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quinta-feira

O mercado é o suprassumo do ódio, da estupidez, da miséria e da fome





Querido economista Lindomar

Honro-me em ser teu amigo e sou agradecido por me ajudares a diminuir minha enorme ignorância sobre economia.  Porém, ao conversar e debater contigo, consigo me iluminar na compreensão da complexa realidade econômica, social e política do Brasil, da América Latina e do mundo.

Alguns pontos do debate sobre a relação do mercado com a produção de alimentos, a marginalização de 70 milhões de pessoas e o papel social e generoso do Estado têm que ultrapassar as pesquisas, as “boas” intenções e os discursos.

Aqui pelo Brasil e pela América Latina transitam turistas contemplativos da miséria e da pobreza e até alguns “caridosos”, que saem por aí a fazer campanhas pela Europa e pelos Estados Unidos em favor dos “pobrezinhos” que sofrem tanto com a pobreza. Mas esses infelizes que se “emocionam” ao ponto de lagrimejar com o sofrimento do próximo jogado na miséria – literalmente jogado na miséria, porque o ser humano não é feito para viver e morrer na miséria – nada fazem para pressionar as mudanças mais profundas. Os tais atos de caridade apenas amenizam a fome mas não a resolvem em profundidade, até porque os caridosos não têm consciência do que fazer nem interesse. Têm medo de denunciar os responsáveis que causam a destruição de contingente escandaloso de pessoas que morrem de fome. Se denunciarem os causadores temem que eles cortem as esmolas que lhes dão para suas mesquinhas caridades e viagens, que, na verdade, apenas servem para atenuar as culpas e sensações de inutilidade de suicidas vazios na Europa, particularmente na Suíça e na Suécia.

A morte pela fome não ocorre por causas naturais nem porque as pessoas sejam esquecidas por Deus e abocanhadas pelos demônios. As causas são políticas, econômicas e sociais e têm culpados, que ganham com o abandono e fome das pessoas. Uma das causas é ganância por lucro com os alimentos. É triste, feio e vergonhoso saber-se que há grupos tão canalhas que são capazes de se deixar custear pelo roubo e assalto às fontes de alimentos no mundo. O agente de tal tragédia, sem dúvidas, é o odioso mercado, que insanos e ignorantes tanto defendem na academia e nas instâncias de poder.

O odioso mercado cerca os bens e as fontes de alimentos com poderosa estrutura que envolve:

· os bancos na sua fome de lucro e de poder econômico. Esse sistema desgraçado é tão diabólico e poderoso ao ponto de domar os governos, dos parlamentos e do judiciário, com o objetivo de travar as soluções em favor da produção e distribuição de alimentos de qualidade  para o povo. Exerce tal gama de pressão comprando o egoísmo, a estupidez e a mesquinharia de muita gente em todos os setores do poder;
· o aparato militar-policial: armas das mais tecnologicamente poderosas no mecanismo de extermínio, militares e policiais são treinados para odiar e destruir o ânimo dos que passam fome, empurrando-os para locais invisíveis dos olhos poderosos e dos turistas. Impressiono-me com a frieza e desumanidade de militares e policiais jovens e adultos que, sem coração, batem em crianças, jovens, mulheres e velhos e até matam para blindar os interesses dos ladrões de alimentos, que enriquem com a fome de 70 milhões de pessoas que morrem de fome anual no mundo;
· a superestrutura imobiliária: é escandalosa a concentração de terras em poucas mãos de proprietários egoístas e medíocres socialmente,  que as usam para especular ou produzir alimentos para o mercado e para as grandes transações financeiras, sem a menor sensibilidade com os milhões que morrem de fome, sem necessidade para tanto já que ainda o planeta terra dispõe de potencial para alimentar tranquilamente 12 bilhões de habitantes anuais, com justiça;
·  a mídia dominante contribui desgraçadamente para incentivar a especulação com alimentos em detrimento dos irmãos e irmãs humanos/as que morrem de fome todos os dias. Ela se cala diante da miséria e da fome. Quando se manifesta o faz na tentativa de destruir as iniciativas em favor de reformas mais profundas na  produção e de distribuição equitativa de alimentos. Uma vez o então Presidente Lula vestiu na cabeça um boné do MST. Pronto, bastou para a mídia dominante fazer enorme estardalhaço contra ele dizendo que o Brasil corria o risco de ser dominando por uma revolução anarco sindicalista, que roubaria as terras dos “santos” e intocáveis grandes proprietários. Claro, Lula tomou algumas pequeníssimas iniciativas em favor da reforma agrária, nada mais profundo do sentido de desapropriar as terras nas mãos de 1% de proprietários que dominam 99% das fontes da produção de alimentos. Até nisso é necessário regulamentar a mídia, mesmo que o governo Dilma se amedronte de fazê-lo, para que a realidade da produção e distribuição de alimentos apareça à luz do dia e diminua a função especulativa de engordar as contas dos poderosos, como acontece intensamente ainda;
· a imobilidade dos movimentos sociais e dos partidos, em particular, que pouco ou nada fazem para denunciar a iniquidade da produção e compartilha dos alimentos e para construir soluções de fundo, já que o mercado e o capitalismo são absolutamente incapazes de solucionar esse grave problema. Enfim, as causas se enfeixam na que mais resiste.


A verdade, meu querido amigo, que não é possível calar em face de tais barbaridades que causam a fome e sua mortalidade, mortalidade de milhões de pessoas no mundo. Felizmente há pesquisas sérias que demonstram a real situação atual. Há denúncias que expõem os crimes praticados por grupos poderosos, os verdadeiros responsáveis por essa situação. É preciso que o povo organizado amplie as organizações e estenda os braços da luta para mudar a base desse problema.

Abaixo posto um artigo que grita, sei que ouvirás os gemidos que soarão aos teus ouvidos ao lê-lo e não te calarás. O texto de José Coutinho Júnior é uma reportagem que denuncia os crimes dos especuladores e a necessidade de julgá-los pelos males que fazem à humanidade. “O sociólogo suíço Jean Ziegler, ex-relator especial para o Direito à Alimentação da Nações Unidas (ONU), denunciou que a fome é um dos principais problemas da humanidade”, escreve Coutinho Júnior.

Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.

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13 de maio de 2013
Por José Coutinho Júnior
Da Página do MST


O sociólogo suíço Jean Ziegler, ex-relator especial para o Direito à Alimentação da Nações Unidas (ONU), denunciou que a fome é um dos principais problemas da humanidade, em um debate nesta segunda-feira (13/5) em São Paulo. 

“O direito à alimentação é o direito fundamental mais brutalmente violado. A fome é o que mais mata no planeta. A cada ano, 70 milhões de pessoas morrem. Destas, 18 milhões morrem de fome. A cada 5 segundos, uma criança no mundo morre de fome”, disse Ziegler.

Na década de 1950, 60 milhões de pessoas passavam fome. Atualmente, mais de um bilhão. “O planeta nas condições atuais poderia alimentar 12 bilhões de pessoas, de acordo com estudo da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Não há escassez de alimentos. O problema da fome é o acesso à alimentação. Portanto, quando uma criança morre de fome ela é assassinada”.

Ziegler afirma que é a primeira vez que a humanidade tem condições efetivas de atender às necessidades básicas de todos. Depois do fim da Guerra Fria, mais especificamente em 1991, a produção capitalista aumentou muito, chegando a dobrar em 2002. Ao mesmo tempo, essa produção seguiu um processo de monopolização das riquezas. Hoje, 52,8% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial está nas mãos de empresas multinacionais.

A concentração da riqueza nas mãos de algumas empresas faz com que os capitalistas  tenham uma grande força política. “O poder político dessas empresas foge ao controle social. 85% dos alimentos de base negociados no mundo são controlados por 10 empresas. Elas decidem cada dia quem vai morrer de fome e quem vai comer”, diz Ziegler. 

O sociólogo relatou que essas empresas seguem blindadas pela tese neoliberal de que o mercado não deve ser regulado pelo Estado. 

“Na Guatemala, 63% da terra está concentrada em 1,6% dos produtores. A primeira reivindicação que fiz, após a missão, foi a realização da Reforma Agrária no país. Fui rechaçado, pois uma intervenção no mercado não é possível. Não havia sequer um cadastro de terras lá: quando os latifundiários querem aumentar suas terras, mandam pistoleiros atacar a população maia que vive ao redor”. 

Especulação

A especulação financeira dos alimentos nas bolsas de valores é um dos principais fatores para o crescimento dos preços da cesta básica nos últimos dois anos, dificultando o acesso aos alimentos e causando a fome. De acordo com o Banco Mundial, 1,2 bilhão de pessoas encontram-se em extrema pobreza hoje, vivendo com menos de um dólar por dia. 

“Quando o preço do alimento explode, essas pessoas não podem comprar. Apesar da especulação ser algo legal, permitido pela lei, isso é um crime. Os especuladores deveriam ser julgados num tribunal internacional por crime contra a humanidade”, denuncia Ziegler.

A política de agrocombustíveis, que, além de utilizar terras que poderiam produzir comida, transforma alimentos em combustível, é mais um agravante. “É inadmissível usar terras para fazer combustível em vez de alimentos em um mundo onde a cada cinco segundo uma pessoa morre de fome”. 

Política da fome

Ziegler afirma que não se pode naturalizar a fome, que é uma produção humana, criada pela sociedade desigual no capitalismo. Prova disso são as diversas políticas agrícolas praticadas tanto por empresas e subsidiadas por instituições nacionais e internacionais.

O dumping agrícola consiste em subsidiar alimentos importados em detrimento dos alimentos produzidos internamente. De acordo com Ziegler, os mercados africanos podem comprar alimentos vindos da Europa a 1/3 do preço dos produtos africanos. Os camponeses africanos, dessa forma, não conseguem produzir para se sustentar. 

Ziegler denunciou o “roubo de terras”, que é o aluguel ou compra de terras em um país por fundos privados e bancos internacionais, que ocorreu com mais de 202 mil hectares de áreas férteis na África, com crédito do Banco Mundial e de instituições financeiras da África. 

Os camponeses, por conta desse processo, são expulsos das terras para favelas. Esse processo tem se intensificado uma vez que os preços dos alimentos aumentam com a especulação imobiliária. 

O Banco Mundial justifica o roubo de terras com o argumento de que a produtividade do camponês africano é baixa até mesmo em um ano normal, com poucos problemas (o que raramente acontece). 

Um hectare gera no máximo 600 kg por ano, enquanto que na Inglaterra ou Canadá, um hectare gera uma tonelada. Para o Banco Mundial, é mais razoável dar essa terra a uma multinacional capaz de investir capital e tecnologia e tirar o camponês de lá.

“Essa não é a solução. É preciso dar os meios de produção ao camponês africano. A irrigação é pouca, não há adubo animal ou mineral nem crédito agrícola, e a dívida externa dos países impedem que eles invistam na agricultura”, defende Ziegler.

Soluções

Segundo Ziegler, a única forma de mudar as políticas que perpetuam a fome é por meio da mobilização e pressão popular. 

“Temos que pressionar deputados e políticos para mudar a lei, impedindo que a especulação de alimentos continue. Devemos exigir dos ministros de finanças na assembleia do Fundo Monetário Internacional que votem pelo fim das dívidas externas. Temos que nos mobilizar para impedir o uso de agrocombustíveis e acabar com o dumping agrícola”. 

Ziegler afirma que a luta contra a fome é urgente, pois quem se encontra nessas condições não pode esperar. “Essa mobilização coletiva pode pressionar democraticamente e massivamente, por medidas que acabem com a fome. A consciência solidária deve movimentar a sociedade civil. A única coisa que nos separa das vítimas da fome é que elas tiveram o azar de nascer onde se passa fome”.

O ex-relator especial para o Direito à Alimentação da Nações Unidas (ONU) veio ao Brasil lançar o livro "Destruição em Massa - Geopolítica da Fome" (Editora Cortez) e participar da 6ª edição do Seminário Anual de Serviço Social, que aconteceu no Teatro da Universidade Católica (TUCA).

(Foto: Rafael Stedile)











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