Querido pastor Leônidas
Recomendo que leias o excelente
artigo do nosso irmão e camarada Frei Betto. Nesse texto linkado abaixo, nosso
autor, aliás, nosso maravilhoso escritor e coordenador de pastorais sociais,
enfiado até as raízes dos cabelos em nossa realidade latino americana, consegue puxar fios importantes conexos e condutores de
nossa realidade libertária, nessa parte do nosso historicamente massacrado Continente.
Ao mencionar a forte e intensa participação
do heróico e exemplar José Martí na luta pela libertação da América Latina, a
principiar por Cuba, Frei Betto consegue identificar pontas significativas de
uma realidade constituída de conflitos imensos, que servem para desumanizar o
povo, graças a opressão e também para libertar através da luta, que no fundo
formam o pensamento do líder Martí.
É interessante identificar que
Martí era, por um lado, intelectual
refinado, estudioso, atento à realidade, muitas vezes tão complexa na sua
percepção, outras tão mal captadas por pessoas mal formadas e mal intencionadas
como se vê hoje nos jornalões e revistas da classe dominante em todo o mundo.
Seus autores e redatores são tão medíocres e arrebatados pelo ódio ao novo, ao
justo e ao povo. A filosofia, a ciência
e a espiritualidade, cujas fontes de farto conhecimento o intelectual cubando encontrou
em Nova York, onde viveu de 1880 à 1895, deram-lhe, porque ele buscou, sustentação
teórica honesta para a leitura da realidade do capitalismo que se desenhava
opressor e desumano. Por outro lado,
Martí era prático, entregue à ação na e para dentro da realidade, não a
aceitando como pronta e acabada, como se movimentada somente por Deus ou pelos
demônios. A realidade tensionada pela opressão colonialista espanhola e depois
pela poderosa dominação estadunidense, tomando a América Latina como seu
quintal, levantava também seus lutadores e mártires, igualmente de corações
incendiados pelo amor ao povo, à liberdade social e econômica, no sentido de
que as relações fossem modeladas pela justiça social. José Martí foi uma
espécie de canalizador e catalisador da luta construída por seus antepassados e
abraçadas por seus sucessores. Por isso, a necessidade de que seu intelecto se
nutrisse pelo estudo, pela pesquisa, pela interpretação e atualização na
prática revolucionária. Graças ao seu sonho libertário, competentemente
embasado nos estudos, nosso herói morreu de armas em punho, sem titubear na
defesa do povo e de sua soberania nacional.
Vale apena ler o artigo de Frei
Betto, meu querido Leônidas. Vale à pena, por um lado, em virtude das dicas que
ele dá com referência aos vários vultos – verdadeiros fios incandescentes – que
mostra em seu texto, tais como os maravilhosos mártires e exemplos de lutas como
o bispo Espada, Félix Varela, Luz e Caballero, José Varona, Frei Bartolomeu de las
Casas ,Tupac Amaru e milhares de outros e outras homens e mulheres corajosos/as
e libertários/as, que sempre pensaram e agiram em favor do próximo e do povo,
coletivamente, que nos inspiram e reforçam sempre que tenhamos que enfrentar a opressão,
incendiados pelo sonho de libertação, que nunca, jamais, deve nos deixar
quietos na vagabundagem burguesa.
Betto, ao escrever esse e todos
os outros textos libertários, por outro lado, entrega-se bonitinho. No texto em
pauta ele identifica a espiritualidade de muitos dos mártires cristãos de “radical
sacralidade de cada ser humano, considerado filho amado de Deus...” ele fala de
sua própria paixão pela libertação dos pobres, do povo, dos trabalhadores e de
nossos países oprimidos pelo colonialismo e pelo imperialismo. Como diria Paulo
Freire, Frei Betto é “encharcado’ dessa realidade. Movimenta-se e justifica-se
existencialmente pelo sonho socialista pela justiça e pela coragem de ousar na
luta permanentemente revolucionária, mesmo que seu custo sejam prisões,
torturas e morte dos/as heróis/heroínas.
O texto e o testemunho de Frei
Betto são consolo e ânimo nessa nossa realidade contraditória onde atores
religiosos pulam e saltam que nem macacos para arrancar dinheiro do povo, crivando-o
de mentiras e de distorções do evangelho libertador e humanizador. Ainda nessa madrugada
assisti por um canal de TV aqui de Goiânia um pregador da Igreja Fonte da Vida que
falava do vazio existencial de vidas sem Deus. Objetivando apontar a solução
para o problema inventado por ele apontou um versículo bíblico, que maculou e
fraturou em favor de sua visão alienada. Como sempre , citou Mateus 6, 33 onde diz “Buscai em primeiro lugar
o Reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas lhe serão acrescentadas”.
Ele pulou direto do “buscai o Reino de Deus em primeiro lugar” para “as demais
coisas lhe serão acrescentadas”, sem mencionar o conteúdo, o fator mobilizador
do Reino, que é a justiça. Ainda fez a congregação repetir o e versículo
esfacelado três vezes. Triste e feio isso. É preciso resgatar a capacidade de
estudos e de luta de nossos/as verdadeiros/as heróis/heroínas, sepultados pelo
neoliberalismo adotado pelos falsos líderes religiosos que buscam riquezas
pessoais e institucionais em detrimento da alienação e miserabilização do povo.
Sugiro que cliques sobre o título
linkado abaixo para leres o instigante texto do Frei Betto, para te inspirares a
buscar nos líderes por ele apontados a força dos que lutam como iluminarias a
brilhar, apesar do seu sangue derramado. Boa leitura, meu irmão!
Abraços críticos e fraternos, sem
desistir da luta pela justiça e pela paz, jamais!
Dom Orvandil: bispo cabano,
farrapo e republicano.
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