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quinta-feira

Os dois brasis que se debatem nas eleições de 2014




Amigo Jean

O calor da campanha eleitoral para Presidente, que já começou, eleva os ânimos de modo irracional. Eu mesmo sou atacado seguidamente ao ser acusado de petralha, de bispo vermelho a serviço do PT e do comunismo. E-mails, redes sociais e até comentários postados aqui no blog sinalizam a descida da rampa da razão e ao subsolo dos instintos mais raivosos de setores de nossa sociedade. Artigos meus reproduzidos por outros blogs e sites muito acessados e sérios registram ofensas terríveis e até perversas de quem não consegue debater projetos importantes para o Brasil, que sejam projetos de nação e não de rivalidades rasteiras.

Na verdade, os campos se dividem e dividem o Brasil entre um projeto enraizado historicamente e outro igualmente cristalizado nos estratos sociais e políticos dominantes. 

Tal conflito é gigantesco e desenha um projeto de País que lança raízes nos indígenas invadidos pela chegada dos europeus em 1500 e nos irmãos africanos arrastados para cá nos porões fétidos dos navios negreiros. 

Com o choque civilizacional entre europeus e indígenas estes se transformaram em vítimas do que há de mais desumano e opressor, a colonização que pisou e destruiu tudo que lhes era original culturalmente, instalando em seu peito o grito por liberdade e respeito ao outro. Suas culturas e almas milenares foram espezinhadas e o início de sua extinção odiosa começou.  

Nossos irmãos africanos arrancados de suas terras sagradas foram jogados aqui para serem usados como força escrava na produção desumana. 

O conflito de mundos e de interesses traçado pela chegada dos europeus, acentuado com a escravatura, lançou as primeiras linhas de divisão social entre dois brasis. As escaramuças que se iniciaram no amordaçamento de indígenas e africanos abrasileirados na marra esboçaram os primeiros traços da divisão que chega aos nossos dias e às eleições de 2014, com aviltamento de direitos. 

A luta pela libertação dos escravos implicou em derramamento de sangue, separando proprietários de um lado e trabalhadores, de outro. Os mundos entre a Casa Grande e a Senzala se demarcaram econômica e matematicamente: os 1 por cento viraram marca dos que se adonaram desde cedo das vidas, da liberdade e do sangue dos trabalhadores escravizados, jogando-os no inferno sem os direitos humanos dos 99%  que se gastam na produção. 

A luta pela república ergueu ainda mais a linha divisória entre os dois mundos. A elite sempre apelou às emoções dos explorados prometendo-lhes respeito aos seus direitos, que nunca cumpriu, engando sempre a iludida classe dominada. 

Com a inserção do Brasil no mundo industrial a luta de classes construiu consciência de organização nos trabalhadores. Estes assumiram as mobilizações exigindo respostas aos seus direitos ao trabalho, à alimentação, à saúde e à habitação no século XX. Revoluções e golpes se sucederam a partir da década de 30, quando Getúlio Vargas chegou ao poder central para arquitetar o esboço de um País soberano e desenvolvido, independente do jogo imperialista. A partir de lá a história registra um Brasil que virou canteiro de obras, em máquinas lançando fumaça ao ar na industrialização de produtos duráveis e nacionais. Escolas e universidades se espalharam pelo País como fruto das pressões dos trabalhadores e da juventude.

Porém, o bando dos 1 por cento nunca se conformou e nunca deu tréguas para uma democracia que implicasse soberania com desenvolvimento nacional e justiça social.  Suas manobras invariavelmente sempre incluíram mentiras, difamações, destruições de imagens e atentados. Tanto foi assim que levaram Getúlio Vargas à morte.  Depois cuspiu na democracia e tingiu o Brasil com o sangue derramado dos patriotas  com o golpe de 1º de abril de 1964. Depois do golpe não se rogaram em corromper o processo de retomada democrática e jogaram o poder nas mãos da corrupção neoliberal com Collor e depois com Fernando Henrique Cardoso, que comandou verdadeiro massacre à alma nacional de nosso País. 

O que resta na estrada da destruição dessa parte do Brasil do 1 por cento que sempre dominou os interesses econômicos? Pelos caminhos da história do Brasil se empilharam milhões de corpos humanos mortos de fome, de destruição do ecossistema do nordeste, do desemprego em massa, do sucateamento da educação, da saúde de todo o povo e da humilhação da Nação pelo impatriotismo de governos como os da ditadura e de Fernando Henrique Cardoso, que entregaram o caderno político do Brasil para que os gringos escrevessem nele o que queriam ver cumprido. 

Nós, os mais velhos, envolvidos desde cedo na luta contra a concentração de riquezas, de renda e de poder, recordamos do grito profético de Dom Helder, que a ditadura abafou no Brasil para aguentá-lo a ecoar no mundo e nos grandes fóruns internacionais, a protestar contra a divisão entre o Brasil dos pobres e o dos ricos. Assistimos o sobe e desce da economia de acordo com os humores das bolsas de Nova York, de Tóquio, de Frankfurt, de Boston, repercutindo na rapinagem de nossos recursos sociais, jogando nosso povo na miséria. Assistimos durante a ditadura sanguinária e o governo capacho de Washington de Fernando Henrique Cardoso, que deseja voltar através de seu cambaleante e fanfarrão discípulo, o mineiro carioca Aécio Neves, milhares de pais de famílias desempregados, humilhados, desesperados e jogados no alcoolismo sem volta.  Espantados vimos os jovens olharem para o estrangeiro como porta de salvação, completamente descrentes do Brasil da ditadura e de FHC, feito paraíso dos poderosos e dos 1%. Muitos jovens perderam o sonho de ser felizes e se romperam no círculo sem volta das drogas, inventando as cracolândias e vocabulários demonstrativos de desesperança e de proteção. Quantas mulheres viram seus lares se destruir com o desastre social imposto pelos que assaltaram o Brasil e o fizeram refém da pornografia do mercado?

Pois nestas eleições de 2014 percebe-se a luta dos dois campos históricos, com problemas e debilidades para a vertente social e soberana, que se desvia dos sonhos originais. 

É inegável que o Brasil virou sua proa em direção à recuperação da autoestima de nosso povo com trabalho, com salários e com dignidade a partir de 2002 com a eleição de Lula. Esperávamos que esse processo avançasse significativamente com o governo Dilma. Contudo, há críticas sérias de parte do campo nacional e social, não o da elite dominante, de que Dilma tingiu-se com as cores neoliberais ao negociar com as raposas, de ceder fazendo leilões de pontos estratégicos de nossa economia e de baixar a guarda para o imperialismo e enviar poderosas somas de nosso dinheiro para o estrangeiro e para os bancos saguinários. Críticas são feitas pelo emperramento das reformas como a agrária, permitindo que os grandes proprietários rurais façam da produção de alimentos a concentração do capital e de terras. Dilma nada fez para forçar a reforma das comunicações, permitindo que barões tão desonestos e bandidos como os do tempo de Getúlio, incomodados com o caráter soberano e independente de sua política nacionalista, promovendo através da mídia a sua derrubada, desembocada no suicídio do chefe da Nação, continuem a deformação da opinião pública com mentiras, calúnias, difamações e tentativas de golpes. Dilma não pressionou suficientemente pela reforma política, que libertaria as eleições das influências maléficas dos que sempre defenderam a matança de indígenas e da escravatura históricas. Enfim, o Brasil avançou após FHC, mas travou política, social e economicamente. Há até reclamações de que a Presidente se quer abre espaços em sua agenda para negociar com a classe trabalhadora organizada nem com os movimentos sociais no sentido de ouvir o que têm a dizer e a contribuir com os avanços.

Contudo, contraditoriamente esta Presidenta é atacada de forma enfurecida e irracional pelos setores mais ligados histórica e ideologicamente com os que mataram indígenas, escravizaram e desempregaram durante toda a história e venderam o Brasil. Esses setores são de tal modo cínicos que não negam, não escondem e não medem desejos de abocanhar o poder para vender os bens públicos, principalmente o que não puderam vender quando governaram. Pior, esses setores não se recusarão à prática de métodos sujos para abrir caminhos através de eleições manipuladas, corruptas e atreladas ao poder econômico, aliado à mesquinharia internacional golpista e assaltante das riquezas do subsolo. 

Penso, meu amigo Jean Kojima, querido membro do Comitê Cidadania e Política da Ibrapaz, que a Presidente Dilma deveria reorganizar sua base política, rever sua política de relacionamento com a classe trabalhadora, com os movimentos sociais e suas relações com os sistema financeiro, até agora de aparente subserviência, como mostra o mau comportamento do Ministro da Economia Guido Mantega e do Banco Central, obedientes à cartilha neoliberal, do mercado perverso e terrorista, e se colocar nessas eleições com autocrítica convincente, atitude que a engrandeceria. Assim, mostraria seu compromisso com tudo o que significa desenvolvimento em todos os setores sociais, políticos e econômicos do País. Evitaria vazamento de apoio pela esquerda e o risco de guerra civil, cujos sinais já se esboçam.

Essa é hora decisiva para o Brasil e para o mundo. O eixo geopolítico se desloca do imperialismo para outro campo, onde as vantagens são maiores para o Brasil.

Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, em todas as situações.

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