Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicanao
Queridos/as amigos/as leitores/as deste blog
Sei que vocês são muitos e de muitos países. Isso é fator de grande contentamento para mim.
Vivemos nesse momento, pelo menos aqui no Ocidente, o clima
do natal. Milhões de famílias se reúnem para se alegrar. Pessoas dedicadas ao
bem e as envolvidas em ações destrutivas e maléficas se reúnem no natal.
Tenho a impressão de que o natal deste ano se reveste de
significado novo para mim. Algumas pessoas muito próximas me acompanharam num
processo de verdadeiro apagão que vivenciei mais ou menos durantes seis meses
em 2012, graças a problemas de saúde. Tenho a impressão de que o ano saltou de
maio-junho para dezembro, já na véspera do chamado natal. Tive um leve
vislumbre das eleições a prefeitos e a vereadores, mas não abarquei toda a
força do embate político neste ano. Durante o maldito julgamento da “Ação Penal
470” vi, desde minha caverna escura interior, coisas absolutamente tristes e
revoltantes. Através da TV Justiça me interligava com o plenário do STF. A ver
na tela a pavorosa imagem de Joaquim Barbosa, com seu sotaque inflacionado de “is”
fora de lugar, seu asqueroso discurso carregado de ódio, num julgamento sem
base e sem provas a condenar cidadãos dignos, que ele não sabe respeitar,
parecia que o via entre chifres, dos olhos a sair chamas de fogo e da boca
expelir labaredas incendiárias a atropelar a justiça e o bom senso. A figura de
Joaquim Barbosa me fazia mal e me empurrava ainda mais para o fundo da
escuridão interior. Quando via a figura de Marco Aurélio de Mello, para mim de
sorriso fingido, com sua pronúncia horrorosa a comer os “ls” dos fins das
palavras, sabendo do seu elogio ao golpe militar, que desgraçadamente chamou de
revolução e de mal necessário, a vociferar os mesmos vereditos de Joaquim
Barbosa, eu tinha a sensação de ver o demônio em pessoa. Perguntava-me: como
pode um homem desses, que odeia a democracia, dar-se ao desplante de julgar
quem luta pela democracia? Quando enxergava a imagem de Celso de Mello, com
aquele sotaque arranhando um francês pedante e sem razão, com um palavreado
esnobe em defesa da mal interpretada “teoria do domínio funcional dos fatos”, a
expelir ódio e traição por uma boca maldita, parecia ver o próprio Judas a
trair Cristo. Quando ouvia o fazendeiro Gilmar Martins assaltava-me a impressão
de ouvir latidos de um cão raivoso e poderoso, a latir para intimidar os
democratas e a liberdade. Minha impressão era de que ele daria ordens a
jagunços para que atirassem nos réus e condenados sem prova. Lá no canto, à
direita do voz mansa mas de mansidão falsa e traiçoeira de Ayres Britto, o que
fazia o papel de presidente, embora muito fraco, eu via a cara redonda e
enojante de Roberto Gurgel. Esse sujeito me causava impressão ruim e
devastadora. Para mim ele conseguia falar com uma voz mansa, aparentemente
humilde, cabisbaixo, como se fosse sério e pronto a corrigir possíveis erros da
peça idiota e criminosa que montou para acusar mentirosamente muitos dos
cidadãos contra quem não provou nada, como ele mesmo disse, nem com tênues
provas.
Quando via na TV falas e até entrevistas com pessoas que
passaram a admirar Joaquim Barbosa como herói e como sendo “o cara”, minha
escuridão interior crescia ainda mais. Como as pessoas podem ser tão cegas e
alienadas ao ponto de comprar rapidamente um produto ruim, danoso e criminoso, um
boneco montado na calada da noite para uma festa macabra? Minhas trevas me
faziam sombras no coração, que doía profundamente!
O início saída da escuridão que me apanhou a alma se deu ao
final de novembro e princípio de dezembro. Passei a experimentar imensa alegria
e gozo de vitória. Daí deparei-me, como o povo brasileiro e o mundo, com a
morte-ressurreição do grande camarada Oscar Neimeyer, um verdadeiro profeta da
aurora revolucionária. O Brasil e o mundo pararam para ouvir Neimeyer no seu
silêncio; Oscar falar pela boca de seus amigos, sobrinhos e esposa. O
testemunho de um brasileiro incomum, contrastante com o show de ódio e de
atraso emanados do STF, Osacar Neimeyer apareceu como um santo, como anjo a
anunciar que o mais importante é a vida, o mais importante é a justiça social
do que todas as obras arquitetônicas, por mais belas que sejam. Neimeyer morreu,
mas sua vida ficou conosco e agiu em meio às trevas lançadas do plenário do
STF.
Estamos no natal. Em torno disso vivenciei um triduo
organizado pelo meu querido Padre Victor Hugo. Andamos por alguns apartamentos
para rezar, ler textos sagrados e escutar as pessoas nos seus testemunhos do
que passaram me termos de dificuldades,
mas graças ao Jesus Libertador saíram das dores em direção às Avenidas da vida
e das vitórias. Foram três noites maravilhosas de fortalecimento de minha saída
da caverna interior e da cura de minhas doenças e dores. Foram experiências
iluminadoras, bem diferentes das trevas lançadas pelo STF pelos os anjos do
mal.
No domingo pela manhã na celebração eucarística vivi
experiência grandiosa do natal. Lá vimos o Jesus que mostrou o que é ser
humano. Ser humano é ser capaz de festejar
a vida a despeito de contradições e dificuldades. Ser humano é ser capaz de
servir o outro apesar das diferenças e do contexto ameaçador, como Jesus
mostrou no lava-pés. Ser humano é ser capaz de chorar em face da morte das
pessoas amadas, mas também a de lutar pela vida, que tem suas formas de ressurreição,
se por ela soubermos lutar, como aconteceu com Jesus diante do túmulo de
Lázaro.
Da celebração eucarística saímos para almoçar com o camarada
Laércio e sua esposa Beth. Meu Deus, não poderia testar maior alegria no
domingo, dia 23 de dezembro, que elegemos como a comemoração do natal da
comunidade. O Laércio é meu amigo e camarada. Ele é um doas ateus mais
interessantes que conheço. Oxalá muitos cristãos fossem crentes como ele. Em
torno da mesa do almoço falamos sobre teologia. O Laércio leu os principais
teólogos da teologia da libertação e conversamos sobre teologia e luta
revolucionária de igual para igual. Aliás, aprendei muito com ele. Nesse dia de
24 de dezembro comunicamo-nos por telefone. O Laércio desejou que o Cristo
Libertador, o revolucionário palestino me abençoasse no ano 2012. Desejou-me
que em 2013 a luta contra as injustiças e pela construção de uma sociedade mais
justa se aprofunde. Senti em suas palavras profunda fé no novo e na luta. Senti
profundo amor que irmana e une em torno do sonho revolucionário.
Portanto, é maravilhoso sair da caverna da falta de saúde,
onde o medo da morte e dos fantasmas é predominante. É maravilhoso um mundo
fora da caverna sem Joaquim Barbosa, sem Marco Aurélio de Mello, sem Celso de
Mello, sem Gilmar Martins, sem o hipócrita Álvaro Dias, mais um apanhado com a boca na botija e sem a mídia manipuladora e
mentirosa.
Sinceramente digo a vocês, apesar de muitos duvidarem, sou Bispo
e sacerdote convictamente, porém, para decepção de muitos, penso que ser igreja
não é contraditório com a revolução socialista, por isso não devo me retirar da
sociedade. Para mim, a missão evangelizadora e a luta pela justiça social são duas
dimensões da mesma realidade. Diferentemente dos que exploram a miséria para o
enriquecimento de líderes religiosos e de igrejas, eu luto para que a miséria e
suas causas sejam destruídas em favor da justiça social. Por isso me sinto
animado e feliz, pois retomo a missão pastoral e à luta pelas mudanças.
Minha celebração de natal neste ano tem a cara da páscoa - do hebraico, "passagem". Problemas que me perturbaram até 2012 são sepultados pelos avanços que experimento em minha própria existênica, que mesmo imerecidamente, é regada pela graça revolucionária de Jesus. Prometi a mim mesmo que desisti do que não vale a pena e de quem não vale a pena. Penso que o amor que pulsa irresistivelmente na alma dos cristãos não nos deve tornar bobos da corte nem desrespeitar o rumo das pessoas que preferem seguir para longe. Há muitas que querem e precisam de aproximação. É ao lado destas que devo lutar. Ufa, que bom a gente sentir a cura de dores imprestáveis!
Minha celebração de natal neste ano tem a cara da páscoa - do hebraico, "passagem". Problemas que me perturbaram até 2012 são sepultados pelos avanços que experimento em minha própria existênica, que mesmo imerecidamente, é regada pela graça revolucionária de Jesus. Prometi a mim mesmo que desisti do que não vale a pena e de quem não vale a pena. Penso que o amor que pulsa irresistivelmente na alma dos cristãos não nos deve tornar bobos da corte nem desrespeitar o rumo das pessoas que preferem seguir para longe. Há muitas que querem e precisam de aproximação. É ao lado destas que devo lutar. Ufa, que bom a gente sentir a cura de dores imprestáveis!
Que o Jesus Libertador anime a todos vocês nesse natal e
nesse verão, símbolo de renovação das energias da vida e da luta pela vida de
todos. Que o revolucionário palestino nos abençoe sempre e nos irmane na luta.
Abraços críticos e fraternos.
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