Querida
Professora Ariana da Silva Barra
É bom
recordar que és uma pessoa muito bacana, minha querida amiga. Tua simplicidade
ao fazeres amizade, nas brincadeiras que trocamos e no respeito à
diversidade cultural te fazem especial e doce. Agradeço por tua amizade. Espero
que ainda venhas aqui em casa degustar aquele chimarrão que sei preparar.
Nos quatro artigos últimos que postei aqui no blog abordei os problemas da direita e os enormes prejuízos históricos que traz à nossa sociedade e ao nosso País. No IV defini o que é a direita (clica aqui para ler).
Não há como adotar uma
parte ou um aspecto da direita sem os riscos de envenenamento do todo nas
relações sociais, da mesma maneira como não se deve deixar uma laranja podre num balaio sob o risco de estragar todas as outras. Alguns ingênuos e outros de má-fé gostariam de aproveitar coisas que julgam boas na direita, mas isso é logicamente impossível. Nem há como
pensar que algum candidato ou ocupante de cargo público de direita cumpra a expectativa
de ser pessoa boa só porque fale bonito, porque não se comporte com certos vícios adotados por outras pessoas ou porque defenda alguma causa
aparentemente meritosa ou algum projeto confuso de lei. Basta inteligentemente
examinar-se o seu partido, a que
interesses liga-se para não cairmos na ilusão de que alguém que integre esse
malfeitor espectro político defenda alguma coisa que eticamente se justifique.
Agora, neste artigo,
o V., analiso a questão dos “intelectuais” narizes empinados, arrogantes e
absolutistas em seus pretensos conhecimentos.
Lecionei na
Universidade do Vale do Rio dos Sinos em São Leopoldo, RS. Como sempre, fiz
amizade com o pessoal trabalhador da limpeza e do almoxarifado. Numa noite,
depois de perceber o bom nível cultural de um rapaz que guardava materiais de professores e
alunos lhe perguntei se era professor. A resposta dele acendeu em mim um sinal
vermelho. Respondeu-me de pronto: “Deus me livre, essa é a pior espécie humana”.
Perguntei-lhe porque assim avaliava a minha categoria profissional. Contou-me
que odeia os ditos “intelectuais” que na sala dos professores destroem a
reputação uns dos outros fazendo fofocas e calúnias. Relatou-me que já viu professores serem
demitidos e destruídos em virtude de falatórios detonados por colegas deles. Então
completou: “esses caras são todos uns bandos de narizes empinados e arrogantes.
Não valem nada. Nunca serei professor. Não quero pertencer a essa laia!”
Já me decepcionei
muito, querida professora Ariana, com alguns ditos intelectuais.
Lá no Rio Grande do Sul
me apareceu um que coletava diplomas. Era médico, psiquiatra, doutor e ex-embaixador
itinerante de um grande Presidente latino americano que perdeu a vida em
virtude de um golpe militar sangrento em seu País, este sim um grande e inesquecível intelectual. Impressionei-me com a forma
como ele expunha seus diplomas em sua clínica. Cobria paredes inteiras com a
exposição das comprovações dos cursos que fazia pelo mundo.
Na sua vida pessoal era
muito falante e sempre dono de discursos grandes em torno de nada ou de
questões insignificantes. Gostava de exibir conhecimentos, geralmente sem
originalidade e marcantemente personalistas, sempre com sorrisos de ironia em desprezo dos outros.
Associamo-nos em um
projeto. Evidentemente em sonhos e realizações de envergadura surgem
dificuldades e tropeços. Conosco também surgiram obstáculos. Aí que percebi a inutilidade
de certas culturas ilustrativas e de certos intelectuais. Na hora “h” o tal “intelectual”
traiu refugiando-se nos braços da direita, sendo totalmente desleal, trânsfuga pusilânime,
sem capacidade de bancar e solidarizar-se com seus amigos. Absolutamente refratário a debates e ao enfrentamento de conhecimentos gerados por outras pessoas, incapaz de ouvir e de respeitar.
A partir dessa
experiência presto atenção em homens e mulheres apegados em diplomas e títulos.
Como o trabalhador da Unisinos, desconfio daqueles que adoram pregar diplomas
nas paredes, em grudar placas em portas de salas com títulos de seus graus de
formação. Conheço pessoas que fazem doutorados que, ao falar, não perdem
chances de dizer que são doutores/as, como se os títulos ostentados
significasse humanidade, conhecimento e importância. Via de regra ao se declararem tão altamente formados o fazem de modo arrogante em desprezo aos saberes circusntantes.
Há um noticiário em
rede nacional, gerado pela TV Cultura de São Paulo, que conta com participações
de “intelectuais” desse tipo. Causa-me tremendo mal estar o show de falácias e
de sofismas que os tais “intelectuais” dizem sobre a realidade brasileira, que
passa muito longe de suas minguadas inteligências. Como diz Paulo Henrique Amorim, são autênticos urubólogos, que fazem a realidade movimentada de povo viajando, consumindo, ingressando em universidades, comprando móveis etc um palco sombrio e sem futuro para a acostumada dona do pedaço, a elite dominante, a quem de colunas envergadas servem os tais "intelectuais" de mercado.
O que se percebe em
certos “intelectuais” de placas, de diplomas exibidos e de falas empoladas é
que eles padecem de alguns problemas que os conduzem facilmente para o arraial
da direita mistificadora.
Um, é que confundem o
limitado conhecimento de sua área com a realidade toda. Nos módulos das
disciplinas que fizeram em seus cursos de mestrado e de doutorado há uma que rapidamente esquecem. Trata-se da
metodologia científica e de pesquisa. Lá aprendem que o conhecimento que se propõem pesquisar
é apenas de uma pequena parte do todo do vasto universo dos fenômenos. Como diz
o filósofo Thiago Adão Lara: um doutorado é apenas a delimitação de uma pequena
parte do conhecimento, ignorando-se todo o resto. Uma pessoa torna-se doutora
numa pequena porção da realidade e continua leiga em tudo o mais.
A arrogância dos tais
intelectuais narizes empinados os faz confundir a pequena parte que alegam
conhecer com o todo, que não conhecem e odeiam os que conhecem, desprezando-os.
A arrogância os induz a pensar que sabem tudo. Com isso dispensam o diálogo e a
humildade para a interlocução com outros conhecimentos e a articulação com
outros saberes. Nada mais direitista e totalitário do que pretender impor uma
pequena parte sobre o todo. É isso que muitos fazem. Pior: quando chamam alguém
para ajudá-los convidam os mesmos do mesmo ou puxa sacos medrosos nos questionamentos, movidos a espírito escravo, cabisbaixos e acríticos. Isto é, abrem participação para
gente que pensa como eles impedindo a abertura inteligente e construtiva de
novas possibilidades. Até porque esses “intelectuais” temem o novo, temem
questionamentos e crítica. Crítica para este modelo de "pensador" é confundida com ataques pessoais. São tremendamente inseguros, por isso ameaçam com as
porcarias de poder que imaginam ter.
Outra fragilidade desse
tipo de “intelectual” que faz mal ao trabalhador da Unisinos e a todos, é a
postura hostil que constroem com relação aos outros, ao povo, aos que de fato
trabalham e lutam. Como são equivocados no uso do conhecimento, ao impor sua
pequena parte sobre o todo, não compartilham nada no sentido de dar e de
receber conhecimento dos outros. Enclausuram-se em suas redomas “teóricas” e
não se encontram com mais ninguém. São antissociais. São fechados em seu
grupinho de compadres. Esse é um dos traços terríveis de direita. O mundo
para eles gira em torno de seus narizes, que é até onde alcança sua visão ou,
no máximo, até seus umbigos, que chegam a imaginar que é onde se centraliza o
universo. Pensam que o conhecimento é propriedade de um grupo
de iluminados e aproveitadores e não da humanidade. Quando dizem que somente o
conhecimento traz progresso o fazem demagogicamente para lucrar com isso e não
para socializar o conhecimento e ajudar a humanidade.
Esse tipo de intelectual quando ministra aulas produz verdadeiros desastres na relação conhecimento e educandos/as (alunos/as). Por serem autoritários em seus postulados racionais e pedagógicos impõem conceitos para sua classe decorar. Não comungam com o mundo de seus parceiros de caminhada do processo do conhecimento, até porque eles mesmos não caminham e não constroem parcerias com os educandos, a quem fazem todos seus amestrados. Afirmam que não há amizade entre o distante e entronizado "professor" e os rebaixados e inferiores alunos - no sistema de relacionamento concebido por suas mentes elitistas e de direita - já que isso lhes gera muita insegurança ao não reconhecer humanidade em pessoas tão "inferiores", em cujos clientes buscam apenas o dinheiro em forma de salário miserável, retirado do que depositam no guichê da tesouraria de suas instituições patronais.
O processo de conhecimento nessa perspectiva "intelectual" é um desastre e um ode à mediocridade. O azedume e o contexto de opressão e de traição nas relações são altíssimos. Portanto, a direita é imprestável até quando é mola propulsora do conhecimento. Aliás, poucas instituições se salvam desse abismo. Enquanto o País avança e a realidade se move a apaixonantes desafios essas instituições e seus "intelectuais" regridem e escurecem nas trevas medievais.
Esse tipo de intelectual quando ministra aulas produz verdadeiros desastres na relação conhecimento e educandos/as (alunos/as). Por serem autoritários em seus postulados racionais e pedagógicos impõem conceitos para sua classe decorar. Não comungam com o mundo de seus parceiros de caminhada do processo do conhecimento, até porque eles mesmos não caminham e não constroem parcerias com os educandos, a quem fazem todos seus amestrados. Afirmam que não há amizade entre o distante e entronizado "professor" e os rebaixados e inferiores alunos - no sistema de relacionamento concebido por suas mentes elitistas e de direita - já que isso lhes gera muita insegurança ao não reconhecer humanidade em pessoas tão "inferiores", em cujos clientes buscam apenas o dinheiro em forma de salário miserável, retirado do que depositam no guichê da tesouraria de suas instituições patronais.
O processo de conhecimento nessa perspectiva "intelectual" é um desastre e um ode à mediocridade. O azedume e o contexto de opressão e de traição nas relações são altíssimos. Portanto, a direita é imprestável até quando é mola propulsora do conhecimento. Aliás, poucas instituições se salvam desse abismo. Enquanto o País avança e a realidade se move a apaixonantes desafios essas instituições e seus "intelectuais" regridem e escurecem nas trevas medievais.
Talvez até
inconscientemente o meu amigo do almoxarifado da Unisinos se sentia dolorido e
ressentido com os “intelectuais” que ele identificava como professores.
Contudo, na verdade, o que queria dizer que é essa gente é arrogante e
estúpida, pensando que carrega algum rei na barriga. Essa categoria não ajuda a
educação, a sociedade nem o País em nada. Tudo que quer são migalhas que sustentem suas
pobres e mesquinhas vidas. Não tem capacidade para trabalhar em favor do
conhecimento efetivamente libertador. Seu discurso é tão tosco quanto o de qualquer
direitista primitivo e arcaico.
Li em algum lugar que empregadas
domésticas e operárias das fábricas de Paris, que participavam de células de
bases do Partido Comunista Francês, só se davam conta de que alguns camaradas
seus eram doutores e catedráticos da Sorbonne quando os viam em notícias em
televisões, tal era a simplicidade das convivências entre doutos e
trabalhadores, ambos envolvidos na luta revolucionária, que assemelha e comunga. O grande filósofo
Jean-Paul Sartre quando era militante do PCF ia para ruas e subia em caixotes
para discursar tanto quanto os estudantes e trabalhadores franceses mais
humildes, sem arrogância e ar idiota de superioridade. Bem diferente do que fazem os “intelectuais” engomadinhos e
engravatados.
Mergulhar na realidade
e com ela encharca-se, como dizia Paulo Freire, é o grandioso ato na construção
do conhecimento, próprio dos autênticos intelectuais. Aí a alegria, a festa, os abraços e entusiasmos (Deus dentro em grego) são vibrações apaixonantes. Os intelectuais farsantes, ao contrário, substituem e
imaginam a realidade, fazendo-a constante capela mortuária onde matam e velam a vida, os verdadeiros intelectuais nela imergem para aprender
com ela e com os outros que fazem o mesmo, numa celebrante aliança de alegria libertadora. Conheço, felizmente, muitas pessoas assim, que navegam todos os dias nas águas do rio da vida, mesmo que das barrancas da necrofilia intelectualoide gritem que são erradas.
Nos campos
educacionais, políticos, das várias ciências e até da ciência da religião os
intelectuais narizes empinados são enormes prejuízos. Fazem o
discurso surrado e contra mão da história, sobre o tal de marcado. Embretam-se
na asquerosa direita, sempre atrasada e perversa, às vezes até se afirmando
democráticos e de esquerda. Quanta ignorância. Esquecem o velho princípio adotado pelo Evangelho: "pelos seus frutos os conhecereis".
Os falsos intelectuais
se pensam dotados de conhecimento. Os autênticos intelectuais se pensam em
permanente busca do conhecimento. Nisso são sábios.
Os falsos intelectuais
fogem da solidariedade com o povo e na luta pelo povo. Refugiam-se
traiçoeiramente nas redomas das minorias ignorantes e abastadas. Os verdadeiros
intelectuais buscam a comunhão da maioria, que é sábia em sua dinâmica busca da
vida.
Vejo-te, amiga Ariana,
como uma intelectual nos caminhos da sabedoria. Por isso gostas de conversar e
de escutar as pessoas. Navegas nas correntes das águas do rio da vida. Teu álbum de fotos no Facebook é bem demonstrativo dessa
verdade. Obrigado por tua amizade.
Abraços críticos e
fraternos na luta pela justiça e pela paz.
Dom Orvandl: bispo
cabano, farrapo e republicano.
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