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quinta-feira

Mafiosos e bandidos impunes


Querido amigo e aluno Celso Henrique Meira Lobo 

Sou muito feliz por conhecer-te, meu amigo e irmão Celso. Sabes, a sala de aula é uma mina de tesouros. Numa mina os garimpeiros são atentos e afinados para perceber a presença silenciosa dos tesouros, mesmo que eles se escondam sob camadas de terra e de pedras ou na aparência de sua originalidade natural, sem a necessária burilação. Melhor do que num terreno que cede espaço à picaretas, retro-escavadoras etc, a sala de aula é uma vitrine que, ao mesmo tempo, revela e esconde os tesouros humanos. 

Pois é, Celso, tu levaste pouco mais de um bimestre em minha disciplina de sociologia para te revelares. E te revelares como tesouro raro nessas minas de Goiás e do arraial evangélico. Numa aula em que tratávamos de cultura te percebi muito atento, apesar do cansaço que insistia te demolir, após longa jornada de trabalho. Para motivar nossa conversa e debate sobre problemas, choques e contradições que encharcam nossa cultura, exibi alguns slides e, entre eles, a figura que encima esse texto. Quando expliquei o significado que comunicava a figura retratando o grito dos agricultores, muitas vezes crucificados pelos grandes proprietários e latifundiários que infestam e infernizam nosso País, teus olhos brilharam mais do que o costumeiro, mesmo na luta contra o sono nascido de tuas madrugadas para trabalhar em teu açougue, mesmo ainda tão jovem. Ao final da aula me perguntaste o que eu achava dos trabalhadores sem terra, do MST. Cuidadoso, sem saber da intenção de tua pergunta te respondi que é necessário que compreendamos o que esse fenômeno social quer dizer e saí com tua pergunta martelando minha mente, até porque já me deparei com alunos mal informados e alienados, à luz dessa mídia preconceituosa, racista e a serviço da classe dominante, falar mal do movimento dos sem terra, sem conhecer o objeto de que falavam.  Na próxima aula te procurei à parte e perguntei-te, devolvendo a pergunta, o que achavas do MST. Com que alegria ouvi o que disseste. Contaste que agricultores do movimento se reúnem na casa de teus pais para discutir interesses da agenda do movimento em Goiás. A partir daí conversamos muitas vezes a respeito do movimento e dos problemas políticos. Nos bate-papos vibras ao falares do povo, dos trabalhadores e de suas lutas por mais desenvolvimento, por mais direitos, mais qualidade de vida, mais justiça social, mais distribuição de renda, mais democracia política, social e econômica. Até que ontem enquanto eu saboreava uma deliciosa pamonha nossa amizade evoluiu para um convite arrojado que te fiz para participarmos juntos da construção de uma instituição social.  Além disso, gosto disso, cada vez que me encontras cobras o registro de nossa organização política para nela atuares juntamente com teus pais e muitos integrantes do MST. Vibro com isso, meu amigo e irmão.

Outra coisa observo muito em ti é que és evangélico. Mas tua maneira de viver a fé é de modo engajado social e politicamente. Militas numa igreja evangélica nova, mas atuante na luta em favor da recuperação de pessoas atingidas pelos males diabólicos do capitalismo. Prometi que irei a um culto em tua igreja para conhecer sua liderança e seu trabalho. Cumprirei, Celso, podes crer, assim como irei à Igreja do meu querido colega Prof.  e pastor Thiago, que também faz um trabalho admirável aqui em Goiânia. Creio que temos uma caminhada profícua naquele projeto sobre o qual te falei e para o qual te convidei, juntamente com meu amigo e colega Prof. Márcio, outra pessoa admirável e sensível. Então, como gosta de dizer a querida Márcia Maranhão De Conti, num universo de cristãos alienados que valorizam muito o dinheiro, o luxo, a construção de templos nababescos e babilônicos, às custas do couro do povo e de seus polpudos dízimos, é maravilhoso conhecer em ti um cristão que luta e sonha com uma sociedade justa, onde aconteça “um novo céu e uma nova terra”. Prevejo maravilhosa caminhada de lutas e de crescimento humano e consciencial para ti e para nós, meu irmão. Parabéns.

Outrossim, compartilho contigo minha revolta, raiva e desejo de justiça contra os crimes dos bandidos latifundiários e “matafundiários” do Pará, dos estados da Amazônia e de outros recantos do Brasil. Os assassinos, vendilhões de nossas matas amazônicas,  grandes proprietários de terras e invasores da Amazônia,  amancomunados com banqueiros, com o tráfego internacional, com a elite dominante do Brasil e com o imperialismo matam impunemente a olhos vistos sob os braços cruzados do Governo Federal, do Judiciário, dos legislativos federais, estaduais e municipais de lá, que nada fazem pela defesa de nossos lutadores e defensores da Amazônica, que lutam heroicamente contra o desmatamento e roubos descarados de nosso patrimônio florestal nacional. Apesar das constantes denúncias de ameaças de morte reiteradamente recebidas, as autoridades nada envidaram para proteger nossos irmãos assassinados, engrossando a alarmante lista de crimes praticados por matadores “profissionais” a mando dos grandes proprietários. A CPT menciona que “...de 2000 a 2010, 1.855 pessoas em todo o país foram ameaçadas pelo menos uma vez. Desse total, 207 pessoas foram ameaçadas mais de uma vez, sendo que 42 acabaram sendo assassinadas e 30 chegaram a sofrer tentativa de assassinato. De 2000 a 2010, foram assassinadas 401 pessoas em todo o país”, sob a complacência vergonhosa de nossas autoridades e instituições,  que deveriam defender os que lutam por dignidade humana e ecológica de nosso País, contra o atraso perverso e daninho dos grandes e traidores proprietários. A culminância dos crimes impunes e safados se deu agora com os assassinatos do casal de ambientalistas José Cláudio-Maria do Espírito Santo e do militante ambientalista e classista trabalhador, militante do PCdoB e da direção estadual da CTB em Rondônia, Adelino Ramos, o Dinho. 

Quer dizer, além da luta nossa de cada dia pelas transformações sociais, Celso, devemos protestar contra os crimes dos piores marginais e bandidos, que são os poderosos que assaltam nossos bens públicos e nacionais, como as matas e sua biodiversidade. Penso que essa luta não deve ser reduzida regionalmente na Amazônia. Deve  estender-se nacional e internacionalmente. Afinal, a luta deles e nossa é pelas terras e matas que pertencem a todos nós no Brasil e não a uma minoria predatória, criminosa, safada e pirata.

Enfim, querido Celso, a luta continua. Hoje à noite proporei aí nos corredores de nossa Faculdade Delta e o farei na outra semana no prédio novo também um ato de solidariedade aos familiares de nossos heróis que tombaram na luta. A educação que se preza não deve se excluir da realidade, exigente de mudanças profundas assinadas com o sangue de nossos lutadores. Proponho que todos os leitores de meu blog promovam atos de conscientização em todos os locais do País onde pessoas se reúnem e se educam. 

Deus te abençoe sempre, grande jóia jovem,  querido amigo e aluno Celso. A luta continua com muita esperança. Abraços e até sempre.

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