Querida amiga Professora
Sandra Chaves
Compartilho aqui nesta “+Carta...”
minha criativa experiência de viajar contigo ontem à linda cidade de Caldas
Novas, aqui de Goiás.
Viajamos a trabalho. Tu na
condição de diretora do Instituto ConsciênciaGo e eu na de professor e
palestrante para falar sobre ética a trabalhadores e profissionais.
A experiência de falar num
salão auditório a um grupo sedento de conhecimento, inclusive sobre a
conjuntura aí posta nestas eleições, sempre é muito boa e revigorante. As pessoas procuram conhecer os programas dos
candidatos, principalmente os das candidatas Dilma e Marina. No intervalo, no espaço onde quase perdi o
café, fui cercado por enorme número de jovens interessados em debater
serenamente as propostas de uma e de outra. Que ótima essa motivação de um
público ausente dos partidos, mas interessado nos destinos do Brasil!
Nosso diálogo numa viagem
que começou às 5h e 30m foi de riqueza imensurável, também, minha amiga.
Conversamos sobre as preocupações nacionais mais amplas e profundas, sobre
educação, fundamentalismo, religião, ecumenismo e política. Nossa viagem aprofundou
minha admiração e fraternidade contigo, sempre de modo parceiro e crítico, sem
bajulação degradante, mas de relacionamento respeitoso e contribuitivo de um
para com o outro.
Pois bem, vivemos momento
crítico no Brasil – sob-risco de avançarmos ou de cairmos num tenebroso abismo –
prenhe de possibilidades de construção da consciência cidadã e responsável.
A riqueza de uma conjuntura
como a que vivemos nesta campanha eleitoral, de profundo acirramento e
confronto de projetos, é do debate que ilumina a consciência que devemos
construir com justiça sobre nossa realidade. Claro, há confusão entre os
conceitos de debater com paixão e o de ofender raivosamente os que pensam
diferentemente, usando apelidos depreciativos que ofendem os que discordam de
nossas suposições. Penso que desta postura devemos nos afastar. Elas não ajudam
em nada. São fratricidas.
No campo do debate saudável,
embora apaixonado, encontramos com pessoas extremamente sérias e comprometidas
com o Brasil e com a luta por justiça social. Uma destas é o ilibado
intelectual brasileiro, o teólogo, filósofo, professor universitário, escritor
e líder formador de lideranças sociais, o conhecido Leonardo Boff.
Deparei-me nesta manhã com
uma linda entrevista que Boff deu ao blog Viomundo, que realmente vale a pena
conferir e tomar como preciosa ferramenta teórica e prática de interpretação de
nossa realidade.
Leonardo Boff conhece a
pastora pentecostal Marina Silva, desde a juventude dela. Foi seu professor de
teologia no Acre. Em 2010 chegou a cometer o pecado de apoiá-la como candidata
a presidenta, do qual se arrepende amargamente – ele o confessa na entrevista.
Gosto de Leonardo Boff e
estudo seus livros. Já conversei com ele via telefone quando ambos éramos
jovens. Elaborei trabalhos acadêmicos a partir de seus estudos e o cito
seguidamente. Trata-se um intelectual profundo, mas com o dom de ser humilde na
aprendizagem com o povo e com a realidade, que considera superiores a ele, como
convém a pessoas intelectualmente honradas.
As opções éticas, teóricas e
ideológicas falam muito de quem são as pessoas. Boff foi violentamente
perseguido pelos papas João Paulo II e Bento XVI porque sua opção sempre foi
pelos pobres, contra a pobreza e as injustiças. Enquanto optou pelo povo
aqueles papas se rebaixavam ao capitalismo internacional e à sua doutrina
neoliberal. Quando o cardeal Eugênio
Salles, preposto do Vaticano de direita no Rio de Janeiro, apoiador da ditadura
assassina, implantou uma comissão inquisitorial para “investigar” nosso
teólogo, no dia agendado Boff tinha uma palestra marcada a prostitutas em Belo
Horizonte. Sem dúvidas, o aliado dos injustiçados preferiu viajar e palestrar a
pessoas que buscavam alternativas e sabedoria para se libertar da exploração do
se submeter a perguntas inquisitoriais modelo William Bonner e Patrícia Poeta.
Quando barbaramente pressionado pelo Vaticano para abandonar a teologia dos
pobres e injustiçados, sob pena de ser expulso do sacerdócio, não titubeou em,
segundo ele, evoluir para o estado laico, como mesmo gosta de dizer, mas
continuar a luta pela justiça na defesa da cidadania dos povos ameaçados pelo
capitalismo e pelo neoliberalismo predatório da humanidade e do ambiente
planetário. De certa forma, sua escolha
se parece com a que fez o padre colombiano Camilo de Oliveira Torres quando
saiu do sacerdócio para lutar por nova sociedade na Colômbia e na América
Latina. Este pelo caminho da guerrilha aquele pelos meios pacíficos.
Leonardo Boff tem
competência teórica, ética, política e histórica para analisar nosso dilema
atual, acalorado com os projetos encarnados pela Presidenta Dilma e a pastora fundamentalista
Marina Silva.
Nosso teólogo não vacila ao
afirmar que a pastora Marina é fundamentalista, neoliberal, antiecologista e
adepta dos opulentos, negando todos os valores da juventude que a projetaram
para ser uma esperança para o Brasil e para o mundo. Para ele, Marina comete
grave erro – eu diria crime – ao defender a independência do Banco Central.
Essa tese joga no coloco do nefasto sistema financeiro o poder de determinar a
política econômica de privilégios dos poderosos bancos nacionais e, sobretudo,
multinacionais.
Enfim, a entrevista é instigante
para os que amam o Brasil e nos faz sentir que estas eleições nos posicionam em
face dos seguintes riscos na eleição da pastora fundamentalista Marina Silva: 1.
De que sua eleição se dê com a gigantesca manipulação da direita neoliberal,
antinacional, opulenta, subserviente dos Estados Unidos, geradora de
desemprego, de miséria e de exclusão social. A pastora, portanto, com seu rosto
de santa e de quem vive em permanente estado de flutuação espiritual à espera
do paraíso sem história, é risco para o Brasil e para toda a América Latina.
Enquanto ela lê equivocadamente a Bíblia até para escolher sua equipe de
direita o Brasil corre o risco de ser jogado no inferno. Enquanto Silas
Malafaia é o seu anjo programa de governo da autoclassificada santa candidata é
o diabo para o povo brasileiro. 2. De que a sua eleição ser movimento cego e
emotivo às urnas, engrossado por uma massa manipulada, analfabeta política,
arrogante e confusa ao pensar que mudança é a mesma coisa que a troca de uma
presidenta por outra, sem perceber as armadilhas jogadas nesse escuro processo.
E são muitas. Essa massa, muita parecida com a que escolheu Barrabás para a liberdade
e Jesus para ser crucificado, aliena-se pela opressão agressiva promovida pela classe
dominante, aquela dos 1% dos mais ricos, ausenta-se da sabedoria e da
consciência política. Essa massa manobrável e manada é usada como ferramenta de
apertar os botões das urnas e consagrar o suicídio do Brasil.
Simples conversas e
reflexões mais instrumentadas ajudariam a entender essa circunstância para
ajudar na escolha justa, como a que tive no intervalo do lanche ontem Caldas
Novas. A leitura honesta e rica como a desta entrevista de Boff assessora
fantasticamente nossa mente.
Sugiro que acesses o blog Viomundo (clica aqui) para ler a entrevista inteira de Leonardo Boff. O momento é crucial.
Abraços críticos e fraternos
na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo, cabo,
farrapo e republicano, fiel ao Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seus comentários serão publicados. Eles contribuem com o debate e ajudam a crescer. Evitaremos apenas ofensas à honra e o desrespeito.