Prezado Pe. Vito Miracapillo
Bem vindo de volta ao Brasil, prezado amigo do povo, principalmente dos pobres e injustiçados. Tua história de vida e pastoral mostram de que lado sempre estiveste. Aliás, do lado em que Jesus de Nazaré sempre pregou e amou, sem enrolação.
Lembro quando toda a farça de tua expulsão foi montada pelos anti-povo de Pernambuco e da lamentável ditadura que assolou o Brasil com torturas, prisões, assassinatos e com a subserviência ao imperialismo. Mas foste firme como profeta autêntico, não traíste tua consciência nem a pastoral em defesa dos direitos humanos. Melhor, aproveitaste o episódio da expulsão para denunciares as condições de miséria vividas pelo povo empobrecido de Ribeirão – PE. Naquela oportunidade eu também era preso em Santa Maria-RS, exatamente porque defendia os pobres com quem estava no ato da prisão e enquadramento na malfadada lei de segurança nacional, que chamávamos de lei imperialista de insegurança nacional. Eu trabalhava numa vila chamada de Matadouro, marcada pela violência e pela miséria. Posteriormente mudou o nome para Vila São Miguel, por conselho de Dom Ivo, nosso amigo. Na oportunidade um editorial do Jornal do Brasil alardeava que a ditadura já não tinha mais somente problemas com a Igreja, mas com as igrejas, considerando minha atuação profética fora dos moldes da Igreja Romana. Enquanto te expulsavam do Brasil a ditadura me expulsava da liberdade, me julgando num tribunal militar espúrio e me condenando a dois anos e seis de meses de prisão.
Agora retornas, meu irmão e profeta. Encontrarás um Brasil totalmente diferente. Nunca mais seremos presos por defendermos o povo, pelo contrário. Mas te depararás com um paredão de falsos profetas. Estes compram TVs, rádios, jornais, internet etc . Vendem curas e milagrismos a granel em troca de muito dinheiro e poder. Tanto romanos como evangélicos têm como objetivo os dízimos do povo, sem se importar com o sacrifício e a miséria das multidões. Nos pleitos eleitorais defendem candidatos de direita, neoliberais, candidatam-se por partidos sujos e comprometidos com a “privataria”. Deparar-te-ás com uma mídia mentirosa e vendida aos grandes interesses imperialistas. Por outro lado, sentirás muitos brasileiros mais conscientes e lutadores do que os poucos daquele nosso tempo. Há governantes esforçados em buscar desenvolvimento com distribuição de renda e de riquezas.
Enfim, espero que retornes mais maduro, com a consciência mais aguda e forte para o testemunho evangélico libertador. Sabes que nossa teologia foi perseguida impiedosamente pelo imperialismo, pelo Vaticano e pelas “igrejas” mediáticas e conservadoras. Mas os profetas não deixam morrer seus sonhos e fé. Os profetas não se deitam em camas à espera de doenças burguesas e da morte, mas se entregam à luta a tempo e fora de tempo, mesmo que as cruzes lhes sejam ameaças. O seu lugar é o povo e não os privilégios e ritos consagrantes da traição, como a ditadura tentou te impor.
Mais uma vez bem-vindo, meu irmão e companheiro. Aqui é o teu lugar. Aqui é o lugar dos que amam o povo e não dos seus tosquiadores e privatistas.
Abraços. Logo que der vem aqui tomar chimarrão e beber um bom vinho da Serra Gaúcha.
Padre Vito Miracapillo volta a Pernambuco.
Pe. Vito Miracapillo, expulso pela ditadura, volta ao Brasil
O padre italiano Vito Miracapillo, que foi expulso do Brasil pela ditadura militar em setembro de 1980, voltou a Pernambuco ontem (3). Ele foi beneficiado por uma decisão inédita do Ministério da Justiça que lhe devolveu o visto de permanência (decisão publicada no Diário Oficial da União em 18 de novembro de 2011).
Ele era vigário na cidade de Ribeirão (Diocese de Palmares, PE) entre 1975 e 1980, e desenvolveu intensa atividade em defesa dos moradores, grande parte deles trabalhadores de cana-de-açúcar. Este foi o motivo de sua expulsão, em 1980, mesmo tendo havido forte campanha entre os setores democráticos e progressistas por sua permanência no Brasil.
O estopim para a expulsão foi sua recusa em celebrar duas missas em praça pública que a prefeitura local, com apoio dos militares e dos setores conservadores, queria impor ao sacerdote, uma delas pelo 7 de setembro, e outra pelo aniversário da emancipação do município de Ribeirão.
O padre justificou sua decisão dizendo, na época, que não celebraria aquelas missas “por vários motivos, entre os quais a não efetiva independência do povo, reduzido à condição de pedinte e desamparado em seus direitos”. Ele celebrou missas naqueles dias, mas fora da programação política que a prefeitura e a oligarquia local queriam lhe impor.
Foi apoiado pela CNBB nessa decisão mas, mesmo assim, foi denunciado ao ministro da Justiça Ibrahim Abi-Ackel pelo então prefeito, Salomão Correia Brasil (PDS, o partido da ditadura), acusado de afronta à pátria. A expulsão foi confirmada pelo STF (Superior Tribunal Federal) por 11 votos a zero.
A devolução de seu visto de permanência foi comemorada pela CNBB e restaura uma grave violação cometida pela ditadura militar contra um sacerdote que se destacou na luta pela democracia e pelos direitos do povo e dos trabalhadores.
Fonte: Com agências
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