Querida Nilza
Teu jeitão matriarcal
nos cuidados com teus pais e familiares me toca e me questiona. Desde pequenas a grandes razões
encontras motivos para reunir a vasta grei familiar e celebrar datas e eventos comoventes, sempre de modo a construir mensagens e lições.
Há muitas lutas das mulheres mães
que impressionam. Sou professor de muitas que estudam em cursos de graduação e
de pós-graduações. Em todas as turmas as mulheres são forte presença
qualitativa e numérica. Acabei de ministrar um módulo com 40 alunos, com 38 mulheres
e apenas homens. Os sacrifícios para adultos estudar no Brasil são os mesmos
para ambos os sexos. Mas as mulheres são combativas e heroicas. Chama-me a
atenção o cansaço que as marca. Trabalham 8 horas diárias e ainda à noite
superlotam as salas de aulas em busca de qualificação intelectual e
profissional. Arrancam energia de enormes sonhos de melhores condições de vidas
para seus filhos.
Tive a alegria de ser professor
de uma aluna que durante um semestre inteiro cultivava em seu ventre uma vida
maravilhosa. Sempre a cuidei em sala de aula com o maior cavalheirismo e gentileza
que podia dedicar a uma mãe, que não chegou há concluir seu semestre em sala de
aula, recebendo assistência em casa na finalização da disciplina.
Certamente outros professores fizeram o mesmo, não somente para atender direitos legais mas como pura solidariedade com uma pessoa que sabia cativar carinho agradecido. Enviei-lhe a última prova por e-mail, que ela respondeu com competência. Depois
não nos vimos por bom tempo. Outro dia ministrei um curso de extensão
universitária quando ela chegou com a criança de mais de um ano de idade, emocionando-me
com uma filha não somente dela, mas de todos nós seus professores, suas
professoras e colegas que dela cuidamos com carinho enquanto gestava e
estudava.
Minha ex-aluna é símbolo da
mulher de hoje. A mulher estuda, trabalha e realiza-se enquanto companheira e
mãe. Nessa relação ela entrelaça a todos
em sua maternidade, marcando a todos com amor, essa disposição de entregar-se incondicionalmente.
A mãe ajuda a construir a sociedade e constrói filhos para ajudar a sociedade a
ser mais eloquentemente digna em sua humanidade e bondade.
O Estado brasileiro, em todos os
seus níveis, deve ser pressionado a instituir políticas públicas que
possibilitem a mulher a realizar-se nas suas missões na luta pela cidadania,
maternal e profissional. É imensamente injusto tanto sacrifício e desgaste
imposto às mulheres ao ponto de muitas vezes e em muitos lugares não disporem
de creches, de escolas de qualidade e capazes de acolher aqueles que não são
somente seus filhos, mas também filhos da sociedade. Aqui no prédio onde moro
vejo tantas mulheres saírem muito cedo com seus filhos nos braços para levá-los
a creches. Certamente estas levam suas crianças a creches particulares para
depois saírem para seus trabalhos onde exercem serviços de valor social para
todos. É evidente que isso não é justo. Aliás, a educação no Brasil, desde as
creches ao ensino superior, não é justa de modo algum. Pois consome vultosos
investimentos das mães e dos pais, sem retorno, que entregam depois jovens
qualificados para o tal de mercado, que nada investe na sua educação. Porém,
tanto a sociedade como o mercado “sabem” exigir “profissionais” de formação
excelente, sem nada fazerem por isso.
Sem dúvidas de que a maternidade,
talvez até por ser prática de mulheres que engravidam e gestam por nove
meses e depois lhes dão a luz a homens e mulheres – eu diria que as mães dão luzes,
no plural, de quase tudo, ingressando os filhos na luminosidade da vida ao
responder tantas de suas indagações na infância –, é sagrada e nobríssima. Na
fase da gravidez a mulher, a família e os colegas da mãe envolvem-se no clima
maravilhosamente amoroso. Não há quem não se comova com uma gestação pela
beleza e pela vida que comunica. A gestação transborda-se em meiguice, carinho,
delicadeza, fragilidade e força. Ao nascer, a criança chama para si tudo o que
a mãe lhe deu e lhe dará a vida inteira: o amor que jamais acaba. Essa força, o amor, chega a constituir-se em mistério em termos de definição. Por isso “Para a
ciência, a relação entre mãe e filho, é motivo de novas descobertas e
constantes buscas de explicações devido a tantas surpresas e tantos elos que os
ligam tão intensamente. Prova disso é uma nova pesquisa americana que sugere
que as “mães” desenvolvem um ouvido tão aguçado e preciso quando os bebês
choram que seus cérebros diminuem o volume de todo o resto para melhor
ouvi-los.” (Leia mais aqui).
A arte também em forma de pintura, de
poesia, de literatura, de teatro e de cinema é abundante em reconhecer a
exuberância do sagrado processo da vida, que se inicia na concepção e vai até
aos últimos elos da relação entre mãe e filho marcada pelo amor que cataliza atenção e doação sem limites, ao ponto do sacrifício da própria vida por parte das mães.
Por isso mesmo precisamos de um
modelo social que dê mais espaço e justiça para as mulheres serem mães com mais
dignidade e bem estar. Todos os dias assiste-se notícias sobre corruptos que se
autobeneficiam e se "pagam" pelos cargos que ocupam nas esferas públicos,
alegando que merecem receber por seu trabalho. As mães entregam-se na luta pela
geração da vida e pelo cuidado amoroso na construção de futuros cidadãos, no
caso das trabalhadoras assalariadas que recebem quase nada pelo que fazem. Não
é justo que se desgastem e arquem sozinhas com pesados custos no investimento
de vida e de dinheiro naqueles que são seus filhos e filhos da sociedade,
embora elas os amem ao ponto de viver e de morrer por eles.
Não é sem razão que a ONG inglesa
Save the Children afirma que Cuba é o melhor País da América Latina para as mulheres
serem mães. Este País latino americano, por ser socialista, seu Estado privilegia
a vida coletiva das pessoas mais do que o capital. Save the Children toma como
critério de avaliação os contextos de saúde para os partos, a educação, como o
bem-estar das mães, para avaliar as condições das mulheres. "Quando as
mulheres têm educação, representação política e uma atenção materna e infantil
de qualidade, elas e seus bebês têm muito mais probabilidades de sobreviver e
prosperar, assim como a sociedade na qual vivem", sublinhou Beat Rohr,
diretor da Save the Children (Leia mais aqui).
Parabéns às mães, essas
companheiras maravilhosas, lindas, delicadas, poderosas, fortes geradoras e
sustentadoras da vida. Nossa luta é para que tu Nilza e todas as mães desfrutem
de uma sociedade mais justa que invista muito mais, mas muito mais mesmo, em
vocês e nos futuros cidadãos que vocês geram em seus ventres e embalam em seus
braços, onde é muito bom sermos acolhidos para com segurança entrarmos no mundo.
Abraços críticos e fraternos na
luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano,
farrapo e republicano.
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