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sexta-feira

UMA MULHER E OS GRANDES PACOTES


Estava numa parada de ônibus aqui num bairro de Campo Grande. Meus olhos se fixaram num homem que pedalava uma bicicleta de transportar carga. Em dado momento ele parou à beira da calçada e delicadamente ofereceu carona para sua companheira que o seguia a pé pela calçada. Ela sentou no porta cargas. Ele, como que orgulhosamente, reforçou a energia das pernas, pés e músculos de todo o corpo como se fosse um motor potente a mobilizar seu veículo de transporte. E se foram por entre automóveis, ônibus, caminhões, tratores, carroças etc. Ele sempre pedalando e ela a olhar o trânsito. Ele, um trabalhador e ela, uma trabalhadora. Ambos produtores de riquezas, mas andando com tanto esforço e desgaste numa bicicleta, buscando espaço entre os que podem pilotar veículos mais confortáveis e velozes. Os dois lutadores no ganho da vida, de bicicleta entre patrões e bem confortáveis meios de transporte. Andar nas ruas é arriscado, mas andar de bicicleta pedalada por um aguerrido trabalhador que transporta sua guerreira esposa é algo semelhante a correr entre balas cruzadas numa guerra. E lá sumiram dos meus olhos um homem e uma mulher, meus irmãos brasileiros, sofridos pela injustiça social escancarada ali aos meus olhos, gritante de tantos desequilíbrios econômicos.

Subi no ônibus com essa imagem. Sentei-me. Subiu uma mulher carregada de enormes pacotes. Teve dificuldade de subir e de passar a roleta. Ajudei-a. Sem dinheiro para comprar um carro ou para andar de táxi precisou se sacrificar para levar tudo no ônibus. Depois teve dificuldades para manter os grandes pacotes entre os bancos. Detive-me a analisar as duas situações marcadas por sacrifício e por injustiça.

Os três personagens demonstram a desigualdade social que vivemos. São trabalhadores que produzem riquezas mas que delas não se beneficiam, que trabalham mas não podem desfrutar dos resultados do que produzem. Sofrem por não terem direito de ir e vir em condições minimamente dignas. O transporte digno é privilégio de poucos. Aliás, os ônibus em Campo Grande são caros, demorados e desconfortáveis. O povo é maltratado e desrespeitado.

Os três personagens de minha observação representam milhões de brasileir@s que sofrem com a baixa distribuição de renda. Já houve muito desenvolvimento econômico no Brasil, mas com pouca distribuição de renda. Um mínimo de justiça econômica redundaria em mais justiça social. Mais riquezas distribuídas significaria melhor qualidade de vida nos transportes coletivos, no atendimento à saúde, à segurança, em habitação popular digna, em escolas com mais qualidade no ensino e remuneração eqüitativa para @s trabalhadores/as em educação, em arruamentos mais qualificados etc.

Por tudo isso há que se acentuar a luta por mudanças. O povo se articula cada vez mais nos movimentos sociais para pressionar os governantes a dar respostas às suas demandas. A campanha eleitoral municipal é excelente espaço para o debate em favor das mudanças. Apregoamos que há necessidade de cidades mais humanas. Há verdadeiros aparthaides sociais que precisam mudar a paisagem de nossas cidades: os ricos moram cada vez mais distantes do centro em mansões muradas, com cercas eletrificadas, com cães adestrados, guardas enquanto o povo vive exposto a todos os riscos, violências e carências. Grande contradição, os/as trabalhadores/as, os/as que produzem as riquezas são jogados na miséria e na pobreza e de outro lado os/as que não trabalham usufruem do bom e do melhor.

Aqui em Campo Grande as ruas largas, os asfaltos e benefícios do PAC ficam no centro para os burgueses enquanto para o povo sobram ruas esburacadas, favelas, miséria, violência etc.

Precisamos politizar as eleições e pô-las a serviço da maioria e retirá-las das mãos dos endinheirados e burgueses que querem espaço na câmara de vereadores e no executivo para expandir ainda mais o seu egoísmo e dominação. É escandaloso ver tanto luxo em certas campanhas para levar à câmara de vereadores os que não têm nenhum compromisso com o bem coletivo. Conversei com um candidato a vereador, proprietário de um grupo universitário e percebi a alienação e trejeito mentiroso e demagógico com marcas de tranbiqueiro do aspirante a parlamentar municipal. Suas palavras são vazias, sua equipe de campanha é constituída de puxa-sacos e miseráveis de projetos. E assim vai: se perguntarmos para a maioria dos/as candidatos que aí está por seus projetos de interesse popular não encontraremos nada mais do que demagogia, cinismo e hipocrisia. Esses dão a impressão de que política é isso.

Por outro lado, vemos candidat@s séri@s que têm tudo a ver com meus personagens da bicicleta e do ônibus. São pessoas sérias e comprometidas com as transformações que humanizam a cidade, que lutam para derrubar os muros de separação, buscando justiça para a maioria. Esses levantam a bandeira da participação e da democracia.

Precisamos entrar no debate e buscar mudanças. Não temos que arrancar a bicicleta das ruas nem evitar que a mulher carregue pacotes, mas devemos lutar para impedir essa injustiça gritante que empobrece a maioria e favorece o enriquecimento de um uma minoria.

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