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quinta-feira

Torturas antes e depois das torturas oficiais e as nuvens de mentiras





Prezado Prof. Eduardo

Rodamos pelo mundo, giramos em campos tão opostos a nós dois sem nos conhecermos, mas, talvez, em escaramuças que nos faziam inimigos de causas diferentes. Tu um militar reformado que buscaste qualificação para a docência no ensino superior. Até aí tudo bem, somos colegas. O que é de chocar é quando afirmas apaixonadamente que vocês lutaram a partir do golpe de 1964, que ousas chamar de revolução, contra os comunistas que queriam “sovietizar” e “cubanizar” o Brasil. Chegaste a afirmar numa de nossas aulas de pós-graduação que vocês se sentiram obrigados a prender, a torturar e a matar para defender o Brasil. Certamente recordas que te contestei veementemente. Teu silêncio foi enigmático para mim. Nada contrapuseste nem argumentaste com antíteses.

Então, meu amigo, as coisas jorram como se os argumentos negados ganhassem corpos através dos mortos que falam as verdades  que se desvelam nas investigações empreendidas pela Comissão Nacional da Verdade. Até mesmo o protestante ultra direitista Ustra teve que se explicar, desgraçadamente fazendo o mesmo discurso que fazes: quem lutava por justiça social e pelo levante contra a ditadura sanguinária era terrorista, enquanto os torturadores dos porões ensanguentados do terror praticado pelos que assaltaram o Estado, através de um golpe militar sujo,  eram os “salvadores” da Pátria e da democracia.

Luciano Nascimento da Agência Brasil escreve excelente matéria informativa sobre os fatos iluminados pela verdade, ainda que seja verdade parcial: a ditadura, através de seus agentes odiosos e bandidos, prendeu, torturou e matou bem antes que grupos defensores dos direitos humanos e outros, armados, reagissem aos atos de terror dos anos de chumbo.   Na verdade, a ditadura promoveu odiosa cassada às lideranças restantes do tempo dos movimentos reformistas sob o Governo João Goulart. Este como último presidente democrático antes do golpe de 1º de abril, inclusive, foi vítima de perseguições e posterior assassinato da ditadura.

Abaixo posto o artigo do Luciano que escancara as descobertas da CNV a respeito de inúmeros centros de torturas distribuídos pelo País. Escandaliza que a linha dura e bandida da ditadura se servisse de universidades, ambientes que deveriam ser exclusivos à construção do conhecimento, como bases operacionais do terror e da eliminação de jovens inteligentes e de professores os mais capazes e preparados para ajudar o Brasil. A CNV já se deparou com pastores, padres e igrejas que dedaram pessoas e contribuíram com as torturas e desaparecimentos de pessoas. Não estranharia se a CNV se deparasse com marcas de torturas em salões de igrejas e até em casas pastorais.

Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.


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Tortura era praticada na ditadura militar antes da luta armada, diz Comissão da Verdade

21/05/2013 
Luciano Nascimento
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A Comissão Nacional da Verdade informou que a tortura passou a ser prática sistemática da ditadura militar logo após o golpe, em 1964. Durante o balanço de um ano de atividades, os integrantes da comissão desmentiram a versão de que a prática tenha sido efetivada em resposta à luta armada contra a ditadura, iniciada em 1969.
“A prática da tortura no Brasil como técnica de interrogatório nos quartéis é anterior ao período da luta armada, ela começa a ser praticada em 1964”, disse a historiadora Heloísa Starling, assessora da comissão. "O que é importante notar é que ao contrário do que supunha boa parte da nossa bibliografia, o que nós temos é a tortura sendo introduzida como padrão de interrogação nos quartéis em 64 e explodindo a partir de 69," argumentou.
O balanço divulgado pela comissão considera que o uso da violência política permitiu ao regime construir um Estado sem limites repressivos. “Fez da tortura força motriz da repressão no Brasil. E levou a uma política sistemática de assassinatos, desaparecimentos e sequestros.”
A comissão revelou ainda que a Marinha ocultou informações sobre mortes na ditadura, quando foi questionada em 1993 pelo governo Itamar Franco.
De acordo com levantamentos da Comissão da Verdade, cerca de 50 mil pessoas foram presas só no ano de 1964, em operações nos estados da Guanabara (atual Rio de Janeiro), de Minas Gerais, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul e de São Paulo. A comissão identificou prisões em massa em navios-presídios.
A comissão também relatou ter identificado 36 centros de tortura em sete estados, inclusive em duas universidades - na Universidade Federal do Recife e na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. “Nós identificamos que as pessoas foram presas dentro dos campus da universidade e as práticas de violência ocorreram dentro do campus”, disse Heloísa Starling.
A historiadora disse que a comissão está no caminho de desmontar a tese de que a tortura foi praticada sem o consentimento do alto escalão militar. Ela apresentou um organograma de 1970, ano de criação do Centro de Operações de Defesa Interna (Codi), que mostra que as informações sobre o que ocorria no órgão eram de conhecimento do alto escalão do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Toda a bibliografia, segundo a assessora, mostra que a estrutura de comando vai até o segundo nível, onde está o Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa), Centro de Informações do Exército (CIE) e o Centro de Informações da Marinha. “É muito pouco provável que o general Médici [presidente Emílio Garrastazu Médici] não recebesse informações do seu ministro mais importante, que era o ministro do Exército, Orlando Geisel”, disse.
Edição: Carolina Pimentel
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