Prezada amiga Betinha Brito
Sua presença na minha privilegiada lista de amig@s me mostra
a garra, a inteligência, a beleza, a sensualidade e a profunda consciência
cidadã das mulheres brasileiras.
O perfil da amiga aponta não somente para uma produtora de
artistas e atores/as brasileir@s, mas para uma pessoa protagonista dos direitos
humanos, entre eles o mais nobre, a militância na construção irresistível por
uma sociedade mais justa e apaixonada, como são os indicativos de nossa
antropologia e história nacionais. Parabeniza-a por tão rico currículo de amor
ao povo e ao Brasil e ou a mim por ser premiado por sua amizade e por seu
exemplo?
Deixei passar alguns dias de nossa derrocada futebolística para
elaborar minha modesta reflexão sobre o que move nossa Seleção, nosso elenco
dirigente da CBF e o atual cenário nacional brasileiro. Li muitos artigos e
análises para me orientar nesse debate necessário, pois o Brasil é Pátria, é
País, é Nação e é nosso Povo, tudo muito mais do que a Seleção Canarinha. Mas
esta deve nos refletir, o que não aconteceu em nenhum de seus jogos nessa nossa
maravilhosa Copa.
Primeiro, contexto a linguagem emotiva e “borrasquenta” usada
contra os jogadores, contra Felipão e
contra a nossa Seleção. Penso que não cabe na mente e na boca de pessoas do
povo e lideres militantes termos como velho, no pior sentido possível do
direito à velhice, quando sugerindo pejorativamente que ele errou em virtude da
idade. Ora, isso é preconceito contra todos os nossos cidadãos brasileiros que
envelhecem. Filipão não errou por ser idoso, com mais de 60 anos. Também pega
mal para nossa gente chamá-lo de burro, idiota, imbecil etc. Não é aceitável
grosseria por parte de nossos melhores quadros sociais, intelectuais orgânicos
na definição de Antonio Gramsci. O respeito, a inteligência e a razão são
nossos principais dons, mesmo que nossos corações sangrem e sejam subjacentes
de nossos pensamentos e análises.
Tais ofensas, desgraçadamente, é trato dado pela direita, que
a ninguém respeita, cujo setor é composto dos que se acham donos da verdade, de
autoritários, de exploradores que gritam e ofendem quem trabalha para eles,
muitas vezes aviltados em seus direitos mínimos, principalmente o da
consciência de cidadania. A eles, os direitistas, cabe esse papel, até porque
desprezam os estudos, a cultura e os textos.
Segundo, penso que a derrota da Seleção Brasileira, de forma
extremamente clara, não seu deu no campo do nosso maravilhoso Mineirão.
O que aconteceu na terça-feira, no inesquecível dia 08 de
julho de 2014, é causa de forças até agora ocultas, mas que são resultantes
diabólicos de projetos de anos passados.
A causa de nossas lágrimas e dor nacionais com a derrota de
nossa Seleção chama-se neoliberalismo, ainda forte em todos os setores de nosso
País. É o que essa corrente política, ideológica, econômica e cultural mais
sabe causar: dor, derrota, lágrimas e luto.
O neoliberalismo foi desencadeado no mundo pelos fatídicos
monstros Ronald Reagam, bandido que presidiu os Estados Unidos, e sua consorcia
capacho Margaret Thatcher, primeira ministra da Inglaterra. Ambos promoveram
desmontes das soberanias nacionais pelo mundo afora, desalojando o povo e a
classe trabalhadora dos países periféricos dos seus direitos sociais,
marginalizando milhões no desemprego, na pobreza e na miséria. Aqui no Brasil
quem mais aplicou o receituário da tragédia foi Fernando Henrique Cardoso
quando, embolado no mais alto clima de corrupção do País, jogou-nos todos sob a
tutela infernal do mercado desumano e adorador do deus lucro.
O neoliberalismo faz negócios de todos os bens da vida,
notadamente com interesse nos lucros de uma minoria dominante e manipuladora,
de extrema perversidade para com a existência humana e o ambiente ecológico.
Aqui transformou igrejas em balcões de negócios ao vender orações e curas, que
o digam os balconistas Edir Macedo, Silas Malafaia, RR Soares, Valdomiro Santiago,
a renovação carismática romana, as igrejas mediáticas e outros de menor
expressão. Seus cultos e missas são mercados de venda de tudo. Graças a isso os
donos de suas superestruturas são verdadeiros mercenários da fé, de vida fácil
e luxuosa. A desgraça que causam redunda na prostituição do maior bem do
cristianismo, a profunda solidariedade comunitária, que impressionou Tertuliano
e muitos historiadores e teólogos que estudaram a comovente experiência do
cristianismo primitivo que, ao enfrentar as perseguições impostas pelo poderoso
e violento império romano, ensinou a partilhar o pão e o vinho como realização
prática do amor de Deus ao próximo, sem que ninguém restasse com necessidades.
No campo econômico o neoliberalismo impõe o modelo do lucro
poderoso, privilegiando os ricos, gerando o empobrecimento dos lucros sociais e
coletivos da maioria produtiva do povo. Assim como nas igrejas quem manda no
Banco Central, que deveria alinhar a política econômica nacional, são os bancos, os senhores que manipulam os
interesses estatais da economia. De posse do poder econômico gestam a política
dos lucros das grandes empresas nacionais e internacionais em desprestígio das
necessidades e direitos da maioria de nosso povo. A quantidade de dinheiro
concentrada em poucas mãos, graças ao suborno da riqueza nacional empreendida
pelo neoliberalismo, é coisa escandalosa. Os bancos são as maiores provas dessa
devassidão.
E assim é com todas as coisas. A tudo o neoliberalismo faz
mercadoria como fonte de lucro de poucos. Por isso a privatização da educação,
da saúde, da habitação, da segurança, dos transportes, tudo vira mercado comandado
por poderosas máfias, que substituem o povo nas pressões que fazem sobre o
Estado, sempre levando vantagens. O
povo? Ora o povo, esse não interessa, a menos que sirva como mercadoria.
É isso que acontece no futebol. Somente uma grande tragédia
possibilitará a análise crítica honesta e racional. De tragédia o
neoliberalismo entende, pois é somente isso que ele significa para a sociedade.
A ele não emocionam as lágrimas de milhões de crianças, de pais, de mães e da
torcida ao se derreter de dor no Mineirão e pelo Brasil adentro. A menos que
essas lágrimas de derrota dessem lucro para poucos perversos.
A situação dos clubes de futebol sob a égide do mercado se
agravou a partir de Fernando Henrique Cardoso e seu ministro dos esportes, o anti
povo Edson Arantes do Nascimento, o bajulador dos poderosos, ao estilo de
Joaquim Barbosa, o “rei” Pelé. A partir do massacre promovido por FHC os clubes
de futebol perderam as características populares e culturais da grande diversão
do povo, para, dominado por cartolas mafiosos, ser fonte de negócios e
enriquecimento de alguns, que passaram a mandar neste esporte em todo o País. Como
sói acontecer sob o neoliberalismo os jogadores, principalmente os melhores, todos
provindos dentre os pobres, das vilas e favelas, se tornaram mercadoria de
vendas e compras por vultosas transações espúrias e nada transparentes. Os
próprios familiares desses jogadores viraram empresários desavergonhados e
participantes de negócios tipicamente escravos, vendendo seus filhos e parentes
para empresas europeias.
É nesse contexto que se situa a malfada CBF. Ela é uma
empresa privada que gestiona o esporte nacional, a Seleção Brasileira, fazendo
de seus jogadores e equipe de treinadores atores despreparados e garotos de
propagandas de grandes empresas multinacionais e monopólios bancários, de bebidas
e de automóveis.
Aí reside o problema. Tudo o que mercado administra e faz
mercadoria assassina ou, no mínimo, fere pondo a vida na UTI. Desde há tempos
os clubes de futebol deixaram de ser clubes populares para virarem personalidade
jurídicas de empresas privadas, por tanto, mercado. Graças a isso os jogadores são
objetos de compra e venda com amparo “legal” das leis feitas pelo mercado. As
violências nos estádios são produto do futebol feito mercadoria, onde o povo
reduzido a categoria excluída de torcedores
não tem participação. Os valores dos ingressos são taxados a altos
custos para sustentar os cartolas e a mídia dominante e ditadora de quem
transmite os jogos e excluidora de quem ela acha que não cumpre com os
requisitos do mercado perverso.
Já fui torcedor fanático. Mas deixei de sê-lo quando me dei conta
de que não existem mais times nem clubes de futebol, mas empresas comandadas
por mafiosos, filhos do neoliberalismo e do Pelé.
A derrota da Seleção da CBF gerará o renascimento da Seleção
Brasileira. Esta precisa ser estatal, administrada pelo governo federal, sem
interferência do apodrecido e apodrecedor mercado. A Seleção Nacional
Brasileira deverá se encarregar de ser grande universidade de jogadores e de
jogadoras cidad@s patriotas, que ao treinarem e ao jogarem o farão para
defender nossa Pátria e não os negócios empresariais nem os bancos nem
revendedoras de automóveis, de bebidas e de telefones, rebaixando jogadores a
papeis que não são os seus, de atores de quinta e propagandistas do mercado que
a todos nos desgraça.
Não basta fazer nossos jogadores, pessoas que nascem do povo,
em tietes para shows por onde passam, treinados para fornecer autógrafos artísticos.
O que se espera deles é que sejam competentes em campo e exemplos da cidadania.
Evidentemente que o mercado não tem como fazer isso.
A Seleção Brasileira deve ser órgão de Estado. Deve ser
orientada por políticas públicas e sua prática deve ser política em favor do
povo e da Nação. Basta de cartolas e mercenários do mercado.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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