Querido
Padre Gervásio
Nós dois conversamos seguidamente sobre o aniversário de uma
das maiores tragédias que se abateu sobre o Brasil, que prejudicou nossa marcha
na construção da justiça e da paz em nosso País. No próximo 1º de abril lembraremos
os 50 anos do golpe do mal, que gerou as trevas da falta de liberdade, das prisões, das torturas e dos assassinatos, além da venda e do atraso do Brasil.
Militares, empresários e religiosos se articularam para
empreender o golpe que emperrou nosso País a partir de 1964. Eu ousaria afirmar,
sem perdoar os implicados, que alguns foram ingênuos ao se deixar seduzir pelas
cobras do Norte.
Entristeço-me ver gente berrando por aí o mesmo
discurso sub inteligente e medíocre feito em 1954 e em 1964, contra Getúlio
Vargas e contra João Goulart.
Os discurseiros se exaltam falando contra corrupção, contra
ameaças comunistas, contra o que não definem nem sobre o que pensam (eles não
pensam porque não têm capacidade para isso), mas promovem pura histeria sem
sentido e sem ciência, com puro ódio visceral.
O que o golpe de 1º de abril de 1964 fez foi interromper
avanços que nosso povo brasileiro buscava com entusiasmo, com ardor, com paixão
e com debate nacional consequente, envolvendo todos os setores da Pátria.
O que o povo debatia e buscava?
O Presidente João Goulart, um fazendeiro gaúcho, sintetizava
fidelidade ao povo que pressionava o governo, o Congresso Nacional e o
judiciário a empreenderem reformas de base. Quais? A reforma bancária, forçando
os bancos, principalmente os nacionais, estaduais e regionais, a serem fomentos
de investimentos no desenvolvimento econômico e de incentivo às empresas
urbanas e rurais, acima do ímpeto do lucro desvairado da elite dominante nacional e internacional.
Para que servem os bancos hoje desde a ditadura, que
escancarou o País para a agiotagem internacional, fazendo com que os bancos se
transformassem em balcões de lucros de poderosos corruptos? Até mesmo nos
governos Lula e Dilma os bancos são antros de roubalheira do sangue econômico
do povo brasileiro. Não servem para nada no que se relacionam aos macros
interesses sociais. Portanto, o golpe atrasou o processo de desenvolvimento do
Brasil. Precisamos avançar e nacionalizar nossa economia, com grandes investimentos, sem desvios do orçamento e do tesouro nacional para doar aos agiotas.
Jango representava reforma fiscal. Os setores produtivos
pressionavam por mudanças no sentido de que os impostos fossem cobrados de quem
realmente pode e deve pagar, que são os ricos que usam o dinheiro público para
concentrar riquezas e fortunas, relegando quem trabalha à miséria e à
indignidade. A reforma exigia transparência na realização da aplicação dos
recursos provindos dos tributos, com distribuição de seu recolhimento na aplicação nos investimentos, impedindo injustiças
sociais patológicas, como as que a ditadura e o neoliberalismo posterior
geraram.
A partir da ditadura e depois com as manobras perversas de
Fernando Henrique Cardoso, contingentes amplos de nosso povo passaram a viver
nas ruas das amarguras e nos porões dos desesperos eivados de miséria, de pobreza
e de criminalidade.
Jango encarnava a inteligência de nosso povo e de sua
juventude, que avançava na luta pelas reformas educacionais. Isso representava forte
investimento na educação e ensino público gratuito, centrado na formação de
qualidade construção de cidad@s comprometid@s politicamente com seu País.
Depois do golpe de 1964 e, notadamente, na era FHC, a
educação deixou de ser educação para ser ensino. Isto significa privilégios
para elite dominante e fazer do ensino produto de negócios e
indústria de grandes riquezas para grupos privados, principalmente
internacionais.
Continua assim. O ensino que aí está, desde as séries iniciais
até os pós doutorados, são fontes de lucros comerciais para empresas privadas, nada
comprometidas com a educação e com o País. Seus donos odeiam o debate que clama
por formação de cidad@s contra o ensino domesticador e treinador de antas para
o mercado. A ditadura golpeou o desenvolvimento do crescimento intelectual de
nosso povo e atrasou o Brasil em décadas, sufocando várias gerações. O ensino
público virou sucata e moradia de aranhas e baratas. Ainda sofremos as
consequências do sucateamento da educação.
Nas pressões por reformas de base os trabalhadores rurais e
urbanos forçavam o compromisso do poder na reforma agrária. Isso enfureceu o
ódio dos proprietários de grandes extensões de terras improdutivas e
egoisticamente usadas para lucrar e gerar privilégios.
Até hoje o Brasil padece do mal imposto pelo golpe. O movimento
dos trabalhadores sem terra critica os governos Lula e Dilma por não promoverem
a reforma agrária justa e nacional, que já era reivindicada na década de 60 e até antes. Os assentamentos que fazem são medíocres e
sem um plano nacional de produção agrícola que atenda os interesses sociais,
contra a ganância dos que têm fome apenas de lucro, como é o caso do
agronegócio, aliado da Presidenta Dilma e da direitista bancada evangélica do
Congresso Nacional.
A nação aprofundava a redenção do País em relação do domínio
imperialista dos Estados Unidos. O povo exigia que no Brasil quem deveria decidir seria o governo por ele escolhido e ungido pelo voto. O povo exigia soberania nacional. A luta pela justiça social impunha a noção de que o Brasil deveria ser soberano na construção dos rumos a seguir. Jango assinou atos de nacionalização de inúmeras
empresas estratégicas, antes nas mãos de estrangeiros, para materializar a soberania e a governabilidade interna.
Como sempre, o que é estratégico e lucrativo, que pode
produzir dividendos que resolvam os problemas dos direitos sociais como educação,
saúde, segurança, mobilidade social etc as multinacionais se esforçam
para abocanhar e desviar a administração, industrialização e comercialização,
exportando o que é nosso para o império assaltante e explorador. O caso da
energia é exemplar. Jango estatizou o setor de energia elétrica. O ato definia
que a energia, desde sua geração até o uso pelo povo, deve ser de gestão do
Estado e não de grupos privados, muito menos estrangeiros, que podem boicotar a
energia em situações decisivas.
Portanto, as medidas tomadas pelo Presidente Jango
enfureceram o governo e as embaixada americanas no Brasil, que se juntaram aos
emburrecidos militares, empresários, padres, bispos e pastores brasileiros para
tingir nossa história de sangue, de trevas e de atraso.
Sugiro que assistas o documentário abaixo.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, em todas
as situações.
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