Querido Jairo
Parabéns por tua imensa solidariedade, capaz de te levar a
gritar por socorro para teu filho doente. Tua capacidade de misericórdia é tão
grande que te levou a romper protocolos e fórmulas ritualísticas para chegar
onde era preciso para encontrar a solução para o problema de teu filho ardendo
em febre.
Pois, meu caro comandante, aqui no Brasil vivemos intensas
mobilizações populares. Como fortes correntezas que se desprendem de falsas
barragens o povo, entre confuso e buscando soluções para problemas seculares,
avança em todas as direções. Nesses avanços chegou ao coração do poder.
A Presidenta Dilma se reúne com todos os poderes da
república. Empreende diálogo e propõe pacto político em torno de plebiscito
para mudar a Constituição em possível Constituinte específica.
É bom destacar que tal movimento é de enorme envergadura e
mostra cegueiras, por um lado, e perspectivas, por outro. É visível que há
atores extremamente honestos e leais com o processo. Pelo lado das cegueiras
vejo pontos positivos: muita gente que nunca se importou com o povo, com a
realidade social, com as mudanças, com os partidos, com as organizações
comunitárias e populares, que nunca enxergou para além de seu umbigo, vê-se
impelida a pensar e, mesmo dizendo bobagem, é arrastada para o bojo do debate. Isso
pode iluminar, pois há pessoas muito boas que podem se corrigir e avançar. Há
pessoas despidas da prática do pensamento coletivo em relação à luta, porque são
sem luta, que não saberem falar os problemas diante das pessoas interessadas e,
por isso, facilmente batem com a língua nos dentes para desgastar e roubar a
energia das pessoas. Agora têm que falar
e escrever. Isso é bom.
No sentido da lealdade na crítica vejo denúncias e práticas
imensamente construtivas para entendermos essa nossa realidade, nada clara para
a gurizada que foi às ruas se desvirginar na luta. A partir da proposta da
Presidenta Dilma de um pacto nacional em torno de 5 pontos para um plebiscito, como
escrevi no artigo anterior, há um crítica leal mas contundente ao seu governo
que vale a pena considerarmos. Ressalto: essa crítica é infinitamente mais
contundente do que muitas bobagens que escrevem e discursam por aí, até
atacando e ofendendo pessoalmente a Presidenta. Refiro-me a uma crítica pela
esquerda, a partir da nação e não de esquizofrenias e loucuras delirantes. Diferencia-se,
por exemplo, do discurso do etílico Aécio Neves na tribuna do Senado nesta
terça-feira. Talvez pensando que a tribuna fosse um enorme copo de bebida Aécio
resvalou para besteiras do tipo pedir transparência nas contas e cartões
pessoais da Presidenta, nas contas de suas viagens, num verdadeiro delírio de
bêbado daquele tipo que confunde cachorro com macarrão. O ébrio nem se dá
conta, de longe que seja que o País necessita de medidas infinitamente maiores
e mais sérias do que essas bobagens. Como sempre fazem os moralistas de direita,
criticou coisas pequenas para difamar a Presidenta e declarar-se o mais moral
de todos os mineiros brasileiros.
As críticas sérias, que atingem o cerne da questão são,
primeiro a feita pelo médico Carlos Lopes (clique aqui para ler mais) do Jornal Hora do Povo. Carlos Lopes denuncia que o item
corrupção como crime hediondo mostra que a Presidenta se deixa influenciar pela
mídia direitista e manipuladora, que ardentemente deseja governar o Brasil. Mostrar
o Brasil como País corrupto é típico de nossos inimigos. O Brasil nem se
compara com outros como os Estado Unidos e Europa, por exemplo. Há corruptos
aqui sim, mas os que hão não são apontados e o maior deles são os donos da
mídia e os bancos, protegidos por ela.
A tal “estabilidade na economia” é medida marca registrada
dos neoliberais com referência ao emperramento do crescimento. A “responsabilidade
fiscal”, sinônimo da “estabilidade na economia”, é senha para os bancos
permanentemente saquearem o Tesouro Nacional, mesmo que com a maior cara
deslavada o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central chamem
mentirosamente de combate à inflação. Na verdade, isso é desvio e assalto dos
investimentos no desenvolvimento do País. Daí a falta de recursos. Isso precisa
corrigir-se sem confundir a voz das ruas com a voz da mídia.
Outra causa da falta de dinheiro é o gigantesco desvio de
recursos públicos para juros, desonerações e financiamentos para as
multinacionais, em desrespeito à nossa soberania e às nossas prioridades
nacionais e sociais. Carlos Lopes dá
números que assustam pelo crime que representam em termos de roubo e cruel corrupção
de nossas riquezas. Diz ele: “de janeiro de 2011 a abril de 2013 foram
desviados R$ 305 bilhões (mais exatamente: R$ 304.906.588.916) que estavam
destinados às “despesas primárias” do governo federal (saúde, educação,
transportes e as demais despesas não financeiras) para as reservas dos juros –
o “superávit primário” do governo federal.
Apesar disso, no mesmo período, o total de juros transferidos
aos bancos pelo governo federal somou R$ 448 bilhões (exatamente: R$
448.178.902.484).
Este gasto estúpido, quase 5% do PIB, foi uma decisão da
política econômica, isto é, uma decisão de governo em nome de coisas tão
mentirosas quanto “responsabilidade fiscal, “austeridade fiscal”, “disciplina
fiscal”, “consolidação fiscal” ou lá que apelido tenha essa pilhagem de
recursos da coletividade em prol de meia dúzia, além do previsto no Orçamento,
já que foram cortados R$ 28 bilhões com o mesmo objetivo” (leia mais).
A crítica precisa ser honesta e leal para apontar os furos
que mostram a grande quantidade de recursos jogada fora de seu verdadeiro
destino e a grande quantidade de recursos que pode ser investida nos projetos
de desenvolvimento nacional e social. É isso que precisa mudar. É essa a
verdadeira corrupção que as comadres matraqueiras não identificam porque dizem
que só sabem ler os manuais intelectualiodes de suas bibliotecas medíocres.
Outra crítica, essa muito esperançosa, madura e avançada é a
feita por quem sabe e por quem lida com o problema social e econômico todos os
dias. Trata-se das Centrais Sindicais e dos Movimentos Sociais que se reunirão
com a Presidenta Dilma e lhe entregarão pauta de reivindicações e críticas. Dirão
à Presidenta que as Centrais definiram “11 de julho como o Dia Nacional de
Lutas, com Greves e Mobilizações com o lema ‘Pelas Liberdades Democráticas e
pelos Direitos dos Trabalhadores’. São nove suas bandeiras de lutas: fim do
fator previdenciário, 10% do PIB para a Saúde, 10% do PIB para a Educação,
redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários,
valorização das aposentadorias, transporte público e de qualidade, reforma
agrária, contra os leilões de petróleo e rechaço do PL 4330, sobre
terceirização.”(Leia mais)
As mobilizações eclodem momento difícil e de mudanças no
Brasil. É preciso romper o sistema do rentismo parasita, reduzir e não aumentar
os juros e aplicar na produção, ampliando os investimentos públicos. Com isso
haverá recursos para injetar na saúde, na educação e no transporte, segundo
pesquisa que as centrais fizeram com assessoria de economistas, com toda a
responsabilidade e amparo científico, diferente do que fazem as matraqueiras de
ocasião.
Portanto, o lastro do pacto proposto pela Presidenta Dilma,
mesmo confusa com as vozes das ruas e da mídia pró-fascista, ganha conteúdo
sério e consequente ao entrar em ação verdadeiros e históricos protagonistas.
Agora creio que as manifestações das ruas ganharão conteúdo e, certamente, os
fascistas, direitistas e golpistas não encontrarão espaços para seus showzinhos
pirotécnicos.
Como sempre, quando o diálogo é honesto e leal, meu caro comandante
Jairo, os avanços produzem frutos mais próximos da justiça e da paz. Encho-me
de esperança.
Abraços críticos e fraternos na boa luta pela justiça e pela
paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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