Prof. Luiz Machado Stábile
Meu querido Prof. Luiz Stábile
Aqui em Goiânia é um sábado feriado. Dia de meditação e de nostalgia para
quem gosta de refletir e de estudar, mesmo com as cãs expressivas. E é isso
que faço, enquanto sonho com uma sociedade justa, que minha morte antes de seu pleno
reinar impedirá de ver, respaldado pelo que aprendi desde cedo.
Lembro-me de ti com simplicidade, sem a intenção de te homenagear por minha incapacidade de te premiar à altura do que és, meu amigo professor de português, celebrando teu amor
e respeito à nossa maltratada língua, respeito que o amigo despertou em mim, mesmo que eu nada entenda da complexidade de nosso português. Nuca fui
diretamente teu aluno, mas sempre arranjei jeitos de entrar de “penetra” em
algumas de tuas aulas, curioso e sedento de te ouvir. Sempre me lembro do exemplo
da lata de pêssegos de Pelotas, que um aluno te trouxe para mostrar indicando que
no invólucro a palavra "pêssego" não aparecia acentuada, ao juízo de teu discípulo, correta. Olhaste para a lata à tua frente e de teus alunos no
auditório do Colégio União, eu presente, e todos em silêncio aguardavam tua
resposta. Tua surpreendente reação foi fatal, levando-nos ao riso gargalhado
para nunca mais nos esquecermos da lição: “esse fábrica pode entender muito de
doce de pêssego, mas não entende nada de português”.
Pois bem, meu irmão, tua história de vida, muito regrada e
justa tanto como professor e advogado, é exemplo de carinho com a educação e
com a justiça. Como professor, cristão e advogado atuaste no campo parlamentar na
condição de vereador respeitado de Uruguaiana. Sei que ainda atuas como
educador e advogado, para o bem de todas as pessoas que contigo convivem.
Como teu discípulo e admirador, confesso-te que minha alma se
perpassa de dor ao conviver com tantas injustiças e brutalidades,
principalmente reforçadas por quem deveria defender e promover a justiça, o
judiciário. Claro, sei que este não é o único esteio e fonte de seu torrencial,
mas deveria sua principal iluminaria.
Felizmente, contudo, onde tudo parece ser caos, num repente a
vida se mostra de modo forte e esperanço, sinalizando que a sociedade é o grande
órgão vivo humano que respira. Nesse sentido vale a pena ler o pensador Edgar
Morin, principalmente o seu livro “Os sete Saberes necessários à Educação do
Futuro", editado pela Cortez. Nesse texto, e em todos os outros livros que
produziu, Morin pensa o valor do caos como vitalidade necessária.
Critico seguidamente aqui o silêncio e a omissão dos profetas
e das organizações diante das injustiças que se derramam do Supremo Tribunal
Federal, sob provavelmente o pior e mais comprometido eticamente presidente que
esta instituição suprema do judiciário já teve, o senhor Joaquim Barbosa, o
maculador da justiça.
Muitas vezes me sinto voz isolada, principalmente como
educador e bispo. O campo das igrejas e religiões é minado pela direita e pela
mediocridade. Cada vez mais pastores e padres de Bíblia em punho traem a
história e os ensinos do Jesus da Palestina para se renderem aos negócios
neoliberais, próprios dos amigos de Judas, o que vende o Mestre e sua causa
libertadora. Nesse campo vendilhão não há lugar para a luta pela justiça nem
para o profetismo que denuncia a opressão promovida pelos integrantes do
apertado espectro dos 1% que roubam o sangue do mundo.
Mas a sociedade é viva e seus pulmões respiram os ares da
justiça. Assim como o ar corre em silêncio pelas vias aéreas a justiça ventila
quieta a consciência dos justos, de modo subversivo e militante.
Não me sinto mais solitário nem a espera do acirramento de
uma campanha eleitoral, oportunista para os aproveitadores de ocasião. O
Movimento dos Trabalhadores dos Sem Terra coordenará marcha em Brasília, no dia
29, para denunciar as borrascas de Joaquim Barbosa e de seus colegas que fazem
o jogo indigno da injustiça contra o povo e a Pátria. A Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB) como, que acorda e recupera sua veia histórica de luta pelos direitos
humanos e combate as vinganças odiosas promovidas irresponsavelmente por
Joaquim Barbosa. “Seis gaúchos entraram nesta sexta-feira (23) com um pedido de
liminar para suspender a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim
Barbosa, que vetou a solicitação do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) para
deixar a prisão durante o dia e trabalhar fora da prisão. A ação será relatada
pela ministra Rosa Weber. A ação é assinada por três advogados e três
estudantes gaúchos” (Contexto Livre).
Os seis gaúchos alegam que interferem a favor de José Dirceu
porque o atual presidente do STF transformou o tribunal em “juízo de exceção”,
como, aliás, já denunciei repetidas vezes aqui, apontando que as atitudes do
negro que virou as costas para os negros e para os pobres são indicativas do
desejo de golpe por parte de sua aliança com a elite dona da mídia. Continuam
os meus irmãos gaúchos: [somos] "Cidadãos conscientes dos seus direitos e
de suas responsabilidades, que cansaram em ver o principal Tribunal do Brasil,
a partir das opiniões e decisões de seu presidente, transformar-se em juízo de
exceção, mais discriminando do que cumprindo a prerrogativa de igualar os
iguais".
Do interior da Suprema Corte ouve-se a voz do ilibado
ministro Luiz Roberto Barroso afirmar que “A justiça, e sobretudo a
justiça penal brasileira, é dura com os pobres e mansa com os ricos..." (lê mais aqui),
além de ser burocratizada e lenta, tornando-se injusta, por isso.
A [in]justiça feita por Joaquim
Barbosa em conluio com Marco Aurélio Mello, o defensor do golpe militar como
mal necessário, do fazendeiro Gilmar Mendes e do vacilo dos que não têm provas,
mas condenam porque a literatura jurídica lhes permite, perde força quando os
ares da sociedade viva forçam as portas emboloradas pela umidade apodrecida dos
juízes que se vendem.
Não há dúvidas de que mais sinais de vida social e
compromisso com a justiça nascida, desejosa de ser sustentada e de ser servidora
da democracia se manifestarão, sem medo de degola, como aconteceu com João, o
Batista.
Os ares da justiça social, mãe de todas as
justiças, devem soprar fortes sobre o Centro Oeste, no Distrito Federal, e
forçar seus ministros, principalmente o que mais deveria ser justo a compreender
o que ensinou Sócrates: "Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir
atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente."
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e
pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano,
em todas as circunstâncias.
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