Querido Jornalista Paulo Nogueira
Permite que elogie vários valores que percebo no querido
amigo. Apesar de nunca nos falarmos pessoalmente te admiro enormemente.
Destacaria como importante, em primeiro lugar, tua sabedoria.
Escreves muito sobre filosofia e acolhes em teu prestigiado site boa quantidade
de artigos sobre essa maravilhosa fonte de saber.
Sabedoria é a arte de quem consegue abrir-se permanente e
dinamicamente ao processo existencial de aprender com o mundo teórico e com a
vida prática. Sábio é o ser humano que articula a teoria com a vida e a vida
com a teoria, uma fertilizando a outra. Nessa dinâmica é impossível dogmatizar
e amarrar os pés em alguma barranca e não mais andar, como um asno empacado.
Nota-se perfeitamente que os conservadores ou os que se fixam
nas trevas do senso comum, tão manipulado pelo pior que emana da classe
dominante, também não conseguem – não conseguem mesmo, por mais que algo neles
grite – ouvir, ver, cheirar, degustar e apalpar possibilidades de verdade no
mundo fora de suas mentes tão brutalmente entrevadas pela burrice mesquinha,
causada pelas marretadas estonteantes dos golpes e mentiras dadas pela direita.
Tu és um sábio, meu querido Jornalista (com J maiúsculo). És
culto, estudioso e sabes muito bem “explorar” tuas passagens pela imprensa
grande – Revista Veja e Rede Globo, por exemplo – onde trabalhaste e aprendeste
muito com os movimentos safados do pessoal armador de golpes à democracia, para
nos contar como eles agem, acentue-se o caso dos malandros da família Marinho,
eternamente sujos e comprometidos com a ditadura militar e com o rasteiro neoliberalismo
entreguista e vendilhão de Fernando Henrique Cardoso.
Num dos teus artigos contas das reuniões da formação de pauta
na TV Globo e que sentavas nas proximidades de uma janela, distante de miolo do
furacão de mentiras que esse poderoso órgão de imprensa despeja sobre o povo
brasileiro.
Noutras palavras, meu irmão, não te vendeste aos inimigos do
Brasil, da verdade, da justiça e da democracia. Não imaginas como é bom saber
disso. Isso contrasta radicalmente com muitos covardes com quem convivemos
diariamente, sempre dispostos a vender suas mães em troca do vil metal.
Destaco também, graças à tua sabedoria, a humildade que te
guia. Percebo esse valor do teu caráter nas matérias que constróis seguidamente
em torno das gritantes vítimas desta apodrecida classe dominante brasileira. Quem
acompanha teu site e teu trabalho certamente entende a que me refiro. Sabes
levantar tua voz – ou usar teu computador – na identificação das injustiças e
dos que a praticam.
Porém, sinto enorme alegria quando comento teus artigos ou
outros trabalhos publicados em teu site. Mais, sempre deixas uma rápida palavra
de estímulo e gentil a esse insignificante lutador de uma sociedade mais justa.
Certamente não imaginas também o que tal atitude significa. Vivemos num
digladiante mundo de competidores predatórios, rancorosos e vaidosos, onde não
se permite ao outro crescer. Incrível, seguidamente escrevo para blogs e sites
até de grandes estrelas de esquerda que simplesmente boicotam ou censuram meus
comentários. Decepciono-me amargamente com isso.
O meu amigo, e teu colega, Ciro Fabres Netho, que trabalha
num jornal da RBS em Caxias do Sul, sempre me disse que os jornalistas padecem
do visceral mal da vaidade. Ciro me contou que os tais se acham tão donos da
verdade que chegam ao ponto de substituir os fatos reais por suas próprias
opiniões, que eles chamam de jornalismo profissional. Ou como afirmou teu outro
colega, o grande Franklin Martins: “a imprensa no Brasil é independente, tão
independente que independe dos fatos. Os fatos são uma coisa e ela diz o que
quer.”
Tu, querido Paulo, buscas os fatos e com eles casas e os
amas, como uma das fontes da verdade e da sabedoria. Viajas, contas com colegas
teus e profissionais de outras áreas para compreenderes e comunicares os fatos.
Por isso quando te sentiste caluniado e perseguido pela Globo ameaçaste fechar
teu maravilhoso site Diário do Centro do Mundo,
um dos mais importantes órgãos da mídia online. Senti muita tristeza com essa
ameaça por saber-me privado de te ler. Felizmente foste sensível aos teus
amigos que se mobilizaram em todo o País para te dar força e ajudar nas
despesas com custas advocatícias para enfrentares o monstro de pés de barro.
Pois bem, Paulo, mais uma vez olhas encantado, ainda que angustiado,
para os fatos, não obscurecido pela mídia sem vergonha por ser serviçal da
direita e agressiva à verdade e à justiça, mas com a sensibilidade do sábio que
busca na história e na realidade o que esta fala de si mesma.
Posto abaixo o artigo no qual analisas a opção de José
Dirceu, a mesma que move o ódio da mídia e da direita brasileiras contra ele e
contra nosso povo trabalhador.
O que escreves toca profundamente o meu espírito, graças à
verdade sábia do núcleo bem fundamentado de teu texto. Já escrevi aqui sobre a
traição de pessoas militantes da esquerda que se bandearam para a direita em
busca de dinheiro, poder e prestígio. Esses são covardes, mesquinhos, imorais e
escumalhas do universo, como dizia Pascal. Suponho até que a direita sobrevive
muito dessa mão de obra dessas serpentes venenosas. Elas se espalham por toda a
parte, desde os mais altos escalões da pirâmide capitalista atrasada e
entreguista até aqui no vale onde labutamos arduamente.
Mas o mundo mudará para os caminhos da justiça graças aos 1%
pelos quais opta José Dirceu, hoje presidiário político dos 99% de
aproveitadores, que se entendem donos do Brasil e do universo, com o sistema
solar a seu serviço.
Abraços críticos e fraternos na luta pela justiça, pela paz e
pela verdade.
Dom Orvandil: bispo cabano, farrapo e republicano.
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Por que a direita odeia tanto Zé Dirceu?
Postado em 15 nov 2013
Por que Zé Dirceu é tão odiado pela direita?
Ele é ainda mais odiado que Lula, o que não é pouco.
Tenho minha tese.
De Lula era esperado, mesmo, que estivesse do lado oposto ao da
direita. Operário, nordestino, nove dedos, pouca oportunidade de
estudar.
Seria uma aberração Lula se alinhar ao 1%, para usar a grande terminologia do movimento Ocupe Wall Street.
Mas Dirceu não.
Ele tinha todos os atributos para figurar no 1% que fez o país ser o
que é, um dos campeões mundiais de iniquidade, a terra das poucas
mansões e das tantas favelas.
Articulado, inteligente, dado a leituras. Bem apessoado. Na ótica do
1%, pessoas como Zé Dirceu são catalogadas como traidoras, e devem ser
punidas exemplarmente para que outras do mesmo gênero, ou se preferirem
da mesma classe, não sigam seu exemplo.
Na França revolucionária, a aristocracia entendia que os Marats, os
Desmoullins, os Héberts pregassem a morte do velho regime, mas jamais
conseguiu compreender o que levou o Duque de Orleans a também lutar pela
liberdade, pela igualdade e pela fraternidade.
O 1% brasileiro, na história recente, soube sempre atrair
equivalentes a Dirceu. Carlos Lacerda, por exemplo, era de esquerda na
juventude.
Depois, se tornou um direitista fanático. Segundo relatos de quem o
conheceu, ele se cansou da vida dura reservada aos esquerdistas em seus
dias e foi para onde o dinheiro estava.
O 1% recompensa bem. Nos dias de hoje, se você defende os
privilégios, acaba falando na CBN, aparecendo em entrevistas na
Globonews, tendo coluna em jornais e revistas, dando palestras muito bem
pagas. E, com a carteira abastecida, ainda pode posar de ‘corajoso’
defensor da ‘imprensa livre’.
Dirceu não fez a trajetória de Lacerda. Não abjurou suas crenças.
E então virou o demônio.
Quem o demonizou foram exatamente aqueles que o adulariam se ele se
vendesse. A imagem que a mídia construiu de Zé Dirceu concentrou num
único homem todos os defeitos possíveis: vaidoso, arrogante, corrupto,
inescrupuloso, maquiavélico.
Um monstro, enfim.
Pegou essa imagem? Menos do que o 1% gostaria, provavelmente. Quem
não se lembra de Serra, num debate com Haddad, repetidas vezes tentar
encurralar seu oponente com a acusação de que era “amigo do Dirceu”?
Haddad reconheceu tranquilamente a amizade, e quem terminou eleito não foi Serra.
Na mídia tradicional, a campanha contra Dirceu desconhece limites jornalísticos e, pior que isso, legais.
Um repórter tenta invadir criminosamente o quarto do hotel que ele
ocupa, e ainda assim é Dirceu que aparece como o vilão do caso.
Quem conhece o Dirceu real, com seus defeitos e virtudes, grandezas e
misérias, são aqueles poucos de seu círculo íntimo. Para eles não faz
efeito o noticiário que o sataniza. (Caso interesse a alguém, nunca
votei em Dirceu e não o conheço pessoalmente.)
De resto, esse noticiário – ou propaganda – não é feito para eles,
mas para os chamados ‘inocentes úteis’, aqueles que em outras épocas
acreditaram no “Mar de Lama” de Getúlio Vargas ou no “perigo comunista”
representado por João Goulart.
É a imagem demoníaca de Dirceu construída pela mídia que, nestes
dias, é utilizada pela maioria dos juízes do Supremo no julgamento do
Mensalão.
Não chega a ser surpresa. A justiça brasileira tradicionalmente foi uma extensão do 1%.
Estudiosos já notaram a diferença da atuação da justiça no Brasil e na Argentina na época das duas ditaduras militares.
No Brasil, a justiça foi servil aos militares. Na Argentina, a
justiça desafiou frequentemente os militares ao declarar inocentes
muitos acusados de “subversivos”.
Isso acabou levando os militares argentinos a simplesmente matar milhares de opositores sem que fossem julgados.
Fundamentalmente, Dirceu paga o preço de sua opção teimosa pelo 99%.
Mas quem vai julgá-lo perante a história não é o 1%, representado por
uma mídia que defende seus próprios privilégios e finge se bater pelo
interesse público. E nem uma corte em cuja história a tradição é o
alinhamento alegremente pomposo com o 1%.
Ele deve saber disso, e imagino que isso o conforte em horas duras como esta.
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