“Os evangélicos não são todos iguais”
20 de março de 2013
Caio Marçal, da rede Fale, que congrega 30 organizações
evangélicas em 17 estados, conversou com o Diário sobre os estragos de
Marco Feliciano.
O deputado Marco Feliciano, do PSC, conseguiu ficar apenas oito
minutos à frente de uma reunião da Comissão de Direitos Humanos na tarde
de quarta (20). Manifestantes burlaram a segurança e protestaram
contra ele. MF continua dizendo que não vai sair, mas um vídeo em tom
conspiratório, com uma narração das catacumbas, foi postado em sua conta
no Twitter. O título: “Marco Feliciano Renuncia”. Ele diz que não tem
nada a ver com isso.
Uma das vozes mais eloquentes contra Feliciano, e uma das primeiras a
se levantar, foi a de Caio Marçal, secretário de mobilização da Rede
Fale, entidade que congrega 30 organizações evangélicas em 17 estados. A
rede Fale soltou um comunicado oficial e um abaixo-assinado pedindo a
destituição de MF.
Marçal, que se define como um missionário, mora em Belo Horizonte com
a mulher, num apartamento de dois quartos. “Os evangélicos não são
todos iguais”, diz ele. “O discurso do ódio só interessa a quem quer
espalhar temor e pânico”.
Marçal conversou com o Diário.
Até que ponto Marco Feliciano representa o pensamento dos evangélicos?
Os evangélicos não são todos iguais. Há muitos de nós que não
concordamos com a maneira como Marco Feliciano opera. Ele se utiliza de
um discurso odioso e agressivo. Nós desejamos o debate, mas considerando
o direito do outro a fazer suas escolhas. Eu faço parte de um grupo que
crê que todo ser humano é alcançado pela graça de Deus. Por mais
pecadores que sejamos, Jesus olha para as pessoas em sua essência.
Qual o papel da bancada evangélica?
Nós não precisamos da política. A igreja não precisa de defesa. Ao
invés de defender os evangélicos, é melhor defender o povo como um todo.
Fazer com que a sociedade não vire um terreno de discussões belicosas. A
gente quer estar sintonizado com Deus e com Jesus. O Feliciano espalha o
ódio. Nós não vamos ficar parados.
O Evangelho não endossa esse tipo de postura. Aprendemos a não
agredir e a oferecer a outra face. Tocar os que estão à margem. Não
podemos estar mancomunados com o poder ou com um projeto de poder.
Nosso
projeto é de serviço, de servir o outro. Não se trata de dominação e
controle.
Além do mais, os interesses não estão claros. Por que esse ataque ao
PT agora, se eles fazem parte da base aliada do governo? O que eles vão
ganhar com isso? O discurso do ódio só interessa para quem quer semear
temor e pânico. Pessoas tomadas pelo pânico não pensam direito.
Por que há pastores evangélicos que falam tanto em dinheiro?
Essa leitura teológica do Feliciano é equivocada. Pastores como ele
têm uma posição privilegiada. Ele é um “homem de Deus”. A fixação pelo
dinheiro tem a ver com a Teologia da Prosperidade, criada por religiosos
americanos. Eles precisam ter um estilo de vida condizente com o que
pregam: avião, carro importado etc.
Mas há igrejas evangélicas na periferia, na cracolândia, nas favelas.
Isso não está na mídia. Boa parte do que aparece sobre os evangélicos
na mídia é por causa desses caras. Dá essa ideia de que todos
funcionamos da mesma forma.
O Brasil precisa tratar de forma mais responsável os direitos
humanos. Temos de superar problemas com relação ao índio, à mulher, à
criança. Temos membros filiados a partidos, mas fazemos questão de
manter nossa isenção. Não queremos fazer parte de bancada evangélica.
Existem homossexuais na sua igreja?
Não sei se há homossexuais na minha igreja. Se tem, a gente não sabe…
Mas entendemos que não se pode entrar no joguete da política do ódio e
da perseguição. A perspectiva da negação do outro não pode existir. Não
podemos impor uma agenda de santificação. Acredito piamente que nosso
dever é fazer o bem, dar amor e pregar o evangelho.
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