Novo endereço

Este blog mora em outro endereço. Acesse +Cartas e Reflexões Proféticas e divulgue, por gentileza!

Pesquisar este blog

quarta-feira

Religião e Igreja falidas



Participei com alegria do CAFÉ COM CINEMA na CaraVídeo (http://www.caravideo.com.br/), hoje debatendo o filme “Pagador de Promessas”. No debate transpareceu uma igreja intolerante, articulada com o poder dominante. Seu discurso é carregado de preconceitos, dogmático, anti-ecumênico e excludente. Seus bispos e padres são reacionários e confinados à instituição, sem a menor sensibilidade com o humano e suas complexidades.

Outra discussão foi sobre a natureza de caráter sincrético de nosso povo, muito bem lembrado pelo Rev. Elias Vergara, ao trazer à tona o texto “Povo Brasileiro” de Darci Ribeiro. Nossa cultura brasileira é única no sentido de que suas raízes antropológicas a definem como uma sociedade cordial e acolhedora. Pena que a intolerância definida no filme e praticada pelo padre autoritário e pelos bispos auto-satisfeitos tenta destruir essa cordialidade de nosso povo, que o faz único e original entre todos na face da terra. Hoje há um retrocesso do romanismo nesse sentido, veja-se a barbaridade do bispo de Olinda e Recife em relação ao aborto praticado para salvar a menina grávida de 9 anos. Interessante que o Padre no filme oportunísticamente caminha ao lado de Zé do Burro, mas repentinamente se afasta e furiosamente o condena e julga-o seguidor do demônio. Como é fácil julgar o outro e recuar a posições desumanas e injustas. Porém, isso não é exclusivo de setores católicos. Há entre seguimentos evangélicos atitudes demonizantes e discriminatórias do nosso sincretismo cultural, valor este que poderia ser contado como riqueza na unidade em nossas lutas por conquista de mais justiça social. Na verdade, penso, que quanto mais as igrejas se afastam de Jesus e de quem ele mais amou, o povo, mais retrógradas, dogmáticas e donas da verdade se tornam em sua intolerância inquisitorial. O meu amigo e teólogo Zwinglio Dias, pastor presbiteriano, sempre diz que as igrejas evangélicas também são inquisitoriais e jogam na fogueira todos os que contestam suas ditas verdades e seus dogmas, pretendentes de verdades absolutas.

Outra discussão emergente no debate versou sobre a negação do outro, questão muito presente no filme. Isso é claro no grito do Zé do Burro: “ninguém me entende”. No filme o padre o definiu como endomoniado, a imprensa como um pregueiro da revolução, os doentes como um curandeiro, a polícia como um bandido... Cada um o leu a partir de sua ótica ou a partir de seus interesses. Realmente é muito difícil entender o outro como o outro de fato é. Não se sabe escutar e ver o outro nas suas verdadeiras dimensões. A com-preensão do outro é tarefa desafiante. A justiça julga injustamente quando não compreende o outro na sua verdadeira natureza; a política é injusta quando não atua em favor do outro em suas verdadeiras necessidades e não como fim eleitoral; as igrejas são injustas quando não se inclinam ao lado do outro enquanto outro mas se exaltam como donas da verdade e proprietárias de Jesus. Um psicólogo que fez mestrado no USP impôs-se o desafio de ser um gari por 8 anos. Foi rejeitado pelos professores e pelos próprios garis, em cuja condição ele quis se colocar para compreendê-los. No cotidiano cada vez que alguém quer contar a outra pessoa algum problema que o angustia essa geralmente reage dizendo: “mas e comigo então... você nem imagina!”. Isto é, no dia-a-dia ninguém escuta o outro, ninguém escuta ninguém. Como outro somos diariamente negados. Até mesmo nas igrejas somos negados e pisados. Fui professor de aconselhamento numa faculdade de teologia e meus alunos eram pastores. Todos disseram que jamais falariam de seus problemas mais íntimos para qualquer colega. Não confiariam em ninguém. A questão do outro como alteridade precisa ser trabalhada com cuidado e profundidade... Esse é um caminho educativo importante.

Dom Orvandil: Bispo Cabano, Farrapo e Quilombola.

1 comentários:

  1. Foi com grande prazer que recebi na manhã de hoje uma mensagem de Dom Orvandil M. Barbosa, que tive a honra de conhecer na noite de ontem durante o debate seguido da exibição de "O Pagador de Promessas", na estreia do Café com Cinema da Cara Video, promovida pelo Cineclube Paradiso como parte do projeto Cine + Cultura da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD-GO).

    Na minha modesta opinião, o filme tem em sua maior preocupação destacar a sincera ingenuidade e devoção do povo, em oposição à burocratização imposta pelo próprio sistema católico em sua organização interior. O texto de Dias Gomes chega a ser maniqueísta aos desmascarar, sem sutilezas, os oportunistas. Tanto o segmento social da cidade, que quer tomar partido da situação da melhor forma possível para eles, quanto o vigário local, que barra o Zé do Burro, impedindo-o de entrar na igreja carregando a cruz fruto de sua promessa e os clérigos, que exigem de Zé uma "retificação" de sua promessa, como também os jornalistas que se interessam pelo caso levantando a bandeira em defesa da "liberdade de expressão" que o vigário estaria colocando em jogo, ou pelo menos pretendem parecer estar fazendo isso, quando na verdade, como é colocado na primeira cena dentro da redação do jornal, eles precisam de notícias que façam dinheiro, e não de notícias de qualidade. Aos olhos da imprensa, o Zé Povinho passa a ser um exemplo dos excluídos sociais e tem a ele agregado o ideal de injustiça e liberdade desejado pelo povo, é associado à "revolução" social, à "reforma agrária" e classificado como "comunista" - sem ao menos ter idéia do que são estes conceitos tão alienígenas ao seu universo.

    Obviamente que, em meu comentário, ressaltei que o filme conta com uma produção técnica excelente, apoiada pela fotografia de Chick Fowle (como alguns ângulos de câmera que colocam os clérigos sempre de forma superior, enquanto o protagonista é focado com uma câmera baixa, mas também quando a câmera coloca, na sequência final, a igreja de cabeça para baixo e a visão de Zé sentado à escadaria sendo filmado através das grades, preso a situação em que está, mostrando alguns toques especiais). É destacável também a montagem concisa de Carlos Coimbra e excelente e segura direção de Anselmo Duarte, um estreante, que faz excepcional trabalho com os atores (destacam-se Leonardo Vilar, passando toda a humildade e sinceridade de Zé do Burro, e Glória Menezes como sua companheira aflita, assim como Norma Bengell que passa grande credibilidade retratando uma personagem instável e difícil) e consegue um gradual desenvolvimento da narrativa até o clímax final, que se fecha de forma densa e sublime.

    ResponderExcluir

Seus comentários serão publicados. Eles contribuem com o debate e ajudam a crescer. Evitaremos apenas ofensas à honra e o desrespeito.

As 10 postagens mais acessadas

Postagens antigas

Seguidores deste blog

 
Desenvolvido por MeteoraDesign.Blogspot.com | Contato