Papa Francisco
Querida
Joana
Percebo que não te pareces em nada com a grande
revolucionária Joana D’Arc, de quem recebeste teu lindo nome. Aquela era
ousada, destemida, genial, revolucionária e disposta a riscos, bem ao contrário
do que és. Mas te admiro e vejo em ti grandiosos potenciais como mulher bonita,
inteligente e esclarecida.
A mídia faz sua obtusa retrospectiva ao final de cada ano.
Seus destaques são sobre os fatos que geralmente ela mesma gera, divulga e
grava para depois resumidamente rolar para o público, não raro com dramáticas
imagens para emocionar e narcotizar.
Todos temos nossas lembranças de cada ano e reservamos
esperanças para a frente. Tenho minhas frustrações e esperanças, também. Não as
tenho limitadas em minha vida pessoal. Não consigo ser individualista. Não vejo
frustrações e sucessos como coisas de cada um.
Frustrações
Coisa que me sensibiliza e judia é a injustiça. Nesse sentido
sinto enorme dor que a barbárie praticada por parte dos ministros do Supremo
Tribunal Federal espatacularizou no julgamento e condenação de pessoas
inocentes, no caso que a mídia de conduta fascista denomina de “mensalão”, nome
dado pelo playboy Jeferson, amigo de Joaquim Barbosa.
Não conheço pessoalmente José Genoino, Delúbio Soares, José
Dirceu e outros atingidos pelo ódio, principalmente pelo descambado relator da
Ação Penal 470. Admiro muito José Genoíno e creio na sua honestidade e
inocência. Com os outros nunca tive convivência nem sou seu partidário. Não
tenho nenhuma razão pessoal para defendê-los. José Dirceu me dá impressão de
ser frio, áspero e arrogante. Eu teria grande dificuldade de me relacionar com
ele. Não me sinto bem com pessoas assim. Elas me atropelam e me desrespeitam.
Mas o Genoíno parece ser uma pessoa doce, afetivo e o vejo como esposo, pai e
avô maravilhoso. Eu sempre soube que ele é dedicado e apaixonado pelo povo e
pelo Brasil.
Todavia, como cidadão que ama o Brasil, o povo e a justiça - esta
passa longe do capitão do mato Joaquim Barbosa – não posso considerar apreços
pessoais ou antipatias para defender as pessoas injustiçadas. Como diz o
jornalista Breno Altman em carta para Dirceu, Delúbio e Genoíno (leia aqui), o PT cometeu muitos erros no governo
federal, no exercício do poder da Nação. Mas não foi por isso que os condenados
foram julgados e presos sem provas.
A grande injustiça que faz doer meu coração e o de todas as
pessoas de bom senso (vê definição de Antonio Gramschi) é que aqueles patriotas
e camaradas foram julgados e condenados sem provas, principalmente pela mídia
raivosa e reacionária, que promoveu vergonhoso linchamento contra eles. Dirceu,
Delúbio e Genoino são perseguidos pelo ódio que a direita tem dos avanços conquistados com a eleição de Lula
e de Dilma. Criticamente sei que Lula e Dilma poderiam e deveriam avançar muito
mais no desenvolvimento e nas reformas que o País exige, mas a direita que
condenou injustamente tenta abortar e abortar a energia progressista. É isso
que preside o esconderijo das provas que inocentam as vítimas do linchamento
público a que aqueles homens foram submetidos.
Penso que Joaquim Barbosa é boneco perfeito dessa direita
rasteira e derrotada pelo povo. Ele é negro, originário da pobreza que avilta e
dolorido emocional e espinhalmente. Nada melhor do que negro e pobre, ao receber
migalhas dos poderosos, sempre prontos a oferecer sua mídia para cobrir
sensacionalisticamente desastres e futilidades, que um negro ser carrasco, que
um ex-pobre ser justiceiro daninho e mau e do que um sofredor de lesões na
coluna dramatizar heroísmo com sua dor, cujas caretas foram transmitidas em
redes nacionais. Isso comove os incautos, coxinhas e alienados. Até senadores
discursaram na tribuna do Senado sobre as dores terríveis do ministro Joaquim
Barbosa.
Para mim, contudo, Joaquim Barbosa é uma chaga, é um
escumalha lamentável, que entrou pela porta dos fundos do poder, eivada de
bajulações e de corrupção, sempre aberta aos traidores e incapazes.
Outra frustração é ver o Governo Dilma, presidente em quem
votei e em quem votarei em 2014, render-se à direita, ao mercado neoliberal e
aos corruptos do sistema bancário e das multinacionais. Provas disso são os
leilões de caráter privatista, entregando à iniciativa privada bens públicos e
do Estado Brasileiro.
Outra é a timidez em face dessa mídia que destrata seu
governo, que mente para a sociedade, que ocupa o lugar do judiciário e do
parlamento para produzir leis e julgar a bel prazer da classe dominante
atrasada. Dilma não tem coragem de enfrentar essa podridão com a elaboração,
proposta ao Congresso Nacional e implantação de uma competente lei dos meios de
comunicação.
Dilma não resolveu o problema agrário brasileiro, extremamente
perverso e criminoso. Este sistema expulsa trabalhadores rurais, mata
indígenas, envenena o ambiente ecológico, produz para as multinacionais e faz
dos alimentados envenenados negócios corruptos internacionais.
O governo Dilma também não enfrentou o problema das cidades
no que diz respeito à educação, à saúde, à segurança, à habitação, ao
território urbano e à mobilidade.
A reforma política se reduziu a uma minirreforma, que não
fere a essência do antro de corrupção que preside as campanhas eleitorais e
impede os avanços em favor de mais direitos e do desenvolvimento progressista.
Os bancos continuam a governar e a pressionar o governo, a
justiça e o legislativo da mesma maneira que o faziam nos tempos trágicos de
FHC. A prova mais contundente é o orçamento da União para 2014, que destinou
42% dos impostos pagos com o sacrifício dos trabalhadores e da produção para os
banqueiros, que não trabalham, não investem e nada fazem pelo País. Aí está um
dos focos de maior corrupção que a mídia não enxerga porque é beneficiada com a
transferência de recursos da educação, da saúde, do transporte coletivo, do
desenvolvimento interiorano brasileiro etc.
O governo Dilma ao emperrar os avanços nos atendimentos da
justiça e dos direitos sociais ajudou a condenar Dirceu, Delúbio e Genoíno. Se
o povo realmente visse quem realmente que o sistema bancário e os grandes
proprietários das corporações é que corrompem não embarcariam na conversa para
boi dormir da mídia e dos seus comparsas no STF.
Esperanças
O mundo se iluminou nesse ano com eleição do Papa Francisco.
Sabe-se que a cúria romana tingiu de terror historicamente o
cristianismo, fazendo-o uma religião dos poderosos opressores. A história é
prenhe de exemplos das barbaridades impostas aos povos pelo terror romano. Recentemente os Papas João Paulo II e Bento
XVI associaram-se ao imperialismo e perseguiram deliberadamente leigos e
teólogos que militaram pela redenção dos pobres no esforço revolucionário por
arrancar de suas mentes e situações objetivas as correntes que os amarram
secularmente ao atraso e às injustiças. A Opus Dei, uma ordem “religiosa”
fascista, detinha toda a diretriz política da cúria e promoveu todos os males
possíveis no uso do papado para enganar as massas na América Latina e na
África.
Francisco, porém, surpreendeu. Ele sorri e abraça os pisoteados
pelo poderio financeiro do mundo. Sua primeira encíclica prioriza o humano ao
dinheiro neoliberal, a distribuição e compartilha à concentração egoísta e desumanizadora.
Como já escrevi outras vezes, um Papa não é mal ou bem
somente da Igreja do Vaticano. É mal ou bem da humanidade. Felizmente Francisco
é do interesse do bem da humanidade inteira porque demonstra posicionar-se ao
lado dos mais prejudicados pelas injustiças dos poderosos.
Outro grande sinal de esperança foi a eleição do prefeito de
Nova York, Bill de Blasio. Ele se declara socialista e de esquerda. Sua vida
encharcada de humanidade parece confirmar que não se trata apenas de uma afirmação.
Casou-se com uma mulher negra que antes tivera relações lésbicas. Seu filho
adolescente carrega na cabeça enorme e linda cabeleira afro, transformando-se
em destaque na mídia estadunidense e viral na internet. Sua eleição deu-se
sobre uma agenda que pontuava o combate à desigualdade social. Propôs-se a
aumentar os impostos para os ricos para reunir recursos para investimento
social. Na juventude apoiou a revolução sandinista na Nicarágua, que o governo
estadunidense perseguia e fez sua lua de mel em Cuba.
Em nível internacional ainda vimos, não que a mídia subordinada
ao imperialismo mostrasse, que os trabalhadores na Grécia, na Espanha e nos
Estados Unidos resistiram organizados sindicalmente e com greves o fracasso do
sistema financeiro ladrão que lhes roubou empregos e os direitos sociais.
O Chile elegeu Michele Bachelet sua presidente. Com isso
assina avanço e colaboração com a América Latina, que se debate por sua
emancipação em relação às botas opressoras dos Estados Unidos, deixando de ser
seu quintal e seu motel.
No Brasil nos enchemos de esperança com o povo nas ruas
exigindo mais respostas dos governos aos seus direitos. Como disse o meu amigo Jornalista
Altamiro Borges no 2º encontro dos blogueiros e ativistas digitais aqui em
Goiás: o povo pressionou por mais Estado, por tanto, por socialização das
soluções políticas de suas demandas mais profundas.
Em 2014 teremos novas eleições gerais. Minha esperança é de
que o povo vá às ruas não para consagrar o conservadorismo e a direita e não só
para eleger pessoas. Espero que o povo retorne às ruas movido pela mesma força
que atua no Papa Francisco, no prefeito Bill de Blasio e nos trabalhadores
europeus na luta por mais justiça nas vidas, nas relações sociais e políticas.
O capitalismo apodreceu há dois séculos. A dependência ao
imperialismo é terrível para o Brasil. Temos que avançar para rompermos com
esse sistema arcaico, profundamente injusto e desumano.
Minhas frustrações e esperanças caminham juntas, Joana.
Espero, contudo, que forças como as que moveram pessoas como tua homônima Joana
D’Arc, também vítima de inominável
julgamento injusto que a condenou à morte, nos empurrem para a luta por relações
novas. Minha esperança é de que o Brasil e nosso povo empurremos o governo
Dilma para frente e para a justiça social, passando por profundas transformações
em todos os campos ainda não tocados.
Abraços minha amiga Joana, com os votos de que também avances
em honra a Joana D’Arc, revolucionária e patriota.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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