Academia do Vaticano promove as ideias de Darwin
O presidente da Academia Pontifícia das Ciências, Werner Arber,
biólogo prêmio Nobel de Medicina em 1978, proferiu, no dia 12 de
outubro passado, uma conferência sobre as relações entre ciência e fé,
apresentada ao pontífice e aos membros do Sínodo dos Bispos,
na qual ilustrou com clareza as bases da explicação evolucionista
contemporânea. O texto na íntegra está disponível no site da Academia (www.casinapioiv.va).
No contexto de uma reflexão "sobre as mútuas relações e
compatibilidades entre o conhecimento científico e os conteúdos
fundamentais da fé", Arber escolheu como exemplo de aquisições
científicas essenciais a evolução do universo e a evolução da vida sobre
a Terra, como "fatos científicos estavelmente verificados".
A reportagem é de Telmo Pievani, publicada no jornal Corriere della Sera, 22-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O microbiologista da Universidade de Basel, que sucedeu a Nicola Cabibbo no
fim de 2010, explicou ainda que as variações genéticas espontâneas e a
seleção natural são a força motriz da evolução biológica. Arber também
listou os múltiplos mecanismos de variação genética contingente que
alimentam o processo seletivo e que dão conta do acúmulo dessas mudanças
microevolutivas que constituem o pressuposto para a evolução da
biodiversidade.
Em síntese: a evolução biológica é um fato, e a sua explicação é neodarwinista.
Diante de tal auditório, ouvir que, diante de uma constante geração de
variação genética, "é a seleção natural que irá avaliar e manter aquelas
raras variantes que conferirem uma vantagem funcional ao organismo" é
uma novidade significativa, uma boa premissa para superar mal-entendidos
ainda presentes em alguns setores conservadores do mundo católico, que
certamente se encontrarão deslocados por esse posicionamento de
autoridade.
A reviravolta é importante ao menos por duas razões.
Com a sua conferência, o presidente da Pontifícia Academia desmente o
que declarava o cardeal Christoph Schönborn, de Viena, no New York Times do
dia 7 de julho de 2005, a propósito da falsidade da evolução por
seleção natural e da "flagrante evidência de um design biológico" que
poderia ser encontrado pelos cientistas.
Em segundo lugar, depois de anos de confusão sobre a existência de supostas "teorias alternativas", Arber fez
um esclarecimento salutar. Embora não querendo ser assimilados ao
criacionismo norte-americano, ainda persistem, de fato, movimentos de
opinião que rejeitam, por motivos religiosos, a validade da explicação
evolucionista corrente (que é solidamente darwiniana no seu núcleo,
embora com todas as profundas atualizações bem pontualizadas por Arber).
O
prêmio Nobel salientou que existem outros modos para encontrar uma
compatibilidade entre fé e ciência, na esfera da pesquisa pessoal de
cada um, sem negar os conhecimentos científicos adquiridos.
Com uma certa coragem, ele acrescentou que, se Jesus Cristo ainda
estivesse vivo, ele "seria favorável à aplicação de um sólido
conhecimento científico pelo bem da humanidade a longo prazo". Nesse
sentido, "os métodos recentemente adotados para preparar os organismos
transgênicos seguem as leis naturais da evolução biológica e não trazem
riscos ligados à metodologia da engenharia genética".
Será
interessante para todos descobrir que sequência terão todos esses
conselhos na comunidade à qual se dirigem. Talvez, agora, a serena
aceitação da evolução darwiniana está um pouco mais próxima.
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