Querido amigo Wilson
Prometeste participar
do encontro de apresentação da IBRAPAZ – Irmandade Brasileira Justiça e Paz – à
sociedade goiana e goianense. Não apareceste talvez em virtude de força maior,
já que teu interesse em abrir um capítulo da IBRAPAZ no Mato Grosso do Sul é
enorme. Conheço tua capacidade, alegria, comprometimento e sei que lutarás por
essa causa.
Compartilho contigo
que o objetivo de apresentar a IBRAPAZ foi imensamente satisfatório. Uma
verdadeira multidão lutou o auditório Carlos
Eurico da Câmara de Vereadores de Goiânia. Trabalhadores, trabalhadoras,
professores, professoras, intelectuais, estudantes universitários, pastores,
padres, lideranças várias representando instituições, seguimentos religiosos,
como grande quantidade de evangélicos, católicos romanos, anglicanos, espíritas,
umbandistas, organizações femininas como a ONG Mestra e Federação de Mulheres
Goianenses, Associação de Mulheres de Aparecida de Goiana etc. O auditório
conheceu boa parte da aguerrida diretoria da IBRAPAZ, composta de pessoas
extremamente apaixonadas pela causa da justiça e da paz, muitas delas
conhecedoras na prática de grandes pancadas movidas pela injustiça e pelos
injustos. Algumas sofreram perseguições como prisões, torturas e ameaças de
morte durante a ditadura militar e o desemprego sob o neoliberalismo
entreguista e criminoso da turma de Fernando Henrique Cardoso. Algumas vagaram
pelo mundo em busca de refúgio e de trabalho, como o Prof. Laércio Julio da Silva
e a Profª Maria de Fátima Vieira. Laércio morou em vários países europeus e estudo na Universidade dos Povos em Moscou. Maria de Fátima morou e trabalhou em Paris e em Genebra, respectivamente na França e na Suiça. Estudou e é coordenadora de um curso superior em Aparecida de Goiânia. Todos se movem por imensa sensibilidade para
com o próximo.
O encontro do dia 23
de março de 2013, neste último sábado, teve como mestre de cerimônia o querido
amigo e companheiro prof. Laércio Júlio da Silva. Sua simpatia, alegria,
cultura e sabedoria inundaram de entusiasmo os presentes no encontro. Permeou a
animação do programa com poesias e frases do Padre Ernesto Cardenal, do
Arcebispo Desmond Tuto, de Dom Pedro Cassaldáliga e de outros, verdadeiras
chamas da real luta pela justiça e pela paz. O grupo musical e de dança RHEMA,
da igreja evangélica Comunidade Som da Noiva, pastoreada pela Pastora Adriana e
pelo Pastor Maurílio, foram a alma e a graça do encontro. Dançaram samba, música
africana, plenificando-nos de emoção e da proposta de que é possível fazer
liturgia com alegria, criatividade, dança e teatro. Seu grupo é composto de
jovens com histórias extremamente ricas de lutas e de superação. Ao final, muitas lideranças falaram e
mostraram-se sensibilizadas com as perspectivas da IBRAPAZ.
Coube-me a tarefa de explicar
o que é a IBRAPAZ. Construí o raciocínio a partir da figura de família, tendo
como papeis importantes as ideias de irmãos, irmãs, pai e pai. Inspirei-me no
Hino Nacional Brasileiro para descrever que somos imensa família com grande
lastro histórico que nos dá origem e subtância humana. Muitas dessas origens empurradas à
escravidão, ao desemprego, à inatividade, à miséria e à morte, como são os
casos de nossos irmãos indígenas, africanos, portugueses e outros, fazendo
com que nossa mãe gentil e do nosso pai, este solo, de quem somos filhos (figuras do
Hino Nacional), sofressem com seus filhos doentes, abandonados, pisados e
mortos. Eu disse que nossa mãe gentil carregou em seus braços filhos vítimas da
escravidão, do golpe militar e da traição neoliberal; que nossa mãe sentiu as
lágrimas correr pelo seu imenso rosto ao perceber o que faziam com seus filhos
ao jogarem-nos impiedosamente no meio de tantas desgraças. Nossa mãe gentil
nunca aceitou a morte de seus filhos e os cuidou mesmo mortos e os entregou a
seu pai, este solo, que os guarda sob vigilância na esperança de que nos
levantemos para defender suas memórias na luta pela justiça e pela paz.
Descrevi que há duas maneiras de reagir aos golpes dolorosos sofridos pelos
filhos desta Pátria, que nos faz IRMANDADE BRASILEIRA, na incessante luta por
JUSTIÇA e PAZ. Para tanto, baseei-me em duas poesias, que me foram enviadas pela
querida Profª Lízia Leão, coordenadora do Ensino Média da COOPEN, de Rio
Verde-Go. Uma é a poesia de Mario Quintana que define o que é ser DEFICIENTE. A outra é a do gênio brasileiro, Carlos Drummond
de Andrade, intitulada ALMAS PERFUMADAS. Tomei essas duas poesias, que declamei cada uma por
inteiro, como analogias para as duas reações tomadas historicamente pela nossa
família brasileira. Uma é a das mais tristes e indignas a ser assumida pelas
pessoas, que é a de ser “ALMA DEFICIENTE”: deficientes éticos, morais e
políticos. Essa é a atitude dos que sem ânimo para reagir e sem consciência
para tal aceitaram o jogo dos opressores, dos entreguistas, dos vendilhões, dos lesa
humanidade desalmados e arrastam-se como almas deficientes, subjazidas na
escuridão da alienação. Desde este fundo da caverna, como almas
deficientes, reclamam dos que são de almas perfumadas, dizendo que lutar é
bobagem, que não leva a nada, que não dá dinheiro. Como almas deficientes
vendem-se às algemas dos cegos, coxos, surdos e aleijados dos que nada vêem,
não andam em direção ao próximo, não escutam o clamor dos injustiçados e nada
fazem para transformar essa realidade, preferindo a apatia dos que pedem para
Deus mudar tudo ou a culpar o diabo pelo mal. São almas deficientes.
Na marcha dos ALMAS
PERFUMADAS alinhei os filhos da mãe gentil que se recusaram a calar e a ser
jogados ao fundo da caverna onde pululam os covardes e alienados, satisfeitos
com as siluetas miseráveis da realidade que vêm refletidas ao fundo de suas
almas embotadas. Como ALMAS PERFUMADAS destaquei o brio dos filhos da mãe
gentil que lutaram mesmo que sob perseguição, prisão e morte para defender sua
mãe gentil, seu pai, o solo pátrio e seus irmãos da IRMANDADE BRASILEIRA.
Mostrei que no próprio evangelho encontramos esses dois tipos de almas – as almas
deficientes e as almas perfumadas. Em Lucas o Bom Samaritano é exemplo de alma
perfumada: parou na estrada para pensar as feridas do próximo assaltado por
criminosos, para tomá-lo ao colo e erguê-lo até o lombo do cavalo e transportá-lo
a uma hospedaria digna e solidária. Na mesma parábola contada por Jesus Lucas retrata
a triste e vergonhosa atitude dos de almas deficientes, o sacerdote e o levita,
homens de culto, de Deus, mas homens de almas deficientes para o próximo em suas
dores. Por ser de almas deficientes passaram de largo deixando o próximo ferido,
abandonado e suscetível à morte, atitude de todos que são de almas deficientes.
O evangelho de Mateus desenha o Juízo Final com dois tipos de almas diante do
Rei que julga as atitudes em face dos “meus pequeninos irmãos”. Os de “almas
deficientes” dirão que nunca o viram nos que passavam fome, sede, abandono,
nudez, enfermidade, prisão, por isso nada
fizeram por Ele neles. Os de “almas perfumadas”, surpresos e humildes perguntarão
“quando te vimos nessas condições...?” O Rei responderá que cada vez que
fizeram pelos pequeninos foi por Ele que fizeram. É como se os de “almas
perfumadas” achassem pouco a luta que empreenderam pelos pequeninos e
massacrados, achando que deveriam fazer mais, muito mais. Os de “almas deficientes” acham
que é mais fácil rezar, orar e pedir a Deus pela justiça e pela paz que curam e
qualificam a vida do que ombrear a luta pelas transformações sociais e
erradicar as causas humanas que vitimizam irmãos e irmãs da IRMANDADE
BRASILEIRA. Os de almas deficientes preferem encher as mesas de bares e de
restaurantes para falar de futilidades do que entregar-se à luta. Outros de
almas deficientes agendam suas pobres vidas com pequenos programas familiares,
onde não exemplificam preocupação pelo próximo e não mostram nada aos filhos do
que se deve fazer na luta: suas almas são anãs e pobres. Os de almas deficientes
religiosos preferem pedir a Deus pelos pobres, pelos fracos, pelos abandonados,
pelos presos etc do que lutar para mudar a situação, enquanto isso enchem as
burras dos dízimos que arrancam do povo humilde.
Felizmente Wilson, há
muitos que são de ALMAS PERFUMADAS. Muitos deles estavam no evento de sábado. Muitos
de ALMAS PERFUMADAS se espalham pelo Brasil adentro. Suas histórias são
verdadeiras luminárias de exemplo de luta, de sacrifício, de desprendimento em
favor dos outros, de não acomodação medíocre. São trabalhadores, trabalhadoras,
intelectuais, lideranças comunitárias, lideranças religiosas, políticos,
negros, negras, indígenas, favelados, faveladas, empresários, empresárias,
agricultores, agricultoras etc. Alguns de almas perfumadas estavam no encontro
de sábado. Ao final do evento nosso mestre de cerimônia, meu grande amigo e
irmão Prof. Laércio Julio da Silva, vice-presidente da IBRAPAZ, apelou a todos
ao dizer: “JUNTEM-SE A NÓS”. Juntem-se a nós para sermos juntos “almas
perfumadas do perfume da justiça e da paz”.
UMA NOTA TRISTE, UM PROTESTO E UMA
CRÍTICA
Convidamos, querido
Wilson da Viola, todos os deputados estaduais, federais e senadores de Goiás,
as direções partidárias de todos os partidos deste Estado, líderes
sindicais, sem discriminação e sem exclusão de ninguém. Que achas? Avalias que
algum deputado estadual, federal, senador, direção partidária foi ou mandou
representante? Pensas que algum dos eleitos pelo povo de Goiás se comportou
como “alma perfumada”, com respeito a nós e em consideração pelos esforços em
favor da justiça e da paz e pelas milhares de pessoas que representamos? Não,
Wilson, ninguém compareceu! Alguns prometeram, ligaram e disseram que iriam,
outros nem a esse insignificante esforço chegaram. Não tiveram a menor consideração nem
respeito por nós. Denunciei-os no plenário, sábado. Disse que sua alienação é
deprimente, fria e traiçoeira. Disse que não têm interesse em escutar o povo.
Eles somente comparecem em eventos promovidos por eles, em campanhas eleitorais
para bater cinicamente nas costas dos eleitores e mamar votos dos incautos.
Suas almas são deficientes, bem ao estilo dos que acham que sabem tudo, que não
precisam aprender nada com ninguém. Por ser almas deficientes e preconceituosas
não foram e nem mostraram apoio. Ao se tratar de partidos de direita, aqui
enrolados e amancomunados com o corrupto governador Marconi Perillo, até
entendo. Esses partidos não gostam do povo nem da democracia. Eles amam os golpes
e os arranjos de bastidores em torno dos interesses da mesquinha e cega classe
dominante. Mas direções partidárias e parlamentares de centro esquerda e de
esquerda, por que não compareceram nem deram importância ao evento popular? Será
por inveja, por ciúme, por burrice, por medo, por receio de perder sua mania de hegemonismo, por terem relegado mãos do amor
ao povo, por terem vendido suas almas ao diabo ou por serem, na verdade, almas
deficientes?
Sinceramente meu
querido amigo Wilson Farias Lima, sou um cidadão que respeita as militâncias políticas
e não aprecio quando acusam generalizadamente nossos parlamentares, executivos e
partidos de serem oportunistas, que se dispõem a todos os “sacrifícios” em
vésperas de eleições, mas que abandonam o povo quando ele mais precisa. Mas a
partir de sábado me deixei invadir por muita indignação com esse setor.
Claro, muitas dúvidas
me assaltam em face desse desaforo dos parlamentares e dos partidos. Algumas
expus acima, mas outras me perturbam: enviei convites aos e-mails que
vereadores, deputados e senadores disponibilizam em seus sites. Será que assessores
puxa sacos não repassam aos titulares dos cargos no parlamento e nos partidos,
os convites que fazemos a quem elegemos? Ou será que os assessores parlamentares,
também pagos por nosso dinheiro público, competentemente repassam aos
parlamentares e direções partidárias de Goiás os convites que fazemos e eles,
mas realmente dotados de almas deficientes, mal educados, grosseiros e almofadas de
ocasião eles não se importam com nossas lutas porque estão nos parlamentos e
partidos somente em busca de vantagens pessoais? Ou será que parlamentares e
direções partidárias ocupam-se tanto com grandes eventos e multidões que não podem comparecer a um
evento que represente, segundo suas preguiçosas avaliações, pouco para suas
estratégias políticas? Os parlamentares e direções partidárias de Goiás fazem
questão de alimentar a ideia popular de que todos os “políticos” são vagabundos
e oportunistas?
Em todo o caso, para
mim, foi decepcionante que direções partidárias e parlamentares do Estado de Goiás não
comparecessem ao encontro que objetivava a apresentar mais uma alternativa
de lutas que pode muito bem reforçar o que se faz nos diferentes poderes da
República. Lamento esse desprezo que a IBRAPAZ sofreu por parte dos
parlamentares e direções partidárias de Goiás, já que muitos deles são católicos
e evangélicos. Com essa deselegância política nos pareceu que as almas de
parlamentares e dirigentes partidários são deficientes. Como disse nosso mestre
de cerimônias, Prof. Laércio Julio da Silva: esses políticos serão derrubados
por nós. Concordo. Seria bom que não desrespeitassem o povo que se organiza e
que se une!
Não é possível que
todos os que estávamos no Auditório da Câmara de Vereadores de Goiânia éramos
errados. Não éramos: buscamos desenvolver o quilate de “ALMAS PERFUMADAS”.
Parece que os de “almas deficientes” é que não compareceram, embora alguns até
prometessem.
Sugiro, Wilson, que
vejas nos sites da Câmara de Vereadores de Goiânia, da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal e dos partidos de Goiás quem não foi ao evento da IBRAPAZ. Todos os que estão lá não compareceram nem se justificaram. Eles estão acima do bem e do mal, até as próximas eleições.
Parlamentares e partidos viciaram-se no giro entorno de si mesmos, de seus gabinetes, de suas vaidades e de jogos de interesses mesquinhos. São apêndices sociais suscetíveis de virar apendicites caros e inúteis.
Parlamentares e partidos viciaram-se no giro entorno de si mesmos, de seus gabinetes, de suas vaidades e de jogos de interesses mesquinhos. São apêndices sociais suscetíveis de virar apendicites caros e inúteis.
Abraços críticos e
fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo
cabano, farrapo e republicano.
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