Espero ir à tua igreja hoje à noite, depois de tantas
promessas adiadas por problemas de saúde. Desejo ardentemente conhecer tua
igreja pentecostal acolhedora, inclusiva e comprometida com as transformações
sociais.
Nesses últimos dias vivo de alma pesada e exangue com as
bombas que o Israel sionista despeja sobre nossos irmãos palestinos. Aquele Estado nazista faz de Gaza a muralha
que aprisiona crianças, mulheres, velhos, doentes e trabalhadores/as. Aquela
população indefesa é feita alvo dos tiros e crimes do opressor.
Penso, querido pastor, que nós que não nos fechamos no
interior de sacristias, de templos alheios aos sofrimentos humanos nem em
cofres recheados dos dízimos dos explorados, carregamos muita dor dos
injustiçados. Mas é preciso cuidar com dores sem causa e sem projetos. Isso
seria parecido com o rabino do filme “O homem de Kiev” que perguntado por que era
alcoólatra, respondeu: “ bebo porque não aguento o sofrimento e a miséria do
mundo”.
Hoje me deparei com uma entrevista grandiosa de nosso grande
teólogo brasileiro, Leonardo Boff. Ele lida bem com a polaridade do sofrimento causado
pelas dores das injustiças imperantes no mundo e com a esperança alimentada no
solo real da luta pelas transformações.
Na sua entrevista, que linkarei abaixo como recomendação
indispensável de leitura, Boff não enrola ao fazer críticas ao cristianismo
apático dos que traíram o Jesus na sua caminhada histórica pela palestina
injustiçada, ele também vítima de perseguições e morte impetradas pelos
poderosos.
Boff, como um João Batista gritando nos jardins do palácio de
Herodes, sem medo de ser mandado decapitar pelo corrupto e odioso, denuncia o
economicismo das igrejas ricas que roubam os dízimos do povo. Denuncia também o
uso da religião como mecanismo de exclusão, de repulsa dos sofridos e como
caminho para o poder teocrático dos que, em nome de Deus, como na antiguidade e
na Idade Média, dominavam para prender, torturar e matar quem se insurgisse
contra as botas dos que massacram os povos, à cavalo do projeto desumano e
desumanizador.
Leonardo Boff mostra também de modo contundente a
encruzilhada que o mundo vive entre libertar-se do capitalismo agressor da vida
– tudo aí incluído: os humanos, os animais e o ambiente ecológico – e um novo
projeto social baseado na essência da vida e da solidariedade.
Como religiosos temos que reconhecer o valor dessas duas
denúncias, meu querido pastor. De um lado temos projetos de igrejas modelo
supermercado – templo capitalista e neoliberal – e de outro grupos religiosos –
cristãos e outros seguimentos fora dessa tradição – que se unem ao povo na luta
por um projeto de sociedade emanado da justiça, da igualdade e do sentido
coletivo de relações e partilha dos bens desse nosso maravilhoso e belo planeta,
onde Deus plantou seu filho de carne e osso para lutar pelo Reino de justiça e
paz, cooptando-nos e convertendo-nos para essa proposta.
Outro domingo fui convidado a ir – só ir porque lá me
ignoraram totalmente – a uma igreja rica e empresarial. Meu Deus, o pregador
subiu ao púlpito e fez do texto lido uma tulha de mentiras e distorções, tudo a
serviço dos ricos e do mercado. Que horror! Na mesma semana visitei o dono da
igreja e entendi a razão. Contou-me que segue o material “didático” formativo
de seus quadros fornecido pele editora de Silas Malafaia. Pronto, a escolha e o
escolhido deixam tudo claro. Trata-se de uma igreja para os ricos e para o
reino dos céus dos acomodados e sem coração.
Nesta entrevista dada pelo profeta e teólogo Leonardo Boff há
o indicativo do único caminho para sermos cristãos: o que nos dá o Cristo que
nos remete para a luta por uma nova sociedade. Fora disso tudo é heresia,
histeria e colaboracionismo com coisas do tipo que Israel faz com os palestinos
e que muitas igrejas fazem desumanamente na África e na América Latina.
Clica aqui para ler no excelente site Sul21 a maravilhosa entrevista de Leonardo
Boff.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, gritando no
pátio de Herodes, também.
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