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terça-feira

Visão tranquila sobre os conflitos da Venezuela. Poderia ser o Brasil

Os críticos do socialismo olham para a Venezuela e dizem: ‘nós avisamos’. Mas eles estão errados





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Publicado originalmente no Independent
POR OWEN JONES

Aqui está a narrativa da direita: o povo venezuelano saiu às ruas contra um regime que abusa dos direitos humanos. A resposta tem sido a repressão assassina, sendo cada morte uma prova contundente de uma autocracia monstruosa. As políticas econômicas do governo não serviram para nada além de ruína para a população, o que demonstra mais uma vez que o “socialismo” é um fracasso abjeto. Aqueles que desafiam esta narrativa, como eu, não são nada além de ingênuos, idiotas úteis, os equivalentes modernos dos fabianos que foram para a União Soviética de Stalin louvá-la como uma nova civilização.

Vamos dar algum contexto. Antes de Hugo Chávez ser eleito presidente em 1998, a Venezuela foi governada por várias administrações neoliberais. Em 1975, 15% dos venezuelanos viviam na pobreza. Duas décadas mais tarde, o número subiu para 45%. Quando venezuelanos protestaram contra o então presidente Pérez – que abandonou o neoliberalismo em 1989 -, todo o poder do estado foi jogada sobre eles no chamado “Caracazo”, um massacre da Praça de Tiananmen em que centenas de manifestantes foram abatidos.

Repelido pela elite política tradicional, os venezuelanos deram a Chávez uma vitória esmagadora em 1998. Na época, ele defendia a abordagem da Terceira Via defendida por Tony Blair, mas sua principal estratégia era usar a riqueza do petróleo para financiar programas sociais. As taxas de pobreza despencaram de 50% para cerca de 25%; a extrema pobreza foi reduzida em dois terços. Segundo a ONU, o que representa a segunda maior queda percentual de pobreza na América Latina.

O bastião tradicional do dogma neoliberal, o Banco Mundial, revela que, enquanto a renda per capita da Venezuela definhava abaixo da média do continente antes de Chávez chegar ao poder, ela é agora de US$13 120, mais alta do que Brasil ou Argentina, contra uma média de US$ 8 981. Apesar dos problemas econômicos recentes, a ONU revelou que a Venezuela teve a maior queda no número de pessoas em situação de pobreza na região em 2012.

Isso quer dizer que a Venezuela é uma espécie de paraíso? Não. A inflação está em mais de 50%. Sob o antecessor neoliberal de Chávez, Rafael Caldear, na década de 1990, ela superou os 100%. E, no entanto isso não foi apresentado como um fracasso do capitalismo de livre mercado.

A situação da lei e da ordem é simplesmente inaceitável, agravada por vários fatores: vizinhos em guerra civil na Colômbia; uma sociedade que está repleta de armas; e uma força policial ineficaz e corrupta. O apoio do governo a tiranias como a da Síria e a da Líbia não deve ser esquecido, mas dado o apoio ocidental a ditaduras infames como a da Arábia Saudita – e emprego lucrativo de Tony Blair na ditadura do Cazaquistão -, não vamos exagerar na dose de hipocrisia.

Mas dê uma olhada no comportamento da oposição. Em 2002, Chávez foi derrubado por um golpe apoiado pelo Ocidente, vigorosamente incitado por uma mídia privada que faz Fox News parecer liberal. E no entanto um levante popular devolveu o governo eleito ao poder. Imagine se o nosso governo eleito fosse derrubado por uma junta, matando muitas pessoas inocentes no processo, e a coisa toda fosse aplaudida por ITN e Sky News. Qual seria o resultado?

Quanto às credenciais democráticas do governo, quando Chávez foi eleito, em 1998, recebeu 3,7 milhões de votos contra 2,6 milhões da oposição. Em 2013, seu sucessor, Nicolás Maduro, recebeu 7,6 milhões de votos, contra 7,4 milhões da oposição. Os observadores internacionais têm repetidamente declarado que as eleições são livres. Em 2012, o ex- presidente dos EUA Jimmy Carter elogiou o processo eleitoral da Venezuela, dizendo ser “o melhor do mundo”. Quando Chávez perdeu um referendo constitucional em 2007, ele aceitou.

A Venezuela é um dos países mais polarizados do mundo. Negociações devem acontecer, os mortos precisam de justiça, o governo deve garantir as liberdades e a desordem violenta precisa acabar. Mas uma coisa é clara. Aqueles que usam os problemas da Venezuela para ganhar pontos políticos não têm nenhum interesse na verdade.

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