brasil e nosso povo.
Pois bem, a história do Brasil registra um evento feio,
triste e manchado de sangue sobre o qual precisamos refletir para
identificarmos as causas que motivaram seus agentes a promover encenação ligada
ao golpe e aos crimes promovidos pela ditadura militar, que se abateu sangrenta
sobre nós, há 50anos.
Refiro-me à autointitulada “Marcha da Família com Deus pela
Liberdade”, a primeira acontecida em 22 de março de 1964 e a tentativa de
fazerem a segunda agora, neste sábado passado. Na primeira os promotores diziam
que “a família que reza unida permanece unida”.
Os inúmeros blogs e sites que noticiam a segunda marcha são
unânimes em identificar o fracasso da segunda marcha, apesar da violência e
fúria dos cães amestrados de guarda a rosnar para os que se opunham à sua sanha
e esquizofrenia política.
O fracasso deu-se em dois sentidos: o primeiro é o numérico,
coisa de algumas dezenas de ignorantes e de mal intencionados que se somaram ao
eventinho que se distribuiu por algumas capitais, não enchendo um avião. O
segundo, causa do primeiro e mais importante, é que o contexto da segunda
marcha diferenciou-se da primeira em muitos fatores. Um, foi o conhecimento da
história das causas malfadadas do primeiro. Através das redes sociais, debates
acadêmicos, conferências, fóruns, atos públicos etc milhões de brasileiros
debateram as causas da primeira marcha e onde desembocou.
A luminosidade da arte do debate de ideais e do enfrentamento
com a direita atrasada permitiu que as novas gerações conhecessem que o
primeiro movimento se articulou com atos militares traidores, com muito
dinheiro de empresários gananciosos, impatrióticos e perversos socialmente, que
despejaram dinheiro nas mãos dos golpistas para que promovessem o assalto à
democracia e com o sempre criminoso, terrorista e imperialista governo
americano, que deu apoio financeiro, militar e político para a loucura que
encheu o Brasil de trevas.
Obama encontra-se nesse momento envolvido com golpes e
terrorismos pelo mundo e não tem mais condições de se ocupar com sabotagens à
democracia aqui, embora fosse essa a vontade yank. Apesar de o mundo não mais
contar com a União Soviética também não é fácil para o império enfrentar os
Brics, a Unasul, o Conesul e a Alba, que constroem nova correlação de forças internacionais
e a multipolaridade política do mundo hoje, isolando a dominação imperialista. As
marchadeiras “religiosas” não sabiam disso. As coitadas não enxergam nada alem
de seus umbigos implementados a botox e a muitas plásticas, muitas menos
conhecem política e multilateralismo geopolítico de hoje. Aliás, até gritam que
não gostam de política e apregoam a ira contra os que chamam de políticos. O
fracasso de sua marchinha é o preço de sua ignorância e de seu consequente
fiasco e falta de respeito com a democracia e com a história.
As marchadeiras de religiosidade supersticiosa também não
sabem que nosso povo assume cada vez mais sua autonomia e emancipação como povo
e como classe social mais unida e pensante. As histéricas marchadeiras também
não sabem disso, pois unir-se a favor dos direitos humanos e na construção da
cidadania é a mais perfeita e permanente luta política, que as abomináveis e
subinteligentes madames não conhecem.
É claro, há muitos erros e entraves nos avanços políticos das
conquistas que iniciamos em 2002. Há muita crítica séria a fazer. Contudo, é
certo que as marchadeiras do diabo não fazem críticas. O que fazem é ofensa, é
chamamento irresponsável para a ruptura da Constituição Brasileira e para as
fraturas sociais, sedentas do retorno ao poder para vender o Brasil como
produto barato para o império decadente.
Um dos atores da marcha bestial de1964 foram as igrejas,
notadamente a Igreja Católica Romana. Seus bispos, afastados de estudos sérios
e do compromisso social, apoiaram o golpe em nome do medo ao comunismo. Pastores
de igrejas evangélicas também serviram aos interesses dos gringos invejosos do
nosso País e da felicidade do nosso povo e se somaram em apoio ao golpe insano.
É a isso que me proponho discutir contigo aqui, minha querida
amiga professora Geovana. Durante nossas aulas disseste que és espírita e ao
mesmo tempo demonstraste sensibilidade pela questão social que fundamenta a
educação no Brasil.
O que bispos, pastores e demais líderes religiosos devem
aprender é que não há fé no campo da direita.
Silas Mafaia, imensamente moralista e fundamentalista, de
repente abandona a fúria preconceituosa
contra os gays, os homossexuais e o casamento entre pessoas do mesmo sexo para
investir contra a Presidenta Dilma usando o mesmo discurso rançoso e acre da
mídia dominante, esta produtora e criadora de fascistas. O núcleo ideológico do
seu cérebro empobrecido de justiça social é o mesmo da histeria sexual. A
verborragia continua sendo de direita, intencionalmente.
Ele e outros da mesma estirpe raciocinam que é com a direita
que ganham visibilidade e que ganharão emissoras e redes de TVs próprias. A
esquerda não tem essas coisas e quando no poder defende a laicidade em tudo,
inclusive na comunicação. Por isso odeiam a esquerda e o socialismo.
Essa turma dita cristã, os denominados evangélicos – igrejas eletrônicas
e da falsa teologia, que chamam de teologia da prosperidade – e os católicos
romanos conservadores, como os bispos que apoiaram o golpe e a ditadura militar,
esvazia a proposta cristã ao aderir à direita.
Já puxei aqui vários autores que conceituam muito bem o que é
a direita. Numa discussão simples percebe-se que esses ditos cristãos deixam
Jesus para trás quando se misturam com discursos e práticas que orienta a linha
de pensamento e ação de direita.
A direita é historicamente a ideologia dos que concentram
riquezas e rendas, sem se importar com as mazelas humanas - crianças abandonadas, mulheres estupradas,
trabalhadores desempregados, jovens imolados no altar da marginalização,
miséria na educação, na saúde e matança nos campos. A direita valoriza o
mercado que é a soma de interesses do sistema financeiro usurpador da energia econômica
e social, do comércio de concorrência predatória, da produção rural com o único
interesse no lucro do que no alimento social e no amor à ecologia. A direita é
essencialmente corrupta. A moral para ela se centra na vitória dos negócios,
mesmo que destrua as pessoas e o mundo. A direita quando chega o poder age de
modo fascista transformando os problemas sociais em questões de polícia. Na ocupação
do aparelho de Estado privatiza os investimentos, mesmo que a custa de guerra
usando o poder militar. No poder de Estado e fora dele a direita é histórica e
socialmente geradora de injustiças e de misérias. Na história de governos de
direta as filas de pobres, miseráveis, marginalizados em tudo são extensas.
Então, como pessoas que se dizem cristãs, algumas delas
berram em púlpitos que seguem Jesus, podem ser ao mesmo tempo seguidoras de
Jesus e serem de direita, capitalistas e mesquinhas?
Não vejo nenhuma coerência nem relação entre ser cristão e
ser de direita, neoliberal, conservador e burguês. Jesus, que justifica o
sermos cristãos, não tem nenhuma relação com as práticas da direita.
Jesus abominou o Estado romano opressor e destruidor da vida
dos humildes. Jesus recriminou a riqueza como reforço do egoísmo e dos
privilégios.
Jesus ensinou amar os pobres e por eles lutar. Ensinou o
valor do ser comunitário e compartilhante.
Jesus entregou-se radicalmente ao amor. Chegou a afirmar que
todos reconheceriam seus discípulos pelo amor com que se relacionassem entre si
e com a humanidade.
Ora, a direita aferra-se ao Estado como poder para explorar.
Isso não tem relação com Jesus. Jesus ensina a distribuir as riquezas. O que os
ditos cristãos de direita vêm de coerência quando ajudam a explorar os pobres
ou se alienam frente à miséria?
Como os ditos cristãos de direita explicam que sua orientação
seja de ódio ao povo, à revolução, à justiça social, ao respeito aos diferentes,
se seguir Jesus implica amar radicalmente, principalmente os pobres e injustiçados? Nesse mesmo sentido, seguir Jesus
significa lutar pela partilha, pela comunitarização de tudo. Como os
direitistas que se dizem cristãos explicam tanta incoerência com esse ensino de
Jesus?
Não vejo nenhuma coerência ser cristão de direita, ser
capitalista e neoliberal. A única coerência que vejo para ser cristão é ser
socialista, é ser lutador pela justiça e pela paz, decorrência do amor que
Jesus nos ensinou a viver pela humanidade.
Ser cristão é ser naturalmente aliançado com o socialismo e
com a revolução, o sonho de paz social.
Fora isso temos um falso cristianismo, uma falsa fé. São apenas
fórmulas vazias de fé, puro farisaísmo e de um ateísmo vulgar, desgraçadamente desmoralizante da fé que Jesus nos deu. O materialismo dialético é muito mais
próximo do cristianismo do que a perversidade capitalista, que se ajoelha aos
pés do deus lucro.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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