Querida Professora Sue Dal
Ontem passei um dia de luto e tristeza como que revivendo a
amargura com gosto de chumbo derretido dos anos de ditadura
civil-militar-imperialista. Porém, houve momentos de alegria com manifestações
inesperadas de pessoas que irromperam do desconhecido para manifestar
consciência e sensibilidade sociais.
Uma das pessoas que mais me marcou ontem foste tu, querida
colega de Caxias do Sul-RS. Travaste um diálogo competente com um amigo do
Facebook, ainda inundado do ranço dos que pensam que é possível ser antipolítico,
em plena ignorância do postulado aristotélico de que o ser humano é por
natureza ser político. Tua ponderação foi marcante. Inclusive em dado momento
acalorado cheguei a te confundir com uma querida aluna minha aqui de uma das
instituições onde leciono, onde tento fazer educação. Defendi-te pensando que
era ela. Reagiste de maneira linda e forte como mulher batalhadora e firme.
Disseste-me que nem sempre és tão doce como eu interpretara ao te defender.
Viva, Sue. Que bom!
Pois é, apesar de meu coração ainda se arrastar pesado hoje
me deparei com o vídeo abaixo que me enche de alegria e esperança, que levam-me
a defender com mais ardor o ensino superior público, verdadeiro laboratório de
inteligências e gênios.
O vídeo mostra um professor da faculdade de direito da USP,
cheio de ódio e estreiteza mental, tentar iniciar a leitura de ofensas e de
agressões aos combatentes da liberdade, vítimas dos crimes perpetrados pelo
golpe civil-militar-imperialista imposto ao nosso País em 1964.
Três coisas me chamam a atenção nesse vídeo que assistirás
abaixo:
1.
Os
reacionários são sempre violentos, autoritários, mentirosos e burros. O caso do
professor que fugiu ao diálogo é muito demonstrativo. Ele tentou ler um texto
que escreveu onde define de maneira estreita e preconceituosa o que a direita
sempre diz contra quem luta por mudanças. Na leitura das primeiras palavras já se
exalta e baba pelos cantos da boca. É sempre assim que a direita age: seus
algozes não dialogam nem buscam o entendimento. Gritam e ofendem, como
pretensos donos da verdade. O mesmo aconteceu na Câmara dos Deputados quando o
nazista Bolsonaro subiu à tribuna para discursar. Os presentes viraram-lhe as
costas e contaram o hino nacional, impedindo que o bufão fizesse discurso semelhante
ao do o rasteiro mental da USP.
2.
O
enfrentamento por parte dos alunos. Isso me emociona. Os estudantes entraram na
sala de aula com o propósito de dialogar com o covarde professor, que fugiu. Os estudantes entraram na sala de aula de
forma ousada, corajosa e com argumentos bem fundamentados. Convidaram o
professor para o diálogo, contrariando a tese que ele defendia, dos tempos que
os que ele defende prendiam, torturavam e matavam. A lição aí presente é de que
estudantes que leem, que estudam a história, que se envolvem nas lutas
estudantis, que se interessam por seu País e pela justiça social enfrentam os
fascistas e truculentos impedindo que mintam e ameacem, como gostavam de fazer
nos anos de chumbo. Estudantes assim não se limitam a frequentar aulas apenas
para alcançar diplomas e se contentar com médias rasas que lhes permitam aprovação
formal. Estes são verdadeiramente acadêmicos e intelectuais.
3.
Chama-me
a atenção a alegria com que os estudantes desbancaram da cátedra um mentiroso e
fascista. Entraram cantando e rufando tambores. Usaram o canto como expressões
da alma que se encanta com a vida e com a luta que transforma. Usaram tambores
que simboliza a cultura afra brasileira dos que cantam nos terreiros da festa e
dos espíritos democráticos. Esta é a alma alegre dos que lutam, muito diferente
da cara carrancuda dos reacionários, sempre com suas almas amargas e cheias do
fel fascista e atrasado. Sei que a alegria é difícil para eles.
Claro Sue, sei que a falsa ousadia daquele professor ao meter
a cara numa sala de aula para defender as trevas do atraso, ignorante da
conjuntura plena de jovens universitários inteligentes e estudiosos, não é a
única maneira dos reacionários agir. Há os sem argumentos, mas igualmente maus
e traiçoeiros que agem em surdina. Eles não debatem, não falam, não dialogam
porque são medrosos e fracos. Contudo, como serpentes venenosas se escondem nas
moitas para golpear. Volta e meia dão seus botes para prejudicar projetos e
queimar quem realmente luta. Eles são mal humorados como o professor da USP,
expulso pelos alunos democráticos. Eles são grosseiros e fofoqueiros. Quando se
tenta negociar projetos do interesse do povo com eles reagem mal e estupidamente.
O veneno que habita a alma do professor da USP é o mesmo que azeda pensamentos,
palavras e atitudes dos reacionários silenciosos e sem argumentos de toda a
parte, mesmo os santinhos de pau oco de igreja.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, em todas
as situações.
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