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terça-feira

Carta aberta à Miruna, filha do Deputado José Genoino




Querida Miruna


Permite que respeitosamente te diga que tua consciência, compromisso e visão sociais me impressionam profundamente. 


Não sou foco aqui para nada, porém me permite que te diga que sou pai de 3 filhos absolutamente maravilhosos. Às vezes até penso sobre como posso merecer tanto ao ser presenteado pela vida que me deu a missão de exercer a paternidade com pessoas grandiosamente especiais, inteligentes e cultas como os meus filhos. 


Nada é por acaso, querida Miruna. Meus filhos funcionam em minha subjetividade como poderosos atores que me possibilitam sentir e perceber o mundo de modo mais justo, como o palco da vida por excelência, creio. 


Meus filhos são imensamente críticos. Eles me ensinam que filhos não toleram mentiras, injustiças e malversação da verdade essencial da vida. Quando sentem algo dizem sem rodeios, pois se sabem suficiente amados para não serem rejeitados no caso de se equivoquem em algum juízo. 


Porém, Miruna amada, os filhos se entregam absoluta e totalmente ao respeito aos pais que lutam por um mundo mais justo. Tanto é assim que eles se deixam, a seu modo, orientar por valores que avaliam ser válidos na existência e missão de seus pais.


Neste ano a minha filha mais velha me enviou um  e-mail que me “tonteou” por muito tempo. Contou-me que decidiu seguir o caminho da psicologia social graças a participações que tinha comigo numa missão que eu liderava numa favela em Porto Alegre. O trabalho que ela desenvolve agora na capital gaúcha e em Canoas segue nesse rumo. Meu Deus, quanto orgulho e alegria sinto com esse testemunho. Ela namorou e casou com uma pessoa, também crítica socialmente, dr. e professor de uma  universidade federal em Pelotas, que compactua com ela em suas posições ideológicas. 


Então, minha querida irmã Miruna, sou pai de dois filhos mais ou menos de tua idade, tão cultos, inteligentes e críticos quanto tu. 


A experiência que vivo com meus filhos, que não dependem em nada de mim, me permite te entender perfeitamente. Acompanho-te desde que escreveste tua primeira carta defendendo a honradez de teu pai José Genoino, homem que respeito e amo profundamente. Não guardo dúvidas do quanto o estudaste e o questionaste, principalmente na tua passagem pela adolescência. O resultado de tanto questionamento é tua compreensão refinada da mais profunda humanidade, generosidade e ética social de teu pai. Jamais amarias tanto um crápula e ladrão do dinheiro público, como a mídia e a direita insanas querem fazer a opinião pública acreditar. 


Estarreço-me, amada Miruna, com as barbaridades que vejo da impiedade da mídia, da direita e dos “inocentes” burros e mal intencionados das redes sociais. Eles são de tal monta cruéis que confundem justiça com corrupção, com mentiras, sobretudo com vingança e ódio. Abaixo posto artigo brilhante do Jornalista Paulo Moreira Leite em que identifica os horrores que os imbecilizados donos da verdade escrevem contra Genoino. Esses certamente, os que são filhos, não tiveram bons e exemplares pais e como pais não têm nada a apresentar de justo e ético aos seus filhos. Por isso despejam ódio, calúnias e terror pelos dedos quanto digitam tantas ameaças porânicas, que se originam nos arquétipos pré animalescos irracionais. 


A prisão de teu pai por Joaquim Barbosa é denúncia contra o próprio atraso que esse juiz, que desgraçadamente preside o STF, eleito de maneira irresponsável pelos seus pares, graças às pressões da direita. A situação da saúde de teu pai, um homem bom e justo, causada por um traidor dos negros, dos pobres e da justiça, mostra que em nada se fez justiça. O que fazem é ódio, rancor e injustiça. Joaquim Barbosa representa os piores e mais perversos sentimentos humanos.


Paulo Moreira Leito compara com razão o caso de teu pai com o de Vlademir Herzog, aquele patriota assassinado no Dói-Codi de São Paulo e que depois os facínoras ditadores disseram que se suicidara. Se teu pai morrer na prisão os golpistas, começando por Joaquim Barbosa, não titubearão em mentir que ele se suicidou. 


Desde o espetáculo mórbido de sexta-feira, algumas dúvidas angustiantes me perturbam e me adoecem, querida Miruna. O circo desumano que Joaquim Barbosa comandou, ao prender e transportar teu pai e mais 10 “condenados” em um avião da Polícia Federal, gastando R$30.000,00 desnecessariamente, com os serviços de policiais federais, outrora traidores da democracia ao prenderem, torturarem e matarem ativistas da Pátria, ocupou os serviços sob as ordens do Ministro da Justiça, afeto à Presidente Dilma, do mesmo partido de teu pai. 


Noutras palavras, objetivamente quem mandou prender José Genoino foi a própria Presidente da República? Isso quer dizer que ela concorda com essa lambança mentirosa que Joaquim Barbosa montou ao relatar esse processo chamado Ação Penal 470, tudo contestado por outros juízes, advogados e intelectuais sérios? 


Outra pergunta que me perturba profundamente em face da tua consciência, de tua mãe, de teus irmãos, minha e de milhões de brasileiros, de que teu pai, José Dirceu, Delúbio, Henrique Pizzolato e outros foram condenados sem provas, atendendo a objetivos escusos da direita que arma-se para voltar inteiramente do poder, e por que ninguém do PT nem dos outros partidos se move para mobilizar a sociedade contra as ameaças graves de golpe? Por quê? Será que esperam, sentados, que o golpe se consuma? Quais as articulações constroem para impedir que a República seja nova e absolutamente assaltada?


Outrossim, amada Miruna, creio honestamente que teu pai é inocente e é homem justo. Além de todas as provas teu amor a ele é a maior das provas.


Abaixo posto o excelente e alertante artigo de Paulo Moreira Leite.


Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.

Dom Oravandil: bispo cabano, farrapo e republicano.

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Paulo Moreira Leite

Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher que Era o Outro General da Casa".

O que Herzog pode ensinar sobre Genoino

Qualquer problema que Genoino possa enfrentar na prisão pode transformar-se numa tragédia política de consequências imprevisíveis

Ao apresentar o pedido de transferência para o regime de prisão domiciliar, o deputado José Genoino coloca uma questão complicada para o presidente do STF, Joaquim Barbosa, que terá a palavra final sobre a decisão.

A solicitação de Genoino, apoiada em vários laudos médicos, deixa nas mãos do Estado toda responsabilidade por qualquer problema que possa lhe acontecer.

Se essa situação já fora juridicamente estabelecida no momento em que Genoino se tornou prisioneiro, como ocorre com todo cidadão encarcerado, ficou ainda mais clara depois do pedido de transferência, que serve como um alerta para sua condição médica.

Cardiopata grave, segundo médicos que o examinaram, qualquer problema que o deputado possa enfrentar na prisão – como uma arritmia grave, ou mesmo um enfarto – pode transformar-se numa tragédia política de consequências imprevisíveis.

A jurisprudência firmada é conhecida. Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi massacrado pela tortura no DOI-CODI paulista. Três anos depois, o juiz Márcio José de Moraes assinou uma sentença que teria um peso importante na democratização do país, responsabilizando a União pela tortura e morte de Herzog.

Do ponto de vista da conjuntura política, não há semelhança entre as duas situações. O Brasil vive hoje sob o mais prolongado regime de liberdades de sua história, preparando-se, pela primeira vez desde 1930, para a sexta eleição presidencial resolvida pelo voto direto, em urna. Não há tortura nem execução de adversários políticos.

A semelhança se encontra na responsabilidade do Estado. É a mesma, num caso ou em outro.

A gravidade do estado de saúde de Genoino é um fato difícil de contestar. No final de julho ele se encontrava entre a vida e a morte quando fez uma  operação de emergência na artéria aorta, que foi parcialmente substituída por um tubo de material sintético.

Dois meses depois, quando apresentou o pedido de aposentadoria por invalidez apresentado ao Congresso, Genoino incluiu uma avaliação da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre sua doença: “As doenças da aorta,” mencionou, “são patologias com morbi-mortalidade elevada. Tanto o tratamento clínico como o cirúrgico ainda estão relacionados a elevadas taxas de mortalidade,tornando esse grupo de patologias alvo de extrema importância no tópico das patologias graves.”

No laudo que assinou depois de uma consulta de madrugada no presídio da Papuda, o doutor Daniel França registrou riscos provocados pelos problemas de coagulação de Genoino, que
podem produzir trombose ou sangramento.

Se você entrar no melhor hospital da cidade, do bairro, do mundo, irá comprovar que a medicina mais avançada não abandonou o estágio de filosofia pré-socrático – quanto mais sabe, mais sabe que nada sabe. Como sabe qualquer paciente que já visitou um cardiologista, em particular, o grau de certeza dos prognósticos para doenças do coração é um dos mais incertos que se conhece.

Os casamentos entre medicina e política são antigos mas nem sempre trazem bons frutos, o que recomenda às autoridades  assegurar uma autonomia respeitável aos veredictos médicos.

Para ficar na legislação trabalhista, as audiências da Justiça do trabalho estão cheias de casos que envolvem empresas que desprezaram recomendações determinadas por seu
departamento médico. Não é só.

Um dos traços mais vergonhosos do regime militar consistiu em subordinar os médicos a seus interesses. Doutores que hoje  escondem a verdadeira identidade dos vizinhos, dos parentes e também de filhos e netos eram chamados a aconselhar torturadores na aplicação de eletro-choques e outros maus tratos.

Em sua ausência absoluta de compromissos com a vida humana, doutores alimentavam a ilusão megalomaníaca de que haviam descoberto a fronteira científica entre a vida e a morte, definindo exatamente a hora em que a violência deveria ser interrompida – e quando poderia ser reiniciada. Em sua agonia, que  envolve mistérios profundos até hoje, o ex-deputado e empresário Rubens Paiva teve a companhia de um médico dessa categoria, a quem disse o nome, momentos antes de desaparecer.

Não há, obviamente, a mais leve relação entre estes universos, de 1970 e 2013. Nenhuma.

O perigo se encontra num eventual namoro com situações de risco. O problema, aqui, não é médico, mas político.

Vivemos num país onde a noção demagógica de que a delinquência de toda natureza – inclusive no universo político -- se resolve com violência aberta e punições cada vez mais duras. Essa visão costuma ser estimulada 24 horas por dia por autoridades policiais e políticos conservadores.

São pessoas que consideram direitos humanos como sinônimos de mordomia para criminosos e garantias constitucionais como eufemismo para a impunidade. O ibope para ideias selvagens – como pena de morte – é altíssimo nesses círculos. O mesmo vale para a proposta de redução da maioridade penal.

Essa visão inclui atitudes de desrespeito pelos direitos mais elementares dos presos da ação penal 470 – e aqui também o caso de Genoino tem semelhança com os piores momentos de nosso passado.

“Morra!!!,” escreveram cidadãos com nome e endereço nas redes sociais, quando leram a notícia de que o deputado havia ingressado com o pedido de prisão domiciliar. “Morte aos terroristas,” berravam cidadãos comuns quando equipes do porão militar prendiam militantes da luta armada para encaminhá-los para salas de tortura.

O pedido de Genoino certamente irá provocar reações desse tipo.

Mas tem a utilidade de mostrar ao Brasil o caminho do Direito e da Democracia, que todos aprendemos a valorizar após um aprendizado longo e difícil.


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