Síndrome de Regina Duarte se abate sobre serristas
Medo de Lula e do PT, manifestado por atriz em
xororô de dez anos atrás no programa eleitoral de José Serra, volta na eleição
para prefeito de São Paulo; acomete, agora, marmanjos calejados (fotos acima);
nenhuma das paúras confessadas pela atriz se mostrou justificada, mas a doença
que tem em Reinaldo Azevedo o paciente zero parece não ter cura; também é
chamada de preconceito de classe.
- Eu tenho medo do PT. Medo de Lula e do PT!
Seria a barba do ex-líder sindical que provocava
a alegada paúra na antiga 'namoradinha do Brasil'? A voz gutural? As bandeiras
vermelhas do partido que ele fundou? O apoio do MST? As promessas de palanque
ao feitio da esquerda? Ou o explicitado compromisso de reduzir a pobreza e
possibilitar três refeições ao dia ao povo brasileiro?
Era o conjunto todo, deixou claro Regina, além do
receio de que Lula iria fazer a moratória da dívida externa, romper contratos,
solapar todas as bases da democracia brasileira. A expectativa do caos
completo.
Lula venceu e nenhum dos medos de Regina Duarte
se justificou. A partir do governo Lula, não apenas a dívida externa foi paga
como, hoje, as reservas internacionais do Brasil estão em cerca de US$ 400
bilhões, o que evitou novos ataques especulativos contra o País, como acontecia
no tempo do antecessor dele, Fernando Henrique Cardoso. Ao contrário de FHC,
Lula não mudou as regras do jogo democrático (como se recorda, o presidente
tucano operou o Congresso pelo estabelecimento da reeleição, que até então não
existia, e se beneficiou diretamente da manobra). Ainda que tivesse tirado um
foto com o bonzezinho do MST, não consta que Lula tenha armado os trabalhadores
do campo ou feito na marra qualquer tipo de reforma agrária. O que se tem,
nesse setor, é o sucesso do programa Fome Zero, a partir do qual se pode
constatar, agora, a retirada de cerca de 40 milhões de brasileiros do estado de
pobreza.
Nenhum dos tantos medos de Regina Duarte se
mostraram reais. No entanto, passados dez anos daquele apelo entristecido e
quase desesperado, eis que eles – os medos da Regina – ressurgem em homens
barbados. E nem está em jogo uma eleição presidencial, como daquel feita, mas
um pleito municipal, que nem envolve Lula diretamente, mas um de seus pupilos,
o ex-ministro da Educação Fernando Haddad. Um medo, portanto, ainda mais forte,
visto que o perigo é menor.
Quadro típio da classe média paulistana,
frequentador do insuspeito Clube Sírio-Libanês, filho de comerciante na
reconhecida rua 25 de Março, sem passagem por movimentos que praticaram ou
sequer pregararam a luta armada ou ações do gênero, o pacato Haddad virou alvo
da síndrome de Regina Duarte que acomete, outras vez às vésperas de uma derrota
de Serra – ao que apontam as pesquisas e as condições políticas que cercam a
eleição paulistana -- marmanjos calejados como o jornalista Ricardo Setti, o
empresário Octávio Frias Filho, o banqueiro Roberto Setúbal, o filho do
sociólogo Boris Fausto, o comunicador de apelo religioso Silas Malafaia e até o
destemido (com arma na mão, como diria Bezerra da Silva) coronel Telhada,
ex-comandante da Rota.
Acometidos do mesmo mal estão o vereador eleito
Andrea Matarazzo e aquele que pode ser chamado de paciente número zero desse
vírus, o verborrágico internauta Reinaldo Azevedo.
Ai, ui, sapatilham eles, cada um ao seu modo,
argüindo, ora publicamente, ora em privado, que Haddad representará o
fortalecimento político de Lula – aquele mesmo Lula que, projeta-se, vai
solapar a democracia, inverter as prioridades burguesas, revirar a sociedade
brasileira etc etc.
Ponto a ponto, os medos foram claramente
elencados pelo Prêmio Esso de Jornalismo Ricardo Serra em seu blog dentro de
Veja.com.br
Para os homenzarrões acometidos da síndrome de
Regina Duarte parece, ao que se vê pelo que eles próprios têm expressado, não
haver vacina nem remédio. Lula exerceu duas vezes a Presidência da República, à
qual chegou pelo voto popular, manteve as regras do jogo e viu sua candidata
Dilma Rousseff, com cerca de dez milhões de votos a mais que o adversário José
'sempre ele' Serra, subir a rampa do Palácio do Planalto.
De-mo-cra-ti-ca-men-te, frise-se. Não quebrou contratos, não rompeu com os
Estados Unidos, não declarou o socialismo tropical. Foi, isso sim, apontado
pelo maior historiador do século 20, Eric Hobasbawn, como o líder global mais
importante do final do período e tornou-se referência de liderança política
democrática em todo mundo.
Serra, vale dizer, rompeu todos os contratos
vigentes assim que assumiu a Prefeitura de São Paulo, em 2005, abandonou o
mandato menos de dois anos depois e, ao chegar ao governo de São Paulo,
igualmente suspendeu todos os pagamentos que deveriam ser feitos no mês de janeiro
de 2007 – sucedendo, nesta ocasião, não a petista Marta Suplicy, mas seu
próprio correligionário Geraldo Alckmin.
Mas quem tem a Sídrome de La Duarte acha que é
Haddad, e não Serra, que vai subrverter a ordem, fazer o contrário do que
promete em palaque, recusar responder perguntas, agredir jornalistas
verbalmente, usar o cargo para finalidades políticas pessoais.
Essa doença, que volta dez anos depois do
primeiro surto, não passa e nunca vai passar. Seu verdadeiro nome é preconceito
de classe e a vítima, dessa vez, deveria ser Haddad.
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