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terça-feira

OTAN 60 anos: a inimiga dos povos




Na semana passada realizou-se a Conferência Internacional "Objetivos e consequências da agressão da Otan à Sérvia - 10 anos depois" organizada pelo Fórum de Belgrado e pelo Conselho Mundial da Paz (CMP), do qual o CPPC faz parte integrando o seu Secretariado.
Qual foi o objetivo desta iniciativa?
Rui Namorado Rosa: Esta iniciativa, para a qual foram convidadas a generalidade das organizações europeias do CMP, entre elas o CPPC, foi uma oportunidade para manifestarmos a nossa solidariedade e vincarmos a nossa posição face ao desmembramento da Iugoslávia.O que esteve em curso na década de 90 foi a implementação e concretização do novo conceito estratégico da Otan, a ocupação de novos territórios e a subjugação de novos estados aos desígnios do imperialismo. Foi sobre estas questões e aquele período em particular que se focaram dezenas de intervenções feitas por personalidades e delegações.É urgente entender e denunciar o significado da Otan depois da Guerra Fria. É preciso compreender que os povos dos Balcãs foram as suas primeiras vítimas.
E que conclusões se podem tirar em relação ao desmembramento da Iugoslávia no contexto do tal novo conceito estratégico da Otan?
RNM: Fazendo uma apreciação do conjunto das intervenções feitas, posso dizer que estas apontam no sentido de que a Otan é uma aliança imperialista, que tem o seu núcleo duro repartido entre os EUA e o núcleo duro da UE, que reafirma a sua natureza ofensiva a que diversos países são forçados a aderir, e cujos objetivos militares visam o apoio à expansão e domínio político-económico do mundo por parte das grandes potências. Isto é claro e muitas intervenções foram relacionadas com acontecimentos ocorridos nos Balcãs na década de 90.Outras abordaram os desenvolvimentos posteriores que, pela mão da UE e sob liderança dos EUA, abriram caminho ao avanço da Otan para o Leste da Europa e em direção ao Sul da Ásia, mas também ao alinhamento estratégico de países do Oriente Médio. É portanto uma movimento ofensivo de alargamento da área de influência, de estabelecimento de numerosas bases militares, de adesão formal ou abertura de processo de adesão a novos países cujo sentido geral é o de servir as grandes potências ocidentais.
Referias as adesões recentes à Otan, casos da Romênia e da Bulgária. Outros países têm um estatuto que, não sendo de membro efetivo, os coloca alinhados com aquele bloco político-militar, casos da Ucrânia e da Geórgia. Dez anos depois, achas que este avanço da Otan para Leste até às ex-repúblicas soviéticas não poderia ter sido alcançado sem o desmembramento da Iugoslávia?
RNM: O fato é que não obstante a desintegração da União Soviética e a sucessiva submissão das repúblicas do Leste da Europa ao regime capitalista, a República Federal da Iugoslávia manteve uma certa autonomia relativamente a essa tendência de subjugação total. Essa vontade própria, essa afirmação de soberania nacional contrariava objetivos geo-estratégicos imperialistas de encaminhamento de oleodutos e gasodutos, de estabelecimento de bases militares de apoio ao domínio do Oriente Próximo e Médio, de controle dos recursos naturais da própria federação iugoslava. Haviam, portanto, várias motivações para que essa soberania não fosse tolerada e que determinaram a fúria do ataque da Otan.Por outro lado, um outro aspecto que continua na ordem do dia em relação a vários países e povos é o exemplo que tal posição constituía, e nós sabemos que o imperialismo não permite excepções que defendam a sua soberania e integridade territorial, como era o caso.O Fórum de Belgrado, no quadro duma Sérvia cujo governo manifesta o desejo de integrar a UE, é uma voz que continua a afirmar a soberania e integridade nacional, agora posta em causa com a afirmação unilateral de independência do Kosovo.
Fabricando um inimigo.
Falaste do Kosovo, a respeito do qual surgiram acusações à Sérvia de promover uma limpeza étnica, mas antes o argumento já havia sido usado em relação à ação da Iugoslávia na Bósnia ou na Croácia. As manobras de propaganda do imperialismo e a questão da convivência das várias comunidades foram abordadas?
RNM: A República Iugoslava emerge em resultado da resistência do povo daquela região durante a 2ª Guerra Mundial, contributo que foi sublinhado na Conferência como determinante para a derrota do nazi-fascismo, na medida em que, para manter ocupados os Balcãs, a Alemanha foi obrigada a uma permanência militar de vulto, desgastando as suas forças.A unidade territorial e política dos Balcãs consolidou-se depois da 2ª Grande Guerra, contribuindo para que as diversas nacionalidades se movimentassem e estabelecessem laços livremente. Ora o fator de diferenciação entre as diversas nacionalidades, mais frequentemente chamadas de etnias, veio a ser explorado para a criação de conflitos e a fabricação de inimigos.
Podem dar-nos alguns exemplos?
Sandra Benfica: Está hoje provado que o célebre massacre de Srbrenica não ocorreu. Aliás, uma americana que participou na Conferência relatou a sua experiência durante o período dos bombardeios dando nota, por exemplo, da prisão de três muçulmanos que já estavam nas listas das vítimas.O fabrico de uma ideia de limpeza étnica levada a cabo pelos sérvios é do mesmo teor da existência de armas de destruição maciça no Iraque, justificação que serviu para invadir e ocupar aquele país. A suposta "limpeza étnica" foi o motivo invocado pela Otan para intervir. Hoje é claro que em 1999 e no período que antecedeu os bombardeios assistimos à fabricação de um inimigo e de um pretexto.A morte de Milosevic nos calabouços do Tribunal Penal Internacional, em Haia, em condições ainda por esclarecer cabalmente, nunca permitirá o apuramento de uma parte substancial dos fatos.É preciso, também, não esquecer que continuam as sessões nesse tribunal. Na Conferência, por exemplo, falou a esposa do ex-diretor da estação de televisão iugoslava, que atualmente está a ser julgado em Haia acusado de não ter alertado os jornalistas, técnicos e demais funcionários que ali trabalhavam para o bombardeamento que a Otan efetuou contra o edifício.Também é verdade que hoje pouco ou nada sabemos sobre o que se passa no Kosovo, e existem testemunhos, particularmente de organizações que trabalham no terreno, que relataram o que é ser sérvio e viver no Kosovo. Fazem-nos pensar se, aqui sim, não está a ocorrer uma limpeza étnica.
O que é que é ser sérvio no Kosovo?
SB: É ser um proscrito num território governado pelo UÇK.
Consequências trágicas. O Kosovo abriga uma das maiores bases militares americanas, o que reforça a sua importância geo-estratégica. Paradoxalmente ou não, é apontado como uma plataforma giratória para o contrabando e o tráfico de droga. Estas questões foram referidas nas intervenções?
RNM: Foi referido que algumas daquelas novas repúblicas são base para o crime organizado de vária natureza, particularmente tráfico de droga, sendo que uma parte considerável do ópio produzido no Afeganistão transita para a Europa através do Kosovo.Quanto à componente geo-estratégica, não tenho dados concretos que me permitam dizer que a base militar de Bondsteel está a ser usada para apoiar as guerras no Oriente Médio. O que posso adiantar é que, olhando para o mapa, é evidente uma linha de bases militares que vai do Mar Adriático, passa dos Balcãs para o Mar Negro, e depois peloCáucaso até ao Mar Cáspio, e daí até ao Himalaias. Há também uma contiguidade de conflitos com a intervenção direta ou indireta dos EUA.Uma das questões que se colocam destes 78 dias de bombardeios é a os alvos da Otan. É visível a destruição?
RNM: Só estivemos em Belgrado, mas o que nos foi dito é que os alvos da Otan foram infraestruturas de uso civil (hospitais, vias de comunicação, etc.) e unidades produtivas públicas ou de propriedade social, que na Iugoslávia eram ainda significativas. Nenhuma empresa privada foi atingida. Os alvos militares foram mínimos quando comparados com os civis, com os que tinham importância para a qualidade de vida da população e a economia do país.
E as vítimas civis?
SB: Na altura falava-se em três mil mortos. Uma das coisas que verificámos foi que a utilização de urânio empobrecido teve as consequências esperadas, sendo que só existem dados até 2004. Algumas patologias como o câncer levam algum tempo a revelar-se, mas os dados disponíveis apontavam para um crescimento muito significativo de doenças oncológicas, para o aumento das imunodeficiências e para o nascimento de crianças com mal-formações. São crimes que ficam impunes.
E do ponto de vista da contaminação dos solos e do meio ambiente?
RNM: Estas duas questões estão interligadas. As armas de urânio empobrecido não têm vantagem do ponto de vista da sua capacidade explosiva, mas sobretudo pela sua velocidade e capacidade de perfuração. Ora o lançamento indiscriminado deste tipo de munições durante os bombardeios contra a Iugoslávia levou a que inúmeros projéteis se mantenham no terreno imperceptíveis. Com o tempo vão-se deteriorando e atingem o ser humano e os animais através da contaminação da cadeia alimentar e da água. Só se as munições tivessem sido localizadas e removidas logo após a guerra era possível minimizar os riscos e as consequências sobre a população e a saúde pública.Tem havido alguma pressão para a proibição do uso de armas de urânio empobrecido, mas se tal vier a concretizar-se os povos do Iraque e da Iugoslávia já não vão beneficiar da decisão.
Há que acrescentar igualmente neste âmbito as bombas de fragmentação. A localização de cada uma das pequenas granadas contidas nessas bombas espoletadas a 500 metros de altitude é praticamente impossível. Muitas estão ainda por explodir.
SB: Tivemos oportunidade de ver uma exposição sobre o assunto onde se mostrava os processos de remoção. Estes não só são muito difíceis, como as fotografias mostram a radioactividade que libertam, ou seja, quando não são removidas não é difícil imaginar os efeitos que provocam.
Uma das questões que se coloca em todo o processo de desmantelamento e agressão à ex-Iugoslávia é a destruição do edifício do Direito Internacional...
SB: Quando estamos numa conferência que assinala os dez anos duma guerra como a que foi movida pela Otan contra a Iugoslávia, não pensemos que estamos a recordar um episódio cujos objetivos e consequências são limitados. Pelo contrário, estamos a falar dum acontecimento que inaugurou na prática o novo conceito estratégico da Otan, uma ainda mais agressiva abordagem de domínio mundial por parte das potências imperialistas e o espezinhamento do Direito Internacional e das Nações Unidas, contra a maioria da humanidade e com consequências importantíssimas no presente e no futuro dos povos.
60 anos de crimes contra a humanidade.
Antes da Conferência reuniram as organizações europeias do Conselho Mundial da Paz. Podes adiantar do que é que trataram?
SB:
Este ano em que a Otan comemora os seus 60 anos, estas seis décadas de crimes contra a humanidade, o Conselho Mundial da Paz (CMP) assume como prioridade a exigência do desmantelamento daquele bloco político-militar, não só na Europa mas em todo o mundo. Sob o lema "Otan - inimiga dos povos e da paz", promover-se-ão conferências, seminários e ações de protesto.Na reunião preparamos igualmente a participação do CMP na conferência que ocorrerá a partir de amanhã, em Estrasburgo, paralelamente à Cúpula da Otan que se realiza na mesma cidade.Abordamos ainda um outro aspecto de coordenação do nosso trabalho que tem a ver com a realização de eleições para o Parlamento Europeu. Ora, a militarização da Europa está intimamente ligada à Otan, por isso, da parte das organizações europeias da paz e no aspecto específico que lhes compete, acresce a responsabilidade de alertar para o enquadramento da luta contra a Otan no combate à militarização da Europa.




FONTE: Jornal Avante! (Reproduzida pelo site http://www.cebrapaz.org.br/ )

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