A imprensa burguesa e seus títeres têm culpa, sim, da morte do cinegrafista da Band, porque sempre anunciaram e repercutiram a violência das ruas a amenizar suas causas e consequências
Estou cansado de afirmar que a imprensa de negócios privados é
uma das maiores incentivadoras dos movimentos de rua também chamados
genericamente de protestos "contra a corrupção que está aí". Protestos,
sobretudo, "apartidários", "apolíticos" e principalmente "pacíficos",
conforme gostam de apregoar os coxinhas de classe média e os que usavam
as máscaras e as batas dos anonymous, que praticamente se retiraram dos
combates de rua, porque o bicho pegou, e, coxinha que se preze, coxinha
oportunista e esperto "pra" valer não vai se expor a ser preso ou tomar
porrada de policial ou ser ferido por qualquer pedestre que se sinta
ameaçado ou segurança que defenda o patrimônio de seu patrão.
Então, a violência nas ruas ficou por conta mesmo de grupos
específicos, a exemplo dos black blocs e de partidos de extrema
esquerda, que fazem oposição sistemática ao Governo trabalhista, a se
unir, como sempre aconteceu na história do Brasil e por interesses
distintos, com a burguesia e suas representações empresariais,
partidárias e ideológicas de direita e de extrema direita. Exatamente
como ocorreu com os presidentes Getúlio Vargas e João Goulart, que
enfrentaram crises políticas gravíssimas, promovidas pelos inquilinos da
Casa Grande deste País. E deu no que deu: Getúlio se matou e Jango foi
deposto e somente retornou ao Brasil dentro de um caixão.
Contudo, os radicais de esquerda não se importam ou não compreendem,
agem de forma desmiolada, e, consequentemente, vão ao encontro de tudo
aquilo que a direita quer: fatos geradores de crises políticas e
institucionais, além de ações violentas que colocam o estado democrático
de direito em xeque, a acarretar o emparedamento do governo
trabalhista, que há quase 12 anos é enxovalhado pela imprensa de
mercado, bem como o Partido dos Trabalhadores é satanizado e seus
líderes são absurdamente julgados e presos, sem culpas comprovadas, além
de serem alvos constantes de promotores do MPF e de juízes do STF,
porque vaidosos, midiáticos e autoritários optaram por fazer política e
pouco se importaram com as realidades determinadas pelos autos dos
processos.
A esquerda desmiolada e que não tem condições materiais, de logística
e gente preparada e treinada para dar início a uma revolução nos moldes
tradicionais e históricos. A especial e necessária radicalidade dos
revolucinários, com causa e conhecimento, porém, no momento, órfã de
lideranças realmente ideológicas e pragmáticas, que compõem,
propositalmente e também ingenuamente, com a direita mais feroz e
violenta deste País, lugar onde vicejava a escravidão e que ainda hoje
perdura, de forma infame, porque ainda se prendem pessoas em postes com
travas de automóveis, a lembrar os grilhões da escravidão, como,
recentemente, ocorreu com um adolescente, negro, pobre e que cometia
furtos no nobre e aprazível Flamengo.
Um dos bairros da Zona Sul do Rio, cujos seguranças, comerciantes e
moradores de classe média resolveram se juntar em uma quadrilha de
bandidos, que, anonimamente e covardemente, resolveu fazer justiça com
as próprias mãos, e, por seu turno, abrir espaço à barbárie e à falta de
qualquer respeito pela entidade humana, mesmo se tal pessoa for
desonesta e realiza furtos. Essa abjeta realidade se reporta ao garoto
tratado não somente como ladrão, mas, sobretudo, como um negro pobre e
abusado, que ousou roubar a classe média, que sonha em morar na Casa
Grande. Por isto e por causa disto seu preço foi pagar com sua nudez,
seu sangue e, evidentemente, com a extrema humilhação de ter em seu
pescoço um grilhão que remonta à escravidão e tudo aquilo que a
humanidade tem mais de funesto, perverso e hediondo em sua alma e em seu
coração.
Até hoje, apesar de os exemplos do passado, a esquerda infantil —
aquela que quebra, destrói e incendeia o patrimônio público e privado —
não compreendeu que, para enfrentar a burguesia — a direita adulta —,
torna-se necessário um programa de governo, além de um projeto de País,
pois somente assim se dá início à repartição do bolo, ou seja, das
riquezas produzidas no País, porque sabemos que nosso momento histórico
não permite a luta armada para que se possa ter uma revolução
tradicional, como, por exemplo, ocorreu em Cuba ou na Nicarágua na
década de 1980.
O PT, como afirmei em outros artigos, é um partido trabalhista e
integrado por socialistas. Suas lideranças e principais políticos são
reformistas e deixaram há muito tempo de pregar a revolução. Por sua
vez, o Brasil tem uma das burguesias mais perversas, violentas e
egoístas do mundo. Os donos da Casa Grande escravizaram seres humanos
por quase 400 anos, o que veio a se tornar a escravidão de ordem
meramente mercantilista mais longa da história da humanidade. Uma
vergonha. Ponto! Portanto, não é à toa que também temos uma classe média
tradicional e média alta das mais reacionárias e preconceituosas do
planeta. Se tal fato é considerado inverossímil, basta o leitor
pesquisar na internet e ler o que os coxinhas áulicos da perversidade
afirmam sobre as amarras do garoto do poste, no bairro do Flamengo.
Entretanto, a questão primordial de tudo o que escrevi até agora (e
que isto fique claro) é o fato de a imprensa de direita, golpista por
natureza, resolver abrir sua bocarra, e, sistematicamente, tentar fazer
crer ao público que tal imprensa, propriedade de magnatas bilionários
que detestam o Brasil, não tem a mínima culpa no cartório quando se
trata da morte do trabalhador de mídia e cinegrafista da Band — empresa
dos barões Saad. Porém, a imprensa burguesa e seus títeres têm culpa,
sim, porque sempre anunciaram e repercutiram a violência das ruas a
amenizar suas causas e conseqüências. A imprensa irresponsável e
transformada em partido político, que cutuca leões selvagens com vara
curta.
O cinegrafista Santiago Andrade foi morto em sua atividade
profissional, e, quando a poeira baixar, certamente que sua família
deverá procurar seus direitos na Justiça. É o caminho, apesar da falsa
comoção de um sistema midiático frio, calculista, triturador da honra
alheia e que não mede e nunca mediu conseqüências para derrotar ou
destruir seus adversários políticos e econômicos que, porventura, não
rezem por intermédio de suas "bíblias". Exatamente por isto que os
barões magnatas bilionários fazem questão de tratá-los como inimigos.
A verdade é que são dois os motivos pelos quais a imprensa de caráter
absolutamente empresarial luta. O primeiro é a eleição para presidente
em outubro. Osegundo motivo é evitar que as manifestações violentas,
pois nunca pacíficas, cheguem às sedes de suas empresas, bem como também
"impedir" que os protestos comecem realmente a questionar o papel da
imprensa alienígena, cúmplice e parceira da ditadura militar, no Brasil.
Os fotógrafos, os cinegrafistas, os repórteres, os motoristas dos
carros de reportagens da Rede Globo, por exemplo, pararam imediatamente
de cobrir as manifestações "pacíficas" nos locais onde aconteciam quando
passaram a ser rejeitados pela turba.
O medo foi grande e a percepção de que a Globo e seus profissionais
podem ser rejeitados e questionados bateu como uma marreta na cabeça de
um boi sacrificado em matadouro do interior. A sede da Globo, da Veja e
de outras empresas de mídias foram pichadas, sendo que jogaram cocô nas
paredes de uma das sedes da Globo. Sem vacilar, a direção de jornalismo
da Globo deu ordem para que os repórteres cobrissem a marca da empresa
nos microfones, escondessem os crachás, não usassem camisas com a
logomarca da empresa e desse modo evitar contestações, agressões verbais
ou físicas, bem como serem expulsos dos locais dos protestos. Nada
adiantou. As pessoas xingaram os profissionais, que estão a trabalhar,
além de portarem cartazes, gritarem palavras de ordem, bem como fazer
cantorias contra aquela que se julga a Vênus Platinada, acostumada a
cagar regra e pensar que toda a sociedade brasileira está sob seu jugo.
Ledo engano...
As manifestações "pacíficas" da Globo impediram que seus empregados
trabalhassem in loco. Tiveram de cobrir os acontecimentos e as
ocorrências de helicóptero. O feitiço virou contra o feiticeiro, porque a
Globo provou de seu próprio veneno. O escorpião picou a si mesmo. Os
black blocs são a Globo e a Globo é o maior e mais poderoso black bloc
da Nação brasileira. Black blocs da direita adulta e da esquerda
infantil violam a sanidade para termos o primeiro cadáver. Infelizmente.
É isso aí.
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