Querida
amiga Professora Edina Linda
Agradeço muito a forma fidalga com que me recebeu no gabinete
do deputado Karlos Cabral, onde a amiga trabalha.
Nossa conversa girou em torno de interesses comuns entre
Ibrapaz e projetos do gabinete do deputado Cabral e em torno de sua viagem em
missão por 3 anos à África, nossa mãe.
Pois bem amiga, acabei de ler o relato de uma pesquisa feita
pelo Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – que revela a necessidade
justa representada pelo projeto de lei que o governo federal apresentou ao
Congresso para reservar 20% das vagas em concursos para negros que tenham
estudado na rede pública.
Parece-me que o aludido projeto de lei enfrenta dois
preconceitos que atingem os negros. Um é o racial. Embora o estudo constate
aumento significativo de aprovação e inserção de afros descentes nos serviços
públicos o fato é que o número de irmãos negros em comparação com os brancos é
enormemente desproporcional, contra os negros, é claro. O espaço institucional
público é incorporador do racismo histórico e colonial. Isso sem falar na
disparidade de renda. Os negros são inferiorizados nos salários quando se trata
das mesmas atividades exercidas pelos brancos, sem que estes reclamem da
injustiça que gera privilégios discriminatórios.
O outro preconceito, ativo nos negros e brancos, é o da falsa
inclusão institucional e social, sem transformações profundas de fundo.
Conheço muitos negros que são competentes teórica e
tecnicamente, mas que continuam tão alienados consciencialmente quanto às
causas ideológicas da escravidão, sem se aperceberem de onde se originam os
preconceitos, o racismo e as discriminações. Nesse sentido sua inclusão é muito
mais econômica e culturalmente à ideologia dos brancos do que verdadeira
emancipação. Assim, continuam a colaborar com os brancos na exclusão barbarizante
de negros e brancos. Integram e são “engolidos” pelo projeto colonial embranquecido.
Noutras palavras, o que promove o racismo que exclui é mais
do que a cor da pele, dos cabelos e dos olhos. Neste caso, branco é o nome do
racismo, também introjetado pelos negros e promovido pela elite dominante. Isso
tem caráter econômico e político. Ser
branco é ser opressor ou alienado, sem sensibilidade para as injustiças que
discriminam e, pior, sem percepção de que tudo muda mesmo é pela luta que
abraça a justiça social como critério de novas relações entre os humanos.
Penso que a história mostra abundantes exemplos de negros que
“pensaram” e “pensam” com o mesma visão de mundo embranquecido colonial, que
espatifa os negros contra as rochas frias
da discriminação, gerando fome, ignorância, miséria e falta de educação. No
Brasil colônia muitos dos capitães do mato eram negros. Esses, insensíveis,
manipulados e alienados eram cruéis com seus irmãos escravos negros. Muitas
vezes eram muito mais cruéis e maus do que capitães do mato brancos.
Recentemente, na ponta do poder, o exemplo mais enfático é o
de Joaquim Barbosa. Esse é negro, procedente dos negros e pobres. É culto,
poliglota e inteligente, inegavelmente. Porém, suas ações são racistas e
discriminatórias na medida em que abraça de forma estúpida, traidora e
vergonhosa a política branca dos brancos da casa grande. Essa afirmação “casa
grande”, parte do título de um livro pesquisa de Gilberto Freyre – Casa-Grande
& Senzala - virou símbolo da tristeza que é a elite capitalista atrasada
socialmente, neoliberal e de direita no Brasil. A ela serve o judiciário, a
mídia, o governo, o parlamento e a educação. A essa lamentável demanda se
dedica Joaquim Barbosa, que vira as costas para a senzala, lugar degradante dos
negros e pobres escravizados, para receber as migalhas jogadas pelas janelas da
Casa Grande, a quem presta serviço, com sua alma e consciência brancas.
Leia mais aqui.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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