Querido
aluno Thiago Souza
Primeiro
afirmo que é grande o meu privilégio em ser teu professor. És exemplo de
relacionamento participativo, alegre, compartilhante e respeitoso em sala de
aula. Na prática aristotélica peripatética que fizemos teu empenho em colaborar
com os conceitos de sabedoria definidos pelos filósofos antigos e sempre atuais
me encheram de alegria.
Segundo,
como meu aluno amigo e integrante do Facebook deste o maior testemunho de que
podemos corrigir conceitos quando a humildade delineia nossa postura de busca
da verdade. A postura que assumiste é
rara, Thiago. De modo geral as pessoas, ao se orientar pelo pensamento
permissivo e destrutivo da mídia, ao comentar situações políticas e econômicas
do País, não aceitam que as contrariemos, mesmo respeitosamente, por acharem
que o que emitem nas redes sociais é correto e soberano como verdade toda
poderosa. Tua atitude é digna de elogio honesto por ser justa e colaborativa.
Na tua primeira manifestação no Facebook escreveste contra o voto do Ministro
do STF Celso de Mello, que se posicionou a favor da lei que define os “embargos
infringentes” como direito dos réus que contam com no mínimo 4 votos favoráveis
dos juízes, num universo de 10 votantes, como foi o caso do alardeado e falso
mensalão. Lamentei fraternal e respeitosamente teu comentário, que tens o
sagrado direito de fazer e de pensar como achares melhor. Prontamente te
dispuseste a estudar o significado de “embargos infringentes” e não titubeaste
em refazer tua opinião e a defendê-los. Parabéns, meu amigo. Tua postura é relevantemente
ética, cidadã e merece destaque. Repito: se todas as pessoas se libertassem da
opinião publicada gerada pela mídia, que serve aos piores interesses contra o
Brasil, o reforço para os avanços sociais e políticos seriam mais enfáticos.
Agora
te convido, bem como aos meus queridos leitores deste blog, que muito me honram
diariamente com suas presenças e comentários, a pensarmos num seguimento de
mascarados que atua de maneira brutalmente violenta nas várias manifestações de
rua, no interior de casas legislativas e em frente de prédios públicos em vários
lugares do Brasil, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Não há
dúvidas de que alguns mascarados são de direita, são fascistas treinados em
porões clandestinos e marginais. São facilmente reconhecidos por gestos que
fazem e gritos de ordem. Esses devem enfrentar a justiça, até mesmo porque seu
histórico de atentados à sociedade e à democracia vem de longa data, sem
nenhuma novidade, e foram desgraçadamente prejudiciais à democracia.
Nesse
momento nossa atenção se volta aos tais líderes do que chamam de “poder popular”.
Aqueles que desenham o A circulado, o símbolo do anarquismo. Este seguimento
produtor de arruaças tem o amplo apoio da mídia, que chega fazer vídeos de seus
quebra-quebras e, em alguns casos, chega a transmitir seus ruídos e badernas ao
vivo, para impressionar os incautos que votarão em 2014. Li inúmeros artigos em
sites bacanas que os elogiam e até ingenuamente dizem que são a juventude
insatisfeita com o que lhe delegamos depois que derrubamos a ditadura e
empurramos o neoliberalismo para a lixeira da história.
Sinceramente
não creio nessa hipótese. Não se trata de juventude decepcionada. Trata-se, isto
sim, de ação política mal fundamentada ou, até em certos casos, bem
fundamentada para a confusão. Esses grupos sempre existiram aqui no Brasil e no
mundo. Eles não se unem com ninguém, não fazem alianças, acordos nem pensam a
realidade como uma organicidade viva integrada por várias necessidades e
interesses.
Não, o
mundo anarquista é infinitamente pequeno, soberbo e autoritário. Seus
militantes se sentem donos da verdade. Eles são de um purismo impressionante.
Para eles todo o mundo é burguês e deve ser queimado no inferno. Somente eles
são os bons e os salvos pela doutrina de Leon Trotski, Pierre-Joseph Proudhon,
Mikahil Bakunin e tantos outros, que
concebem que o povo deve destruir o Estado e tudo o que eles imaginam
representar o capitalismo e o socialismo, que em suas pequenas mentes são a
mesma coisa. São contra o hino e a bandeira nacionais brasileiros.
A bem
da verdade, não há como negar que eles são ativos e ousados. Todavia, suas
táticas são equivocadas a partir de suas concepções idealistas, no sentido de
que abstratas e além da realidade, sem nenhuma referência aos fatos. Por serem
idealistas e puritanos os anarquistas imaginam que o mundo, que a justiça e o
bem romântico iniciam no momento em que eles os concebem, sem nenhum respeito à
história e aos que a fazem, principalmente os trabalhadores e oprimidos.
É bom
que reflitamos, Thiago, que esse tipo de corrente de ação sempre desemboca na
direita política, no fascismo. Durante a ditadura militar aqui no Brasil eles
entregaram muitos combatentes à repressão que prendeu, torturou e matou. Seus
discursos brotantes dos intestinos, principalmente do grosso, atacam Cuba,
Venezuela, Síria, a Líbia do assassinado pelos Estados Unidos Moamar Kadhafi,
tudo, muito semelhante e confuso com o que faz o imperialismo, a direita e as
organizações Globo. Como dizem alguns: esse é o tipo de esquerda que a direita
ama. Tanto que nas manifestações de rua desde junho são essa “esquerda” e a
direita que quebram patrimônios públicos e privados. A própria mídia que os
apoia e divulga mostra inúmeros casos de pobres proprietários de bancas de
jornal, de bares pequenos, de lojas com poucos funcionários e outros pequenos
negócios que são impiedosamente destruídos com a colaboração desses ditos
esquerdistas que a direita adora.
É
evidente que olhando através das TVs, quando esses aloprados destroem pequenas
porções dos bancos, parece que eles farão a revolução ao destruir o demônio do
sistema bancário, composto por larápios assaltantes de nossa sacrificada
economia. Que nada, isso é pura tempestade em pires de cafezinho. Não mexe em
nada do poderoso sistema financeiro, pelo contrário, desperta a pena do senso
comum que acha que aquilo é vandalismo. O sistema continua intacto e fazendo de
seus maiores estragos em nossa economia, como vampiro insaciável. O Banco
Central que o diga ao subir os juros para alimentar a fome de sangue que têm os
banqueiros.
A
verdade sobre a esquizofrenia desse seguimento dito esquerdista é tão grande e
imoral que eles não fazem nada para mobilizar e organizar o povo. Não, são
oportunistas. Alguns autores denominam suas ações de sequestro dos movimentos
grevistas por melhores salários, condições de trabalho, mobilidade social e
dignidade humana. Eu os chamo de preguiçosos oportunistas. Eles não apoiam os
grandes esforços sindicais, dos partidos de esquerda, da luta pela terra, dos
movimentos sociais, mas se aproveitam de suas manifestações para imprimir a
violência que acham importante como tática de marketing. Como o fascismo
desacreditam os partidos e as lutas organizadas da classe trabalhadora. Hoje,
por exemplo, há em São Paulo uma grande manifestação contra o leilão do poço do
pré-sal de Libras. Quantos deles apoiam esse esforço de entrega de nossas riquezas
às raposas demolidoras dos bens de nosso povo? Podes crer, Thiago, nenhum deles
participará, porque acham que o pré-sal, que pode nos tirar da miséria da
educação, da saúde, dos transportes, da segurança etc, é coisa de burguês,
porque envolve o Estado. O imperialismo agradece sua omissão e molecagem.
Vlademir
I. Lênin escreveu em abril-maio de 1920 um sugestivo livro denominado “esquerdismo,
doença infantil do comunismo”. Nesse maravilhoso livrinho Lênin define bem as ações
desses grupos. Suas características são as de dividir o povo, suas
organizações, de fragilizar as lutas com violências e sabotagens. Além destas,
destaquei acima uma que é o oportunismo, muito típico da burguesia reacionária
e desses grupos. Sublinho mais duas, muito presentes nesses tresloucados: o
terrorismo e repetição de atos, sem crítica e critério, como fazem esses grupos
hoje, também.
Escrevi
acima que sinto rápidas satisfações quando essa turma quebra caixas e vidraças
de bancos. Mas logo me recupero. Eles repetem acriticamente o que em outras
conjunturas foi necessário fazer. Durante a ditadura militar grupos
guerrilheiros expropriaram bancos invadindo-os usando metralhadoras e bombas. Aquilo,
naquela conjuntura, se justificava como tática de fustigar a ditadura e buscar
recursos para a luta. Também sequestraram embaixadores. Foi bom porque promoveu
a liberação de presos barbaramente torturados nas prisões políticas e como
forma de mostrar ao imperialismo que aqui a luta avançava contra a negação dos
direitos do povo brasileiro. Mas hoje o terrorismo e a violência não se
justificam. Pelo contrário, em vez de mostrar força, na verdade, mostram
fraqueza de compreensão da realidade e de intervenção justa para sua
transformação. Os violentos e terroristas de hoje são atrasados e suas práticas
ajudam a direita e o imperialismo no enfraquecimento da democracia.
Portanto,
nada há de novo nem de sério nas violências dos esquerdinhas de hoje,
tremendamente infantis e pequenos burgueses. Com suas máscaras revelam covardia
e mimetismo de lutas em outros locais e tempos, onde o anonimato se justifica,
como entre os palestinos, por exemplo.
Ora, se
querem realmente lutar, os que são jovens, ingressem no movimento estudantil e
nas suas organizações, os que moram nas periferias lutem nas associações de moradores,
os trabalhadores avancem de seu oportunismo salarial e participem de seus
sindicatos e centrais sindicais para reforçar as lutas políticas no País.
O
projeto de desenvolvimento nacional com soberania precisa avançar muito em
busca da construção de justiça social. Para isso é necessária muita unidade
para pressionar o governo a avançar nas transformações. Os filhinhos de papai
que dormem até tarde e depois saem de casa correndo para as tais “manifestações”
também são convidados para luta, que tem raízes históricas profundas,
merecedoras de respeito de todos os lutadores.
Abraços
críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz, sem infantilidade, de
modo maduro e consequente.
Dom
Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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