Amigo Prof. Francisco Neto
Obrigado por teu e-mail justificando ausência no encontro da IBRAPAZ no
próximo sábado. Sei de tua labuta como professor. Essa nossa atividade é árdua
e nos exige sacrifícios quase nunca e em quase nada recompensados. Porém, não
abro mão de tua participação nesse grande projeto. És um evangélico sério e
comprometido com a missão da vida e és orientado por excelente pensamento que
te coloca no mesmo caminho da luta pela justiça e pela paz.
Então, meu amigo, lê aí abaixo a que ponto desce o preconceito de
pessoas afetadas por ideias colonialistas e de embranquecimento de raças. O
incrível que quem discriminou essas crianças indígenas são alunos e professores
de escola pública, portanto freqüentada por pobres. É isso que chamo de
absorção das idéias burguesas de dominação. Os pobres discriminam marginalizados,
empurrados para a pobreza e para a miséria pela burguesia, também pisam em
outros pobres e violentados culturalmente. Tal atitude toca no interesse
essencial dos direitos humanos, o de defender os que têm seus direitos
atingidos e aviltados.
Mas isso o pastor evangélico Marco Feliciano não vê. A preocupação dele
prende-se em combater homossexuais, casamentos homo afetivos e africanos, que ele chama de amaldiçoados por
Deus. Não sou especialista em psicanálise, mas meu espírito de observação me
ensina que esse tipo de evangélico oferece risco à sociedade. São preconceituosos,
violentos, sectários, moralistas e tendentes à direita fascista, como posição
política. Tanto é verdade que Feliciano conta na sua tropa de choques com o
inestimável apoio do fascista deputado coronel Jair Bolsonaro, conhecido por
sua participação criminosa na ditadura e por suas posições políticas de extrema
direita. Aliás, Bolsonaro casará novamente, dessa vez sua cerimônia religiosa
será abençoada por Silas Malafaia. Quer dizer: tudo no mesmo saco e convenientemente
arranjado.
Evangélicos da linha de Feliciano e de Malafia, que o defende
publicamente, são conservadores e temem o socialismo. Isso Freud explicaria
facilmente. Até eu explicaria. Nas relações interpessoais são vacilantes, nunca
confiáveis e de caráter traiçoeiro. Dificilmente assumem riscos pelo próximo. Suas
atitudes são calculadas, em nada possibilitando perdas. Sua contabilidade
pessoal só tem a soma e a multiplicação individuais, nunca menos nem divisão. Visam
seus interesses em primeiro lugar, jamais o bem social e coletivo. Ainda bem
que há evangélicos que não são desse naipe, como mostra a entrevista do Caio
Marçal aqui abaixo.
Claro que as causas sociais sublinhadas por quem luta pelos direitos
humanos jamais serão assumidas por evangélicos obtusos, que só querem ir para o
céu, mas antes querem tudo de bom que a terra possa oferecer à vida, de
preferência inventando “milagres” caros como mecanismos de bateção de carteira
dos pobres.
Portanto, o povo brasileiro tem o dever de expulsar da Comissão de
Direitos Humanos e Minorias esse oportunista de direita, o engomadinho Marco
Feliciano.
Lê abaixo a notícia vergonhasa da discriminação de crianças indígenas no
Mato Grosso do Sul.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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Chamados de “sujos” e “fedidos”, indígenas são expulsos de sala de aula
Segundo denúncia, grupo de indígenas foi expulso da
sala de aula pelo diretor do colégio, pressionado por professores e
estudantes não-indígenas
19/03/2013
Ruy Sposati,
de Dourados (MS)
Cerca
de 28 estudantes indígenas Kaiowá e Guarani da aldeia Campestre foram
retirados de uma sala de aula de uma escola estadual em Antônio João
(MS), sob a alegação de que eram “sujos” e “fedidos”. A denúncia foi
realizada pelo conselho do Aty Guasu, grande assembleia Guarani e Kaiowá
do Mato Grosso do Sul, no último dia 12, no Ministério Público Federal
do estado, em Dourados.
Atualmente, a comunidade
de Campestre tem acesso, no próprio tekoha (aldeia), ao ensino básico e
fundamental. Para cursar o ensino médio, os estudantes precisam sair da
aldeia e estudar em colégios no perímetro urbano do município.
Segundo
a denúncia, no dia 27 de fevereiro, o grupo de indígenas foi expulso da
sala de aula da turma do primeiro ano do ensino médio matutino da
Escola Estadual Pantaleão Coelho Xavier pelo diretor do colégio,
pressionado por professores e estudantes não-indígenas.
“Disseram
pros nossos estudantes que eles não deveriam estudar ali”, conta a
liderança da aldeia, Joel Aquino. “Disseram aos nossos jovens que se
eles continuassem estudando o ano todo, iam encher a sala e escola de
terra, porque temos ‘pés sujos’. E ‘chulé’, que as indígenas femininas
tem aquele cheiro de mulher”, conta. O diretor colocou o grupo do lado
de fora da sala de aula, enquanto o professor continuou dando aula para
os não-indígenas. “Às vezes o professor ia lá fora passar alguma
atividade para os indígenas”, diz Joel.
Quando
voltaram à aldeia, os estudantes relataram à comunidade o que havia
acontecido. Joel conta que ele próprio e uma outra liderança da aldeia,
em momentos diferentes, foram pessoalmente falar com o diretor da
escola, que confirmou ter expulsado os jovens da aula por considerar que
eles não eram higiênicos o suficiente.
“Depois
disso, nossos estudantes não querem mais frequentar a escola por motivo
de vergonha, tamanha a situação humilhante que passaram”. Segundo Joel,
apenas três deles resolveram continuar frequentando as aulas na escola
estadual. “O resto está perdendo aula, decidiram que não vão [para a
escola]. Os três que estão indo disseram que o diretor decidiu que eles
podem voltar pra sala de aula, porque são poucos. Mas que se voltar a ir
todo mundo, eles não vão poder ficar na sala”, conclui.
Além
do MPF, os relatos também foram encaminhados à Fundação Nacional do
Índio (Funai) e a representantes da Secretaria de Direitos Humanos.
Foto: Ruy Sposati/Cimi
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