Prezado Deputado Chico Vigilante
Parabéns pelo seu excelente artigo no site Brasil 247.
Nele o senhor descreve com competência histórica o grande mar
de borrasca que representou aquele movimento cívico-militar, cujo golpe contra
a democracia, contra o desenvolvimento que experimentávamos e contra a soberania
de nosso País, praticamente destruindo o que nosso povo conquistava desde 1954
a partir de Getúlio Vargas.
O senhor não economiza denúncia a cavalo da verdade, como
deve acontecer a um cidadão comprometido com a justiça social, sem rodeios e
negociatas.
Hoje, 13 de março, quero recordar e me emocionar com o
grandioso comício da Central do Brasil no Rio de Janeiro. Lembro como se fosse
hoje. Eu era criança embalada pelos debates e agitações construtivas que
tomavam conta do Brasil. Escutei todas as falas pela Rádio Marinquiveiga, de
saudosa memória, fechada pela ditadura militar golpista.
Lembro do discurso de Leonel de Moura Brizola que saudava o
Presidente Goulart pela medidas de estatização de multinacionais que sugavam
nossos recursos. Lembro dos que saudaram as medidas em favor da Reforma Agrária
e demais reformas de base. E lembro com emoção do inesquecível discurso do
grande Presidente João Goulart.
No discurso de Jango senti as marcas dos avanços das
conquistas dos direitos sociais dos trabalhadores. Senti a profunda aliança de
um governo com os anseios do povo e da Nação.
Mas lembro do sentido amoroso do povo na Central do Brasil
naquela noite. Centenas de faixas apoiavam as medidas do Presidente
democrático. Os aplausos pareciam movimentar-se de dentro da alma de cada pessoa
na praça, representando os milhões que se espalhavam pelas cidades e pelos
campos em todo o País, escutando pelos rádios.
Pena que nos quartéis, nos parlamentos e entre empresários
vendilhões e impatrióticos crescesse o fantasma da traição que urdiu o golpe sangrento,
na contra mão de tudo o que o povo celebrara em Praça Pública daquela noite de
13 de março de 1964.
Pena que poucos dias depois, na madrugada de 1º de abril, os
golpistas sujos, nojentos e malcheirosos moral e eticamente deram o golpe de
morte no coração do povo, com extremada falta de respeito aos avanços que se
desenhavam com muito suor.
Tiro algumas lições desses dois fatos contraditórios, prezado
deputado Vigilante.
Primeira, que governo legítimo é o que se aliança com o povo
que debate, que se organiza na luta e que pressiona por mudanças. As mudanças
não caem do céu, por mais reza, orações e superstição que se tenha. As mudanças
acontecem com muita luta por justiça social a favor do povo quando este se
mobiliza organizada e inteligentemente e quando o governo entende e se
compromete com esse espírito nacional e popular.
Segunda lição, é que sempre haverá fantasiosos do inferno que
“inventam” perigos “comunistas” e outras bobagens para justificar aventuras à
direita em favor dos poderosos, do imperialismo, da concentração de riquezas e de renda. É preciso
que o povo se eduque sempre, que se interesse por política, que abrace as
causas dos direitos humanos em massa para evitar os pescadores malvados de
águas turvas.
Terceira, Jango foi vítima como Getúlio da mídia conservadora
e irresponsável. Assim como o lacerdismo se projetou contra Getúlio,
estigmatizando seu governo de ser enlameado num mar de lamas, assim Jango foi
alvo impiedoso da mídia e dos jornalismo atrasado. Assim também hoje se levanta
o denuncismo contra o que a direita define como onda de corrupção, deixando passar
batido o carrossel dos corruptos, que ela faz de conta não ver.
Quarta lição, é preciso aprender com a história. O povo e o
governo do povo precisam cuidar mais dos traidores e não deixá-los soltos nem
ser românticos com eles. Os traidores são mesquinhos, mentirosos e
manipuladores. Eles até teatralizam choros de sofrimento e de queixas, mas
sempre são traidores. Penso que o querido Presidente João Goulart, também
assassinado pela ditadura, foi ingênuo com os traidores próximos a ele e com os
distantes, sedentos de levar vantagens em tudo, mesmo que o povo e a Pátria
explodam com suas satânicas atitudes.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano, em todas
as situações.
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